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Faces da arte contemporânea em exposição em Zurique

Mira Schendel, sem título, 1965

Começa hoje, em Zurique, a segunda etapa da exposição Face to Face, que coloca frente a frente obras de artistas latino-americanos e de seus contemporâneos europeus e norte-americanos.

O evento reúne, pela primeira vez, peças das coleções Daros e Daros-Latinamerica, proporcionando ao visitante uma jornada única.

A exposição Face to Face II é composta por mais de 40 trabalhos de 19 artistas. A diversidade de técnicas e materiais é ampla. As obras datam da segunda metade do século 20 e foram adquiridas nos últimos anos pela Daros e Daros-Latinamerica.

Os brasileiros participam em peso da mostra. São eles Waltercio Caldas, Lygia Clark, Antonio Dias, Vik Muniz e Hélio Oiticica. A exposição conta também com obras dos venezuelanos Carlos Cruz-Diez e Jesus Rafael Soto, dos argentinos Guillermo Kuitca e Julio Le Parc e do uruguaio Nelson Ramos.

Do outro lado, representando a chamada “arte ocidental”, estão nomes de peso como Sol LeWitt, Mira Schendel, Cy Twombly, Dan Flavin e Richard Serra, já conhecidos do público europeu. “Ao confrontar esses dois grupos de artistas, nossa idéia não é estabelecer interpretações ou dizer quem teve tal idéia primeiro ou quem chegou depois, mas abrir espaço para o diálogo”, diz o curador Hans-Michael Herzog.

A mostra, segundo os organizadores, tende a valorizar o que as obras têm em comum e não o que as separa. Ao mesmo tempo, reconhecendo e promovendo as respectivas histórias e culturas ali presentes. Seqüências lúdicas de obras estão agrupadas sob diversos temas e estimulam, assim, os sentidos e percepção do visitante.

Face to Face estimula não só a imaginação, mas convida à interatividade. Em muitos casos é possível “entrar” nos ambientes e, dessa forma, quase que fazer parte do processo de criação. “São espaços lúdicos”, diz o curador Herzog. Elas ainda trazem elementos de ironia, crítica e bom humor. As interpretações, é claro, estão abertas e à cargo de quem visita.

Arte brasileira

O artista plástico carioca Waltercio Caldas, 62 anos, participa da exposição com três obras. Sua proposta não é criar esculturas ou quadros, mas, sim, espaços que estejam em harmonia com o ambiente e proporcionem interação direta com o espectador. “O espaço é usado como elemento óptico. A obra é o espaço”, explica o artista.

Apesar da forte presença brasileira na exposição, Caldas acredita que ainda há muito espaço para o crescimento e reconhecimento da arte brasileira no mercado internacional. “O Brasil ainda não compreendeu o valor de seus artistas. No país, falta informação constante, falta investimento”, diz. Não é à toa que os acervos mais significativos de arte latino-americana estão sendo montados atualmente por colecionadores estrangeiros.

“No Brasil, as pessoas esquecem facilmente das exposições realizadas. Não há uma memória em relação ao artista. Já em vários outros países da Europa, por exemplo, existe uma memória. As pessoas lembram das exposições feita há 10 anos, fazem conexões e se interessam em manter essa rede de informações sobre o artista”, explica Caldas.

Mas apesar das dificuldades, o fato é que cada vez mais artistas brasileiros têm sido reconhecidos e competem de igual pra igual no mercado internacional. A participação na exposição Face to Face é um bom exemplo desse prestígio e reconhecimento.


swissinfo, Dalen Jacomino

Ficha Técnica

Exposição: Face to Face
Local: Daros Exhibitions
Limmatstrasse 268
8005 Zurique

Data: De 14 de Março a 7 de Setembro, 2008

Funcionamento: De quinta-feira a domingo, das 12:00 às 18:00
Visitas guiadas: Toda quinta-feira, às 17:00
Para visita de grupos, telefone: +41 44 447 7070

O acervo da Daros tem origem na coleção de arte iniciada por Stephan Schmidheiny, membro de uma proeminente família suíça, há mais de duas décadas. No início dos anos 90, aquisições feitas por seu irmão, Alexander, em colaboração com o curador Thomas Ammann, foram adicionadas à coleção de Stephan. Hoje quem administra todo o acervo e o espaço de exibições é a Daros Services AG, criada em 1995 especialmente para isso.

A coleção Daros reúne cerca de 300 obras de 30 artistas norte-americanos e europeus. São trabalhos produzidos na segunda metade do século 20, que representam diversas tendências como o a pop art e o minimalismo. Além disso, o acervo conta com obras de artistas renomados como Eva Hesse, Bruce Nauman e Sigmar Polke.

Daros-Latinamerica

Trata-se de uma das maiores coleções de arte latino-americana contemporânea na Europa. Além da formação de um acervo representativo, o objetivo da Daros-Latinamerica é contribuir para a maior compreensão da arte latino-americana hoje.

O acervo reúne quase 1000 trabalhos de aproximadamente 100 artistas. São esculturas, desenhos, pinturas, fotografias, vídeos, instalações, entre outros. A maior parte da coleção data dos últimos 20 anos, mas há também trabalhos representativos dos anos 60 e 70

A Daros-Latinamerica deve inaugurar ainda este ano a Casa Daros, na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro. A instituição comprou há alguns meses um imóvel do século 19, que abrigou no passado um orfanato, para criar seu centro de apoio à arte na América Latina.

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha é o responsável pela reforma da casa, que tem 10 mil metros quadrados. Além de exposições, a Casa Daros terá espaços para eventos e abrigará uma série de programas educativos.

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