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Imigrantes da modernidade

Monica Zoss e o marido Márcio. ielusc.br

Uma migrante moderna. Esse é o perfil da brasileira Monica Zoss, filha de suíços e joinvilense de coração.

Leia aqui mais uma história do especial realizado pelos estudantes de jornalismo da IELUSC sobre a colônia suíça de Joinville.

Diferentemente da maioria das famílias de origem européia que se instalaram na cidade, ela chegou no século XX, vinda do Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criada pelo pai, Walter Zoss. Ele é o legítimo suíço da família e fez questão de escrever uma carta à reportagem com informações sobre a vida no Brasil.

Nos fundos da revistaria, rodeada por prateleiras abarrotadas de livros e revistas, Monica Zoss, 51 anos, narrou a história do pai e falou sobre a experiência de morar na Suíça. Carioca e dona de três revistarias, ela demonstra a intensidade que herdou de Walter ao falar sobre tudo o que já vivenciou. “Pela internet meu pai mandou várias fotos de quando estava na Suíça, incluindo uma do meu avô ao lado de uma placa de rua com o nosso nome, Zoss”, disse Monica.

Walter Paul Zoss nasceu em Winterhur no Cantão de Zürich em 11 de fevereiro de 1932. Após os estudos, prestou serviço militar durante 16 semanas em 1952. Em seguida, conseguiu um estágio numa empresa de transporte internacional, em Londres. Em 4 de dezembro do mesmo ano, Walter interrompeu bruscamente a estadia e voltou de avião para a Suíça: a mãe havia falecido.

O pai, Ernst Zoss, e a mãe, Louise Radermacher Zoss, nasceram em 1891, ele em Bolligen e ela na Basileia. Além de Walter, tiveram outra filha, Marlise, nascida em 1924. A irmã casou com o arquiteto Hans Ingold, de Interlaken. Eles moraram um tempo em Paris, voltando para Suíça, em Kloten, Cantão de Zürich e depois Interlakien. Eles tiveram 4 filhos, que ainda moram na Suíça.

Em 1952, Walter assinou um contrato de quatro anos com uma multinacional em Winterthur, para representação no Rio de Janeiro. Em 13 de abril de 1953, a bordo do navio Augustus, desembarcou em terras brasileiras.

O contrato foi renovado várias vezes e ele estendeu a vida no Brasil. “Em 29 de dezembro de 1956, casei com a sergipana Maria Helena Firpo. Tivemos três filhos: Walter Paulo, Mônica e Michèle”, contou Walter, em carta. O filho mais velho mora no Rio de Janeiro, é jornalista do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e é o atual presidente da Escola Suíço-Brasileira no Rio. Walter Paulo  por ser o único filho homem, guarda em casa o brasão da família.

Monica conta que o irmão ficou 15 anos na Suíça. Lá, estudou história e política. No Brasil, se formou em jornalismo. Michèle é a mais nova, mora em Horgen, no Cantão de Zürich, e há mais de 20 anos dá aulas de Yoga. “Ela não pretende viver de novo no Brasil, parece que virou Suíça”, disse Walter. Mônica é formada em letras-alemão na Universidade Federal do Rio de Janeiro, morou dez anos na Suíça, voltou para o Brasil e se casou com o joinvilense Márcio. Mudou-se para a cidade do marido e, juntos, abriram três revistarias.

Permanência no Brasil

Em 1986, depois de mais de trinta anos de trabalho, Walter pediu demissão e fundou a Flims Travel Agência de Viagem. “Após nove anos de funcionamento, fechei a agência. Fui assaltado duas vezes e isso gerou muito prejuízo e grandes aborrecimentos”, lamenta Walter. Logo depois ele se aposentou e fez algumas traduções de alemão e inglês para uma empresa no Rio, onde Mônica trabalhava até mudar-se para Joinville.

Com diabetes e outros problemas de saúde, a esposa de Walter, Maria Helena morreu em agosto de 1987. Treze anos depois, no auge dos seus 68 anos, ele conheceu a professora universitária aposentada Maria Margarida de Andrade pela internet. Em um congresso na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, tiveram o primeiro encontro. Ela é de São Paulo e durante meses seguidos os dois namoraram pela internet. Em algumas ocasiões, Walter foi visitá-la. Seis meses depois, casaram-se. Walter se mudou para São Paulo.

Segundo Monica, ela e os irmãos, a princípio, ficaram em estado de choque. Mas Walter disse que logo faria 70 anos e não tinha tempo a perder. Durante a cerimônia do casamento, no momento em que o padre falava sobre filhos, Walter brincou: essa parte a gente pula, contou a filha. “Em abril de 2001, mudei de vez para São Paulo. Estou morando com ela até hoje e estou muito feliz. De vez em quando curtimos a aposentadoria: viajamos de navio para a Suíça”, disse Walter.

Temporada na Suíça

De 1979 a 1990, Monica morou na Suíça. “Lá, a cabeça do pessoal é outra: todo mundo mora praticamente junto. Você conhece um cara, namora e vai viver junto e continua chamando ‘freund’, amigo em alemão. Se você se casar, para ter filhos, a mulher para de trabalhar porque o imposto de renda é muito alto”. Segundo ela, na época em que morou lá, havia uma campanha que pedia para as pessoas gerarem filhos.

Aos 31 anos, Monica casou com Márcio. Ele é arquiteto, morou em Brasília, São Paulo e no Rio de Janeiro, onde se conheceram. Em 2006 vieram para Joinville. Foram adquirindo aos poucos as revistarias e hoje trabalham só com isso. “Ele adorava o Rio e eu adorava Joinville e a família inteira do Márcio é de Santa Catarina então viemos para cá. Não troco Joinville pelo Rio de Janeiro, aqui é mais calmo”, revela Monica.

O casal não teve filhos. Chegaram a cogitar a adoção, mas se mudaram para Joinville, abriram a empresa e, quando Monica, percebeu, já estava 50 anos. O único herdeiro dos Zoss, portanto, é Bruno, de 15 anos, filho de Walter Paulo. “Apesar de ter me naturalizado brasileiro, em 1985, conservei as raízes suíças e transmiti aos meus descendentes o conhecimento e o amor pelas coisas suíças”, declarou Walter Paul Zoss.

O número de suíços do estrangeiro aumentou nos últimos anos. No final de 2010, 695.101 cidadãos helvéticos estavam registrados nas representações diplomáticas da Suíça no exterior, 1,5% a mais do que no ano anterior.
 
A primeira colônia suíça no Brasil foi estabelecida em Nova Friburgo entre 1818 e 1819. A maior onde de imigração ocorreu entre os anos 1846 e 1920.
  
Em 2010, as exportações da Suíça ao Brasil totalizaram 2,31 bilhões de francos. As importações somaram 849 milhões. O Brasil é o principal parceiro econômico da Suíça na América Latina.
 
No final de 2009, o estoque de investimentos suíços no Brasil era de 12,8 bilhões de francos.
 
O número de pessoas ocupadas por empresas suíças no país era de 105.900 (2009).
 
Número de cidadãos suíços no Brasil: 14.794. Brasileiros na Suíça: 17.455 (2010)
 
Fontes: Secretaria de Estado para Economia (Seco)

Fundada em 1916, a Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE) representa na Suíça os interesses dos compatriotas expatriados. Ela é reconhecida pelas autoridades como a porta-voz da chamada 5a. Suíça.
 
O Conselho dos Suíços do Estrangeiro (CSE) é considerado como o parlamento da 5a. Suíça. Ele se reúne duas vezes por ano – na primavera e durante o congresso anual dos suíços do estrangeiro

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