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Basil da Cunha, com cinema nas veias

Basil da Cunha na Reboleira, bairro dos subúrbios de Lisboa Luís Guita

Em três anos, Basil da Cunha conquistou três presenças consecutivas em Cannes. 2013 é o ano de “Até ver a luz”, a sua primeira longa metragem, e o jovem realizador pode comemorar o fato de ter sido selecionado para fazer a estreia mundial na Quinzena dos Realizadores do mais prestigiado festival de cinema que acontece na Europa.

Dono de um cinema pujante e radical, onde as margens da sociedade são tema, o diretor luso-suíço já tinha marcado presença na Croisette, em 2011 e 2012, com as curtas-metragens “Nuvem” e “Os vivos também choram”, filme com o qual recebeu uma Menção Especial do Júri.

Agora, com “Até ver a luz”, Basil da Cunha continua a explorar o filão das temáticas sociais. Num retrato ficcionado da sociedade contemporânea, inserido num universo realista, Basil revela a sua sensibilidade ao conseguir combinar elementos rudes e poéticos, e o seu talento na direção de atores ao trabalhar com atores não profissionais.  

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O risco do improviso como processo de trabalho

Foi na Reboleira, bairro dos subúrbios de Lisboa, que swissinfo.ch falou com o realizador que há seis anos deixou a Suíça para se instalar em Portugal. No bairro, Basil levou-nos até à zona de construção clandestina, que é também plateau dos seus filmes, para nos começar por explicar que o seu processo de trabalho “é como o Jazz. É um improviso, mais ou menos controlado.” E acrescenta: “A origem da nossa maneira de trabalhar é o estar sempre em risco e a realidade ser sempre mais forte do que o cinema.”

Com uso recorrente à 1ª pessoa do plural, “porque é um trabalho de colaboração,” Basil apresenta o espaço de rodagem como um espaço de liberdade cuja grande riqueza é o fato de cada um poder integrar o processo de criação.

“Temos um guião, que nunca levamos para a rodagem. Trabalhamos só com intenções. Ou seja, eles não leem. O meu trabalho é estruturar, constantemente, dar novas intenções aos atores.”

Um método de trabalho, com riscos, que Basil da Cunha foi desenvolvendo e consolidando ao longo de seis anos com um grupo de atores não profissionais que, agora, “já ajudam na encenação.”

 Sobre a opção de não trabalhar com atores profissionais,  o realizador lembra que, de cada vez que o tentou fazer, “foi sempre uma desilusão. Tanto para ele como para mim. Os meus rapazes têm um talento tão grande no improviso que é dramático um ator entrar e trabalhar com a gente.” E reforça: “Os atores que entraram neste filme, são os melhores para aquele papel. Não há nenhum ator que lhes pode tirar o lugar, nem o Brad Pitt, nem o Robert De Niro.” 

Basil da Cunha nasceu a 19 de Julho 1985. Realiza 3 curtas auto-produzidas, e torna-se membro da associação Thera Production que produze La Loi du Talion, em 2008. A partir daí, segue uma formação em cinema na Escola de Artes e Design de Genebra, no âmbito da qual realiza A Côté (nomeado para o Prémio do Cinema Suiço em 2010, Prémio do Melhor Filme Nacional em Vila do Conde 2010). Trabalha actualmente com O Som e a Fúria (Lisboa) e Box Productions (Renens) para o seu próximo filme.

OS VIVOS TAMBÉM CHORAM [2012]

 NUVEM [2011]

A CÔTÉ [2009]

LA LOI DU TALION [2008]

LE MUR [2007]

Fonte: O Som e a Fúria

O sucesso de hoje como investimento no amanhã

Numa produção cinematográfica reforçada por vasos comunicantes, “Até ver a luz” é a natural continuação daquilo que o realizador de 28 anos concretizou até o momento, tanto no método de trabalho como nas temáticas: “Há uma ligação forte entre os diferentes filmes. É a solidão, a marginalidade, o perseguir um sonho. E este filme não foge a isso. ”Aqui, a personagem principal é um rapaz que sai da prisão e é envolvido numa série de problemas. “É um marginal, dentro da marginalidade do bairro, que vai ser julgado, não por aquilo que fez mas por aquilo que é.”

Sobre o próximo filme, o antigo aluno e agora professor no Departamento de Cinema da Universidade de Arte e Design de Genebra (HEAD), revela que este já está a ser escrito e que será um road-movie entre Lisboa e o norte de Portugal. Porque “gosto de filmar as pessoas que amo” e porque “está criado um grupo que funciona”, parte da equipa de atores de “Até ver a luz” vai contar a história de “três rapazes da zona (Reboleira) que vão ter de fugir, e, então, raptam um condutor de um camião do circo. Vamos ter três rapazes da zona a viajar por Portugal com um leão, uma zebra e um tigre.”

Quanto à visibilidade que o Festival de Cinema de Cannes lhe tem atribuído, Basil da Cunha prefere deixar o brilho individual para segundo plano e aproveitar o sucesso conseguido para promover o filme. E, já agora, “porque esta longa foi feita com o dinheiro de uma curta”, conseguir bons apoios para fazer o próximo filme.

“O que eu vejo é que esse filme vai poder existir, o que não é fácil para um filme. Não é só fazer um filme, é depois ele ser visto. Para ele ser visto precisamos desses festivais, desses grandes festivais que existem. Já que não fazemos produtos comerciais para fazer dinheiro, não estamos no circuito comercial do produto, estamos a fazer obras de arte, difíceis, radicais, temos de ter o apoio desses festivais, que dão credibilidade ao nosso trabalho. E daí este festival ser muito importante. Porque permite distribuir o filme em vários países. Porque permite as pessoas acreditarem e respeitarem o nosso trabalho. Já que ele é marginal, precisa dessa vertente desses festivais.”

– Na Suíça estreia a 29 de Maio

– Em Portugal estreia a 22 de Agosto. 

De:

Basil da Cunha

Com:

Pedro Ferreira
Joao Veiga
Nelson da Cruz Duarte Rodrigues
Paulo Ribeiro
Francisco Mota
Ruben Dias
Pedro Diniz

Produção:

Box Productions

Lisboa

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