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“Saímos da casa e a pouco e pouco, abrem-se as janelas sobre o mundo”

Cuidar dos arquivos de Voltaire, um dos mais significativos representantes do iluminismo francês, em Genebra. Essa é a função do português Flávio Borda D’Água. swissinfo.ch foi entrevista-lo nos seus arquivos. 

O nosso entrevistado quando olha, retrospectivamente, para a sua adaptação em Genebra, relembra que “foi fácil porque teve (…) uma imersão completa através dos amigos dos pais” todos suíços e francófonos. 

A história esteve sempre presente na sua vida: primeiro através da saga familiar, a de Portugal e depois navegou pela história do mundo. Em virtude dessa curiosidade, fez um mestrado sobre a ocupação de Timor-Leste durante a segunda guerra mundial, publicado em 2005.

Flávio Borda D’Água nasceu na Azambuja, próximo de Lisboa, e chegou a Genebra em, 1989, aos nove anos, para se juntar à irmã e aos seus pais. Atualmente é o curador-adjunto no Museu Voltaire da Biblioteca de GenebraLink externo e arquivista nos Arquivos do Estado de GenebraLink externo. Flávio é doutorando em História Moderna na Universidade de GenebraLink externo com um projeto intitulado “Esquadrilhar a cidade: normas e práticas policiais em Lisboa no período do Iluminismo (1750-1805)”. 

Para o doutorado, Flávio Borda D’Água decidiu analisar a implementação de uma nova polícia em Lisboa após o terremoto de 1755, em meio às influências do Iluminismo francês.

A polícia do antigo regime tinha a função de organização o espaço urbano, que compreendia “tabela de preços nos mercados, população no porto de Lisboa, controle do pescado, colocar navios de quarentena, (…), incêndios e segurança pública”, entre outras funções urbanas. “O liberalismo nos permite em Portugal ter uma ruptura com o antigo regime e passar ao Portugal moderno”. 

Borda D’Água chegou ao Museu Voltaire em 2005 para colaborar numa exposição dedicada ao terramoto de 1755, em Lisboa. Em 2006 regressou e permanece na instituição até hoje.

Por esse motivo, a sua tese parte “do poema de Voltaire sobre o desastre de Lisboa e (…) desenvolvo uma abordagem ao governo urbano (polícia) e quais foram as influências que Portugal teve (no contexto europeu da época) e os impulsos que deu também na definição do papel da polícia. E é aí que finalmente entra o iluminismo,” 

No Museu Voltaire, Flávio tem um imenso acervo para gerir, divulgar e preservar. “O espólio é composto atualmente por cerca de 30 mil livros, 800 peças iconográficas e mobiliárias, praticamente 28 mil manuscritos, e uma totalidade de 140 periódicos antigos e modernos”. Realiza habitualmente visitas guiadas a estudantes e facilita o acesso de investigadores a documentos armazenados na coleção. 

Para além do seu trabalho enquanto historiador e arquivista, Borda D’Água é deputado pelo Partido Liberal Radical na assembleia municipal de Chêne-Bougeries. Atualmente encontra-se em final de mandato, mas partilha que a experiência foi muito gratificante, “dá-nos também meios necessários para falar com a população”, e acrescenta, “adoro debater ideias. E numa assembleia municipal pode-se ter imensos debates, mas depois vamos todos beber um copo”. 

Para além da política, Flávio Borda D’Água é membro de diversas associações. Entre elas a Sociedade de História e Arqueologia de GenebraLink externo, Sociedade Suíça de História, ICOM Suíça. Em Portugal ingressou recentemente na Academia das Letras e das Artes de Portugal. Flávio destaca ainda o seu envolvimento na UNICEFLink externo na Suíça, na divulgação e sensibilização dos direitos das crianças.

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