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Forte presença suíça no salão do móvel e do design de Milão

Taças de café, de Fernandes Henrique da Silva, para Nespresso. Federico Berardi

Os suíços renovam a tradição para criar objetos de luxo. A nova geração de designers abre espaço no mercado competitivo apostando nas suas raízes, equilibrando e envernizando a cultura do passado com materiais do futuro, como uma espécie de cimento “elástico” usado em armações de mesa.

O Salão do Móvel de Milão é a vitrine ideal para mostrar ao mundo que os suíços sabem de onde vieram, onde estão e para onde vão.

Durante seis dias, e para um público flutuante de cerca de 400 mil pessoas – designers, jornalistas, industriais e comerciantes – os desenhistas de objetos claros e obscuros do desejo dos consumidores revelaram o trabalho de um ano inteiro. E o tom dos produtos foi o da criatividade e da funcionalidade. Estas duas qualidade servem de fio condutor entre as dezenas de peças “made in Switzerland”, mostradas pela primeira vez. Veja o vídeo na coluna da direita.

“Temos cerca de 500 alunos, formamos a nova geração de designers nas nossas escolas. Temos empresas de grandes marcas e elas refletem a alta qualidade que temos de ter no mercado. O objetivo é fazer produtos belos, necessários e que durem para sempre”, afirma para à swissinfo, o diretor artístico da mostra, Antoine Vauthey.

A Suíça traz como cartão de visita uma turma de formandos da ECAL, Escola de Arte e Design de Lausanne, oeste da Suíça. Os projetos foram exibidos em dois espaços distintos e distantes entre si: a sede do Instituto Cultural Suíço, no centro de Milão, e dentro de um velho prédio, com pátio interno, perto de Porta Genova, antigo bairro, além de Lambrate, na periferia da cidade. Assim, ao invés de concentrar tudo num único ambiente, os suíços espalharam-se, ocupando diversos “cantões” da capital do design.

Artesanato e indústria

Um concerto musical preenche o vazio da sala do Instituto Cultural Suíço. Quatro caixinhas musicais, peças fortes do design suíço antes mesmo do nascimento do conceito universal de desenho industrial, emitem as melodias que acalmam os nervos e encantam os olhos. Elas são o resultado concreto e musical de um workshop com mestres internacionais do design, entre eles os irmãos Campana, Fernando e Humberto, dois brasileiros de São Paulo.

A ideia de base é a contaminação de estilos e matérias primas. As caixinhas musicais revelam o mecanismo suíço, camuflado numa “embalagem” cosmopolita, original e reciclável. A canção internacional, americana ou italiana, embala o sonho de uma globalização atenta aos valores regionais, locais da história de cada objeto. O design suíço acolhe as influências estrangeiras, absorve a essência e dispensa o excesso.

Das pranchetas dos estudantes para a linha de produção, esta é uma passagem carimbada pelo talento do jovem designer, pela viabilidade da ideia e pelo desejo de colocar no mercado uma peça que seja útil e, principalmente, durável para o consumidor. E mesmo em tempos de crise, a Suíça pensa em agregar valores aos produtos sem abrir mão da qualidade exemplar.

“Nossos alunos quando saem da escola sabem e podem trabalhar no que existe de melhor no mercado. Eles encontram no curso designers técnicos, outros mais básicos ou ligados ao setor moveleiro. Eles ficam em contato com os criadores e isso é uma vantagem pois trabalhamos em diferentes linhas”, explica à swissinfo Pierre Keller, diretor da ECAL.

O artesanato de alto nível e a indústria de ponta falam a mesma língua, ou seja: inovar, sempre. Não por acaso, os produtos da ECAL são realizados com o apoio incondicional de empresas do setor. Tag Aviation, Audemars Piguet, Hublot, Nespresso, Wenger e Chitofle participam deste laboratório de grandes ideias e ideais. E dos fornos da escola saem canivetes suíços modernizados, baldes de champanhe em tiras de prata, gaivotas de papel em fibra de carbono, joias de prata com desenhos que homenageiam os relógios, jogo de café com xícaras embutidas em cubos.

No setor moveleiro os suíços não deixam a desejar. Dentro do velho prédio, às portas da antiga ferrovia de Porta Genova, os estudantes da ECAL soltam a imaginação. Estantes com múltiplas formas e cores, cadeiras com pés pantográficos e mesa com estrutura em cimento plastificado – capaz de deformar-se e permitir a alteração de altura da bancada – são alguns exemplos.

“Acho que o design tem que se preocupar com o valor do produto, mas penso que a alta qualidade vai sempre encontrar um comprador, qualquer que seja o preço; ele quer algo belo e que dure para sempre”, explica o diretor artístico da mostra, Antoine Vauthey.

Salão Satélite

O futuro do design suíço aparece com força maior no Salão Satélite, na feira de Rho. Quatro estúdios de design foram selecionados para esta espécie de antessala do grande salão. Com outros 700 designers dos quatro cantos do planeta eles disputam a atenção dos industriais em busca de novidades.

O espaço dedicado a esta exposição foi divido em cinco praças, cada uma representando a América, a Europa, a Oceania, a Ásia e a África. O continente negro ganhou o projeto de Charles O. Job, arquiteto, urbanista e designer, nascido em Lagos, na Nigéria, mas radicado em Zurique. Ele criou um recinto com o pavimento em cortiça para abafar o som dos passos . E coberturas coloridas protegem os visitantes como faziam as sombras da velha árvore baobab. Eis de novo as raízes indicando o futuro.

O amanhã do design industrial suíço ilumina-se com as lâmpadas em fibra de carbono – com espessura de um milímetro – de Delfphine Frey, de Lausanne, também selecionada pelo projeto da ECAL. Ele ainda passa pelo projeto de interação entre diferentes objetos como os vasos de planta do estúdio Cosentino&Spanio, de Berna, capazes de mudar de forma de acordo com os diferentes pontos de vista ou o abajur em madeira em forma de flor que se apaga ao deformar uma das pétalas.

O acúmulo de bagagem cultural e os estudos na Suíça fazem do francês Luc Swen e dos mexicanos Jacobo Munoz e Laura Noriega, do estúdio Luc Swen& Jacobo Munoz, de Genebra, legítimos faróis do design helvético.

Um bercinho em fibra de carbonio no lugar das tranças de junco e um conjunto de facas em aço inoxidável tornam futurísticos antigos objetos de artesanato. O mesmo percurso fez a austríaca Antoinette Bader. Entre Viena e Zurique nasceu a poltrona Gomo Triangular. A forma final do produto, altamente mutável, é fruto do manuseio dos elementos rígidos e flexíveis, graças a estrutura em bolinhas de poliesterol.

O grupo Postfossil sabe que a união faz a força. Florian Hauswirht, Claudia Heiniger, Christine Birkhoven, Anna Blattert, Thomas Walde e Daniel Gafner, apresentam dez objetos que vão de cadeiras a estantes, passando por bancos e mesas.

Outro grupo que sabe inovar é o atelier Oi, escolhido para apresentar algumas peças na mostra 13.798 gramas de design, em Lambrate, bairro da periferia de Milão. Ele criou um banco e um balanço com cordas que parecem mais leves que ar, tal como estão suspensas no vazio. São verdadeiras esculturas, no limite entre a arte e design industrial.

Já a designer Emanuelle Trenitini, com uma passagem pelo Salão Satélite no ano passado, expõe no hotel NHow, uma instalação no chão de um dos halls de entrada. E a Casa Pierre Mantoux aproveita a cidade efervescente com a semana do Design para abrir uma loja no centro de Milão. A inauguração é iluminada pela Tensor Voting, uma lâmpada-escultura capaz de brilhar ainda mais a criatividade suíça.

Guilherme Aquino, Milão, swissinfo.ch

A edição de número 49 do Salão Internacional do Móvel ocorreu entre os dias 14 e 19 de abril.

Foram 2.500 expositores,
10 mil produtos em 209.000 metros quadrados de espaço.

O Salão Satélite conta com um total de 700 designers (todos com menos de 35 anos), incluindo estudantes de 25 escolas internacionais de design.

Cerca de 400 mil pessoas visitaram o Salão, sendo 54% do sexo feminino e 74% de estrangeiros de 55 países diferentes.

Os eventos espalhados pela cidade chegaram a quase 500, nas mostras metropolitanas, na área de Zona Tortona os visitantes somaram 200 mil, 10% acima do ano passado.

O volume de negócios foi estimado em 10 milhões de euros.

Móveis low cost, design slow, tendências, preços baixos e bens duráveis no tempo.

Os ambientes preferidos dentro de uma casa são, por ordem: sala em primeiro lugar e cozinha em segundo.

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