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Novo ministro é um enigma

A imprensa suíça espera que o novo Conselheiro Federal traga um apaziguamento à política suíça. Keystone

A imprensa de língua francesa da Suíça parece dividida após a entrada de Guy Parmelin no Conselho Federal, "competente" e "confiável" para alguns, "banal" ou "inflexível" para outros. Mas a cautela ainda é necessária e vários jornais estão esperando para ver, antes de julgar. Por sua vez, a imprensa do lado suíço-alemão espera que o controverso partido SVP se encaixe em um compromisso.

Guy Parmelin é “uma escolha padrão, mas mesmo assim é uma escolha”, diz o “La Côte”, um dos jornais do cantão do novo Conselheiro Federal. “Seu lado reconfortante e ‘frequentável’, pelo menos para a esquerda, seu bom senso agrário e suas raízes no cantão foram argumentos decisivos para a sua eleição”, diz ainda o jornal, que comemora o fato do cantão de Vaud (oeste) e a região que beira o Lago Leman ter ganho um defensor dos seus interesses econômicos no governo do país.

O mesmo vale para o “24 Heures”, que recorda que há 17 anos nenhum representante do maior cantão de língua francesa serve no Conselho Federal. “Reduzir a eleição de Parmelin a um simples azar das circunstâncias seria uma injustiça grosseira”, diz o diário, que não poupa elogios: “o homem é competente, inteligente, dotado de um senso político e uma carga humana que fazem dele um interlocutor sólido, confiável e refletido.”

Para o maior jornal da região, o Partido do Povo Suíço (SVP) foi “apanhado em seu próprio jogo”, tentando “forçar a escolha” de Thomas Aeschi, candidato da ala radical do partido. “Com Guy Parmelin, estamos longe das diatribes e das posições radicais de Christoph Blocher”, dizem os jornais “L’Express/Imparcial”. O novo eleito tem “tons, circularidade e uma maneira de defender suas ideias que são bons auspícios para a coesão do governo”.

Os dois jornais do cantão de Neuchâtel, no entanto, temem que Parmelin seja considerado um “meio-conselheiro federal”. Isso permitiria que “os seguidores de Christoph Blocher continuassem seu jogo favorito: estar ao mesmo tempo na oposição e no governo”.

Já o “Agefi” diz que, apesar de seu “ar pastoril”, o valdense se engaja há 12 anos no nível federal. De acordo com o jornal econômico, Parmelin deve sua eleição mais a sua experiência como presidente da Comissão de Segurança Social e Saúde do que a dita maleabilidade do seu caráter.

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Inflexível

“A escolha da Assembleia Federal expressa o compromisso das forças políticas com a concordância aritmética”, analisa o “Le Quotidien Jurassien”. “É preciso ler aí uma vontade de permitir que as autoridades federais trabalhem em um ambiente de paz”, diz o jornal.

“Guy Parmelin continua sendo um representante do SVP, fiel ao programa do seu partido.” O “Le Courrier” se preocupa, sobretudo, com o equilíbrio de poder no governo federal: “com dois SVP e dois PLR (Partido Liberal Radical) concordando em um número crescente de assuntos, que margem vai sobrar aos dois socialistas neste colegiado?”, questiona o jornal de esquerda de Genebra.

Outro jornal da cidade internacional, o “La Tribune de Genève” afirma que “o agricultor da região La Côte não é um visionário capaz de mover montanhas”, mas um eleito “inflexível no essencial do seu partido”. O jornal prevê uma mudança da chefia do Ministério da Justiça e Polícia (DFJP): “uma mudança drástica de regime na segurança e na imigração, em particular.”

O “La Liberté” vê, por outro lado, Parmelin ocupando o Ministério do Interior (DFI), desde que Alain Berset concorde em liberá-lo. Segundo o jornal do cantão de Friburgo, o novo ministro “será julgado em função de sua independência de espírito com relação ao seu partido, que não vai parar seu jogo duplo entre governo e oposição”.

O enigma Parmelin

Para o jornal “Le Temps”, o novo Conselheiro Federal permanece basicamente um enigma. “Ninguém sabe se ele tem capacidade de gerir, se a competência dele vai além da previdência social”, diz. “A política suíça tem essa magia de permitir que pessoas relativamente banais alcancem o poder.”

Um raciocínio semelhante de outro jornal da Suíça de língua francesa, o “Le Matin”: “na Suíça, o sistema de consenso partidário impede a eleição de um candidato que voe alto.”

Para o “Le Nouvelliste”, do cantão do Valais, grande produtor de vinhos. “O enólogo de Bursins (o vilarejo de Parmelin) é um homem da terra que calça bem suas botas, mas ninguém sabe ainda o tamanho delas”.

Candidato “menos pior por falta de melhor” para alguns políticos de esquerda, Guy Parmelin risca “ter que testar rapidamente sua capacidade de resistir às pressões do seu próprio partido para mostrar que ele tem o porte da sua nova função”, escreve o “Journal du Jura”.

Apresentar soluções

Após a eleição de Guy Parmelin e a atribuição de um segundo assento para o SVP, a imprensa do lado de língua alemã da Suíça pede que o partido mude sua postura com relação ao governo.

“Muitos riem de Guy Parmelin e o consideram medíocre, sem inspiração e chato”, diz o “Der Bund”. “Mas talvez ele entrará um dia nos livros de história por ter sido um conselheiro federal que contribuiu para o apaziguamento da política suíça” e provocou um renascimento do SVP, “que voltou a ser mais moderado e flexível”.

Tudo depende, segundo o jornal de Berna, da atitude do partido, que pode perder rapidamente este segundo assento no governo em caso de fracasso. “O SVP é obrigado agora a apresentar soluções, fazer acordos e alcançar maiorias”, concorda o “Berner Zeitung”, outro jornal da capital do país. “Coisa que o partido acabou desaprendendo nos últimos anos.”

O SVP colheu o que estava procurando há muito tempo e agora tem o poder de desiludir aqueles que estão preocupados com sua radicalização, diz o “Tages Anzeiger”. Para o diário de Zurique, a legenda deve participar dos projetos existentes absolutamente essenciais para a Suíça como uma força construtiva e não com o espírito de oposição.

O “Neue Zürcher Zeitung” considera o mesmo: “o choro incessante do SVP em cima dos outros partidos deve cessar agora”. Acabou a história de usar as armas da oposição, os plebiscitos e referendos.

O “Basler Zeitung” prevê “tempos exigentes pela frente” para o partido populista. Depois de sua vitória nas eleições legislativas de outubro e seu novo peso no governo, o partido terá “que suportar a responsabilidade de tudo que não funciona”, considera o jornal. “O SVP está agora no auge de seus riscos.”

swissinfo.ch com agências

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