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Um mergulho no Tarrafal com Stephan Haller

Stephan Haller com sua companheira nem uma paira de Tarrafal
Stephan Haller com sua companheira nem uma paira de Tarrafal swissinfo.ch

Nos anos 90 iniciava a sua carreira enquanto técnico de iluminação, tendo trabalhado em alguns teatros e com companhias de dança contemporânea. Nos últimos sete anos em que viveu na Suíça, desempenhou funções de diretor técnico no Museu de Arte de Solothurn. Há sete anos decidiu mudar-se para Cabo Verde e fixou-se na ilha de Santiago, no Tarrafal, e desenvolve atividades aquáticas. A swissinfo.ch encontrou-se com Stephan Haller na sua casa, onde partilhou conosco a sua experiência.

O contato com a sua profissão surgiu através da existência na Suíça de trabalho em pequenos teatros e da oportunidade de adquirir os conhecimentos técnicos através de outros profissionais. Stephan trabalhou com o Teatro Clack e no Teatro Coprinus, em Zurique. Após essas experiências começou a trabalhar por conta própria, especialmente para companhias de dança contemporânea porque esse meio lhe permitia fazer arquitetura de luz.

A certa altura abriram vagas abertas para exercer o cargo de diretor técnico no Museu de Arte de Solothurn e acabou por ocupar vaga. Na sua opinião, trabalhar em exposições é mais exigente do que em teatros porque alguns artistas não têm as ideias tão claras, “falta experiência para imaginar qual é o resultado, mas faz parte do trabalho”.

Em virtude de ser necessário andar de carro a transportar obras de arte e equipamento técnico, Stephan foi-se apercebendo que era cada vez mais estressante andar de carro no país, “se estás preso no trânsito falta-te um pouco a noção de liberdade. O Suíço gosta de liberdade!”.

As férias, a casa: O Tarrafal

Stephan nunca tinha conhecido cabo verdianos na Suíça. Decidiu ir de férias para o país porque lhe pareceu um país calmo para visitar. Quando chegou ao Tarrafal, na ilha de Santiago, sentiu uma atração imediata pelo local porque tem mar e montanha. O nosso entrevistado nasceu perto do lago de Hallwill e esteve sempre habituado a fazer atividades aquáticas. Por esse motivo, pareceu-lhe o lugar onde poderia começar um novo projeto, “eu gosto de aproveitar a vida; saí da Suíça com 42 anos. Nessa idade ainda há energia para fazer uma coisa de novo”.

Essa ideia ainda esteve cerca de dois anos a maturar até chegar o momento em que se despediu do Museu de Arte de Solothurn. Os pais ficaram um pouco tristes por ver partir o filho, mas, “quando eles vieram cá e viram a casa, a minha esposa, eles ficaram contentes”, conta-nos a sorrir.

No Tarrafal comprou um terreno para construir a sua casa. Ele próprio fez o projeto de arquitetura e contratou uma empresa de construção para lançar os alicerces da sua moradia até ao primeiro andar, “porque para mandar o contentor precisava de um sítio para guardá-lo”. 

Dentro desse contentor estava uma panóplia de objetos que Stephan necessitava: caiaques, bicicletas, equipamento de mergulho, ferramentas, mobílias, entre outros pertences. Ele teve necessidade de trazer diversos equipamentos da Suíça porque já os tinha e isso permitiu-lhe implementar a sua atividade com maior rapidez.

Começar a viver do mar

Para implementar a sua atividade recreativa começou por entregar publicidade nos hotéis no Tarrafal, tendo mantido essa estratégia porque, “faço todo o serviço sozinho. Não tenho ninguém que saiba mergulhar. Por isso faço publicidade apenas no local”. A regulamentação não está clara para as atividades aquáticas desportivas. Stephan tem todas as certidões para fazer mergulho e ainda fez formação de nadador salvador com a Câmara Municipal do Tarrafal. Contudo, apesar da lei não ser totalmente clara, partilha que “no final é tranquilo, deixam sempre fazer alguma coisa”.

No entanto, ele conta-nos que ainda aguarda um documento do ministério do turismo para que a sua empresa seja considerada turística porque em Cabo Verde, as empresas dessa área, têm isenção de taxas alfandegárias para todos os equipamentos necessários à sua atividade e diversos benefícios fiscais. O Estado cabo-verdiano vê no turismo o grande motor do desenvolvimento económico do país, daí esta estratégia para captar novos investimentos na área. Contudo, Stephan partilha que ainda aguarda uma decisão do Ministério.

Habitualmente vai até ao hotel buscar os turistas para fazerem caiaque ou mergulho. Quando praticam esta atividade, seguem diretamente para a praia e Stephan faz um pequeno briefing antes de entrarem no mar, onde explica o equipamento e a forma de remar.

Pelo contrário, o mergulho já requer uma preparação mais cuidada. Normalmente, quem vai fazer mergulho já o fez anteriormente. Por essa razão, necessita de saber quando foi a última vez e qual o nível de cada participante. Conduz os turistas até sua casa onde escolhem os fatos, as barbatanas, coletes e conversam um pouco. Um mergulhador iniciante não pode ir para além dos 18 metros de profundidade e é necessário ter chão para que não fique desorientado. No Tarrafal, o fundo desce gradualmente até aos 25 metros, mas depois há precipícios que chegam até aos 200 metros de profundidade, “mergulhar aí é muito bonito, tem peixes, cavernas e outras coisas mas tem de se saber mergulhar bem porque não tem chão”. Para Stephan o fundo do mar do Tarrafal relembra-lhe a Suíça, “tem lugares que estão cheios de corais amarelos, parece a primavera na Suíça, quando os campos ficam amarelos”.

O turismo em Cabo-Verde

Na sua opinião, o país necessita do turismo porque não há indústria ou outras atividades relevantes. Como ele próprio depende do turismo, partilha um pouco a sua filosofia, “para mim o turismo é a mesma coisa que o sector da arte: fazemos algo para que as pessoas ocupem o seu tempo livre e fiquem felizes. É esse o segredo”.

Na ilha de Santiago, Stephan recomenda o lugar chamado Ribeira da Barca, onde se pode encontrar uma cachoeira e diversas árvores de fruto, podendo apreciar-se a riqueza natural da ilha. Outro lugar é a Boa Entrada, perto da Assomada, a segunda maior cidade da ilha. Nessa zona pode-se ver uma enorme árvore Poião com cerca de 500 anos, sendo indicador de que era um território de onde saíram escravos porque ele próprio encontrou o mesmo tipo de árvore no Brasil, em Porto Galinhas.

Adaptação à vida local e língua

Quando chegou ao Tarrafal, sentiu algumas dificuldades em se adaptar porque não falava crioulo e as pessoas não percebiam se ele iria ficar a viver ali, “porque há muitos europeus que vêm e ao fim de dois anos vão-se embora”. Stephan falava um pouco de português, mas para aprender a crioulo teve de pedir às pessoas para falarem com ele dessa forma porque, “para se integrar é preciso aprender o idioma local”. Outro fator que contribuiu para a sua aceitação na comunidade foi a construção da casa, “as pessoas perceberam que era para ficar e diziam-me que assim já era um deles”, sorri. Também participa nos outros eventos da comunidade, no carnaval, em casamentos, batizados, “se as pessoas convidam é porque gostam que faça parte disso”.

A música cabo-verdiana também lhe desperta interesse. Lura e Mayra Andrade são duas cantoras que escuta frequentemente. Contudo, se for para assistir a um espetáculo, prefere Ferro Gaita ou Princezito, pela intensidade musical, entrega das músicas e a energia entre o público.

Os próximos passos

Stephan Haller conta-nos que a Suíça não é muito conhecida entre os cabo-verdianos, excetuando aqueles que viveram ou têm familiares no país. Nos anos recentes, começou a ser feita alguma divulgação de Cabo-Verde no país, mas infelizmente, os suíços têm optado pelas ilhas do Sal e Boavista, onde estão os resorts: “isso não dá uma imagem de Cabo-Verde. Cada vez mais, ilhas como Santo Antão, Fogo e mesmo Santiago, começam a ser procuradas para turismo de Natureza”.

Apesar de ter a ligação familiar à Suíça, Stephan ainda colabora com uma companhia de dança suíça que faz digressões internacionais, mantendo dessa forma a ligação profissional ao país. Contudo, o seu projeto futuro passa por Cabo-Verde, “agora, fizemos esta casa, queremos uma criança, queremos viver aqui. É muito bom e tranquilo”.

Um país de ilhas

Cabo VerdeLink externo é um arquipélago localizado ao largo da costa da África Ocidental. As ilhas vulcânicas que o compõem são pequenas e montanhosas. Existe um vulcão ativo, na ilha do Fogo, que é igualmente o ponto mais elevado do arquipélago, com 2829 metros acima do nível do mar. O país é constituído por 10 ilhas, das quais 9 habitadas, e vários ilhéus desabitados, divididos em dois grupos:

Relações bilaterais entre Suíça e Cabo Verde

A Suíça reconheceuLink externo a República de Cabo Verde em 5 de julho de 1975, no dia da sua independência. Em 1980 os dois países passaram a ter relações diplomáticas.

Entre 1987 e 1991, Suíça e Cabo Verde assinaram um tratado de cooperação técnica, proteção de investimentos e tráfego aéreo. As relações econômicas mantiveram-se em baixo nível.

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