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Jornais suíços são ambíguos com relação ao “não” à Ecopop

Lançada por ecologistas preocupados com o crescimento populacional da Suíça, a iniciativa Ecopop (para Ecologia e População) pretendia limitar a imigração a 0,2% da população em uma média de três anos. Keystone

A forte rejeição dos suíços à iniciativa que pretendia limitar ainda mais a imigração no país está relacionada com a aprovação da iniciativa contra a imigração em massa de 9 de fevereiro. A imprensa suíça, no entanto, parece dividida sobre o impacto nas discussões com a União Europeia.

Para o “24 Heures”, a derrota da iniciativa Ecopop domingo, 30 de novembro, foi “uma reviravolta radical à pancada de fevereiro”, quando os suíços mostraram o desejo de recuperar o controle da imigração econômica. O texto, considerado “perigoso e inconsistente” foi enviado “para o seu único destino possível: o lixo”, diz o jornal da região oeste do país.

A grande rejeição da Ecopop pode proporcionar ao governo suíço “latitudes benvindas para encontrar em Bruxelas algumas modalidades aceitáveis” para implementar a iniciativa contra a imigração em massa, diz ainda o 24 Heures. O “La Tribune de Genève”, contudo, acha que o resultado não deve ser interpretado além da conta: “os suíços não tolerariam um questionamento dos novos limites para a imigração”.

O jornal de Genebra explica a intensidade do “não” dado à Ecopop pelo fato dos mesmos cidadãos que aceitaram a iniciativa do SVP (Partido do Povo Suíço, nas siglas em alemão) em fevereiro depositaram desta vez na urna “um voto verdadeiro e não tático” para protestar. Os suíços “não se deixaram ser enganados por medos e slogans”, acrescenta o jornal, que fala de uma certa vontade de “corrigir os erros da campanha do 9 de fevereiro”.

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Volta ao passado

O tradicional “Le Temps” é mais cauteloso. Se é verdade que os suíços “colaram um pouco os vasos quebrados” no início deste ano com o Conselho Federal e o mundo político, “a severidade do resultado não deve mudar a estratégia do governo”. Segundo o jornal, seria grave pensar que se trata de uma “volta ao passado dos eleitores, de um voto de correção”.

O “não” à Ecopop também não seria “uma autorização para interpretar generosamente o artigo constitucional sobre o controle da imigração de forma compatível com a livre circulação de pessoas”. Se os suíços rejeitaram a proposta, foi porque o governo “conseguiu convencer de sua determinação de agir na direção da vontade popular”, acrescentou o jornal.

Mesmo constato no “La Liberté”, para o qual “o veredito de novembro abranda o incêndio de fevereiro, mas não apaga o fogo”. O jornal do cantão de Friburgo interpreta a votação como um “passo de reconciliação entre os suíços e quase todos os políticos do país” que fizeram campanha pela recusa da iniciativa. No entanto, não se trata “de uma maquiagem do voto de 9 de fevereiro”, insiste.

Abertura econômica

O jornal econômico “L’Agefi” considera, ao contrário, que a derrota da Ecopop foi “uma indicação clara” para interpretar e aplicar o voto do início do ano, embora o governo tenha que introduzir cotas de imigração e denunciar o acordo de livre circulação com a UE, o saldo migratório poderá permanecer no mesmo nível, como acontece atualmente, se o crescimento e o desemprego permitirem.

“Os cidadãos estão conscientes de que o país deve permanecer aberto e que a economia precisa de uma força de trabalho que ela não encontra necessariamente no país”, diz, por sua vez, o “Journal du Jura”. A forte rejeição da iniciativa Ecopop, enquanto “um resultado muito mais apertado” era esperado após o 9 de fevereiro, mostra que “a grande maioria dos suíços gostaria de manter boas relações com a Europa”.

“Se os cidadãos não querem um fechamento total das fronteiras, eles também não enterraram a ideia de controlar a imigração”, nuança o “Le Matin”. “Foi a razão ou a intimidação que falou nas urnas?”, questiona o jornal da região de língua francesa, recordando que “no início do ano, o tapa da UE contra a Suíça esfriou mais de um eurocético”.

Etapa intermediária

Os jornais de Neuchâtel “L’Express” e “L’Impartial” parabenizam “o fato dos suíços não deixarem ser enganados com argumentos simplórios e falaciosos dos iniciantes”. Era preciso “acreditar em uma Suíça cercada por paliçadas para votar ‘sim’”, ironizam.

Na região de língua alemã, os jornais também expressam alívio. Cautelosa, a imprensa da Suíça alemã considera o plebiscito de domingo como um passo intermediário no caminho cheio de pedras para a implementação da iniciativa de 9 de fevereiro. Assim, o “Neue Zürcher Zeitung” considera que o efeito do voto “ainda está em aberto”, já que as negociações com a UE ainda não foram iniciadas.

Para o “Tages Anzeiger”, é preciso esperar agora que o Conselho Federal defina o modo em que pretende implementar a iniciativa contra a imigração em massa. Até então, as observações sobre esta questão foram deliberadamente “vagas e ambíguas”, a fim de não fornecer um pretexto para um “sim” adicional à Ecopop.

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