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Líder da direita diz ser “um absoluto democrata”

O político e empresário Christoph Blocher quer ter voz no governo federal. Keystone

Ele é um dos políticos mais polêmicos e bem sucedidos da Suíça. Junto com seu partido, a União Democrática do Centro (UDC), Christoph Blocher foi um dos grandes vencedores das eleições parlamentares de 2003.

Em entrevista exclusiva à swissinfo, Blocher afirma que lutará por uma presença menor do Estado na economia.

Christoph Blocher, presidente da empresa Ems Chemie AG, recebeu os repórteres da swissinfo na sala de reuniões das empresas Ems em Herrliberg, no Cantão de Zurique. Nas paredes estão pregadas obras de Ferdinand Hodler e Giovanni Giacometti, dois dos artistas mais representativos das tradições suíças. Da janela se avista o lago de Zurique.

Blocher se define como uma pessoa aberta para o mundo e não provinciana. Ele afirma conhecer vários países, pois sua empresa tem filiais no exterior.

Na sua opinião, qual a importância da comunidade de suíços do exterior?

Os suíços do estrangeiro são importantes representantes e defensores da imagem do nosso país. Muitos deles sentem ainda uma ligação muito forte com a Suíça. Eu lamento o fato de mantermos muito pouco contato com essa comunidade.

Uma clara maioria dos suíços do exterior defende uma adesão da Suíça à União Européia até 2007. Esse é um dos problemas mais urgentes, que os políticos têm para solucionar nos dias de hoje. Qual é a sua resposta a essa questão?

Eu posso compreender a preocupação do ponto de vista desses suíços. A adesão traria, sem dúvida, algumas facilidades. Porém elas seriam, em primeira lugar, administrativas, como no caso da abertura dos mercados de trabalho. Porém essa vantagem não esconde as sérias desvantagens que a adesão traria para a Suíça.

Se explicarmos para essas pessoas quais serão as graves conseqüências para o nosso país no caso de abandonarmos a nossa neutralidade e soberania, no caso de perdemos o sistema de democracia direta, então grande parte delas irá entender a nossa posição. No somatório das vantagens e desvantagens de uma adesão, a Suíça perdiria política, econômica e culturalmente.

O atual desenvolvimento da União Européia fortaleceu a posição das forças contrárias a adesão?

Sim. Em 1992, quando os suíços votaram contra a adesão ao “Espaço Econômico Europeu” (EEE), ainda não existia uma “União Européia”, mas sim uma “Comunidade Européia” mais simples, sem uma moeda comum e sem o objetivo de unificar as políticas externas e de defesa dos seus membros.

Eu sempre disse que a questão mais importante não é saber se devemos aderir à União Européia. A questão, na realidade, é saber que tipo de União Européia nós queremos. Se ela fosse uma união flexível de países, então nós já estariamos integrados. De qualquer maneira, a Suíça já está ligada à Europa.

O senhor sempre é comparado com os políticos de direita Le Pen, na França, e Haider, na Áustria. Essa associação lhe incomoda?

Sim. Essas comparações são inúteis e sem sentido. Eu não os conheço pessoalmente, mas apenas através do que leio nos jornais. Eu também não tenho nada em comum com a política deles. Haider é um oportunista e Le Pen é um monotemático provocador de escândalos.

O senhor poderia ser considerado um populista, um demagogo?

Demagogos são sedutores do povo. Isso eu não sou! Eu tento apenas convencer o povo de algumas verdades. Por vezes as pessoas concordam com o que digo, por vezes não. Isso é normal na democracia. Eu luto apenas pelas minhas posições, sejam elas “populares”, ou não.

Porém o senhor é um sedutor no papel de um excelente orador.

Sim, reconheço que sei falar bem. Eu me esforço para discursar de uma maneira que as pessoas entendam. Tudo o que foi bem refletido, se torna claro. Se a pessoa não pode apresentar de forma simples a realidade, então ela não tem uma idéia clara do tema que quer apresentar.

Nesse caso “simples” não estaria sendo confundido com “simplificação”?

Tudo bem, isso não é tão ruim. Nesse caso nós podemos empregar uma solução simplificada, que se normaliza posteriormente. As pessoas não são tão burras como sempre se diz. Elas não são mais ignorantes do que ocorre no Parlamento, onde estão os representantes do povo. Lá também estão os representantes dos fracassados e dos ignorantes.

O senhor cunhou a expressão “falsos aposentados por invalidez” (Scheininvalide).

Eu não encontrei outra expressão que combinasse melhor com o tema. Nós temos na Suíça muitos aposentados por invalidez que, na realiade, não são inválidos. Todo mundo sabe disso. Como nós podemos resolver um problema sem que possamos indicá-lo pelo nome?

Porém isso não dá a impressão que todos os inválidos são charlatões?

Isso é realmente um risco. Porém não é possível aceitar e continuar a financiar, com o dinheiro dos impostos, esse abuso que nos custa bilhões e, ao mesmo tempo, deixar de debater o tema apenas porque ele não é simpático.

Qualquer pessoa que é honesta e trabalhe deve se sentir enganada. Pelo menos essa campanha desencadeou um processo para solucionar o problema. Agora já está se combatendo essa forma de abuso.

Mudando de assunto, qual a sua opinião em relação ao uso da tecnologia genética na agricultura?

Sou muito aberto ao tema. Eu não tenho nenhuma restrição ao uso da tecnologia genética na agricultura.

Porém não seria um nicho de mercado para a Suíça oferecer produtos agrícolas não modificados geneticamente?

Na questão da política agrícola eu tenho algumas divergências de opinião em relação às posições do meu partido. Na União Democrática do Centro (UDC) existem pessoas que dizem – “a oferta de produtos alimentícios não manipulados geneticamente seria para a Suíça um grande potencial de exportação” – porém isso é uma ilusão.

Os alimentos manipulados geneticamente não são piores, qualitativamente, do que os outros. Quando estou nos Estados Unidos, me alimento deles sem me preocupar. Eu nunca percebi uma diferença em relação aos nossos. E se os alimentos manipulados geneticamente forem mais caros do que os normais, o que de certa forma é previsível, eles serão descartados pelo mercado.

O senhor defende a redução das subvenções e outras formas de ajuda estatal, porém não é contra aquelas que são dadas aos agricultores. Qual seria a razão para essa diferença?

Nós queremos acabar com subvenções em todas as áreas onde o livre mercado deve agir. Por isso somos contra a ajuda para a construção de casas e apartamentos, de turismo, ao cinema, à exportação, etc, etc. Também a ajuda governamental dada à falida companhia de aviação Swissair foi um erro grave.

Em relação à agricultura, ela é protegida e apoiada na grande maioria dos países industrializados. O agricultor está cumprindo o papel de trabalhar a terra para que ela não seja abandonada e, até determinado ponto, para garantir o abastecimento alimentar do nosso país. O Estado deve garantir que essa função social seja devidamente reembolsada.

Porém também sou da opinião que é possível melhorar essa política. Eu daria por cada metro quadrado, ou cada hectare, uma soma determinada. O que o agricultor planta ou produz é seu problema. Eu não subvencionaria mais a produção direta.

O senhor reduziria também o salário dos ministros (nota da redação: a Suíça é governada de forma paritária por sete ministros de Estado)

Há anos que eu pleiteio uma redução nos salários dos ministros. Eles não devem ser dependentes financeiramente do seu cargo. Por exemplo, nossos ministros recebem mais do que o presidente dos Estados Unidos e do que o chanceler da Alemanha.

Porém menos do que o senhor, como presidente do grupo Ems.

Sim, porém ninguém me dá esse dinheiro. Eu não tenho nada contra o fato de alguém administrar com sucesso a sua empresa e se enriquecer dessa forma. Porém ministros de Estado são servidores públicos e vivem, assim, do dinheiro dos contribuintes.

Eu sempre defendi a tese de que temos de reduzir pela metade o salário dos ministros. Duzentos mil francos suíços por ano é um bom salário. Um ministro de Estado não tem riscos. Um empresário sim: ele coloca seu dinheiro na empresa.

Seu partido recebe cada vez mais votos. O senhor também recebe cada vez melhores notas por parte do eleitor. Porém uma pesquisa mostra que 56% dos suíços recusariam o seu nome para o cargo de ministro de Estado. Isso não seria uma discrepância?

Não. Nenhum partido tem o apoio da maioria das pessoas. Porém 32% delas me apoiariam como ministro e isso corresponde a um número maior do que a nossa proporção de eleitores. 32% já seriam suficientes numa votação direta. Nesse caso, até mesmo um sétimo disso já seria suficiente para a eleição.

Há pouco tempo o senhor disse: “Estou velho demais para criar uma ditadura”. E se o senhor fosse 20 ou 30 anos mais jovem?

Essa frase foi dita pelo general francês De Gaulle. Pouco antes dele assumir o poder, um adversário lhe perguntou: – “O senhor é capaz de aceitar a opinião das outras pessoas ou irá tomar o poder todo para si?”.

Essa foi também a pergunta que me foi feita. As pessoas devem ter um espírito muito negativo para não perceber a ironia das minhas palavras. Eu sou um absoluto democrata! Por isso luto pela liberdade da opinião nesse país. Afinal eu também uso essa liberdade para dizer coisas que são incômodas.

swissinfo, Ariane Gigon Bormann e Etienne Strebel
tradução de Alexander Thoele

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