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Lausanne quer posto para viciado

Em Zurique, o dependente em tratamento paga 14 francos pela dose de heroína e seringas novas. Keystone

Com o sucesso dos centros paras dependentes de drogas na Suíça alemã, agora também Lausanne quer abrir o seu.

Apesar do apoio político e dos terapeutas, muitos suíços não vêem com bons olhos esses locais, onde viciados recebem tratamento e seringas descartáveis.

Os passantes não vêem nada de especial na casa, que está a muitos poucos passos de distância da estação central de trem de Berna. Suas paredes cobertas de pixações fariam pensar mais num centro juvenil, se não fosse o público que se aglomera na sua entrada. Com poucas exceções, a maioria é de pessoas acima dos trinta, todos dependentes de droga.

Depois de recebe as seringas descartáveis, muitos preferem tomar sua dose longe dos olhos atentos dos funcionários ao invés de utilizar os espaço destinado para esse fim. Eles descem pelas escadas até alcançar a margem do rio Aare, onde injetam com tranqüilidade metadona, a droga substituta da heroína.

O “Fixerraum” (sala para dependentes em drogas injetáveis) pertence à rede Contact Netz, uma organização sediada em Berna e cuja principal função é aplicar a política dos quatro pilares na questão das drogas: prevenção, redução dos riscos, terapia e repressão.

Há vinte anos o governo da capital suíça aprovou a criação do centro, uma iniciativa pioneira na Europa. Por isso o país é criticado até hoje pela ONU pela forma liberal de lidar com o problema da dependência.

Agora em Lausanne

Se a grande maioria dos centros urbanos na Suíça alemã já se acostumou com a existência dos centros, na parte francesa eles são ainda novidade.

No início de fevereiro, os parlamentares da Câmara Municipal de Lausanne, a quinta maior cidade da Suíça, resolveram trabalhar nesse sentido. Por 49 votos contra 30, os partidos de esquerda – que têm a maioria no governo – conseguiram aprovar a criação do novo centro de recepção e triagem para dependentes. Os custos da obra estão avaliados entre 1 e 2 milhões de francos por ano.

Depois da decisão política, agora a bola passa para o governo executivo, que pode aceitar ou não o projeto. Mas mesmo que passe, o centro ainda pode ser vetado pelo eleitor, caso haja quorum para solicitar abertura de um plebiscito popular.

A direita é absolutamente contrária. Na opinião dos seus representantes, esses centros para dependentes significam a banalização da toxicomania.

– Esse não é um bom exemplo para os jovens. Combatê-lo é uma questão de ética e moral – diz deputada liberal Nicole Grin.

Evitar AIDS e hepatite

A argumentação do bloco favorável à criação do centro é de que a contaminação por hepatite e AIDS entre os dependentes, um problema conhecido devido ao hábito destes de compartilhar seringas sujas, pode ser combatido graças ao acompanhamento médico e de pessoal especializado, além da distribuição gratuita de seringas e camisinhas.

– Estamos precisando adotar finalmente no cantão de Vaud o quarto pilar da política nacional de drogas, a chamada “ajuda para a sobrevivência” – reforça Solange Peters, deputada do Partido Socialista.

Na sua opinião, o “fixerraum” serve como um espaço para o viciado, onde ele pode dar os primeiros passos em rumo à cura participando das terapias oferecidas ou de programas de reintegração social como as oficinas de trabalho ou de habitação conjunta.

Nos último quinze anos todas as tentativas de se criar um centro semelhante em Lausanne fracassaram. Geralmente a Suíça francesa é mais reticente em relação às drogas e segue um pouco a linha francesa, que se baseia na repressão.

Para muitos especialistas, desde a abertura dos centros de tratamento, os viciados já não são vistos em praça pública como nos anos 80, quando imagens de uma famosa praça de “junkies” em Zurique chocaram o mundo.

swissinfo, Alexander Thoele

Nos centros, viciados em drogas injetáveis são tratados e recebem também agulhas descartáveis. As medidas visam diminuir os riscos de contaminação por AIDS ou hepatite.

Na Suíça existem oito espaços semelhantes: Berna começou em 1986 e foi seguida depois por Zurique, Basiléia, Biel, Olten, Schaffhausen e Solothurn. Na parte francesa do país, Genebra abriu em 2001 o “Quai 9”.

A política suíça se baseia em quatro pilares: prevenção, redução dos riscos, terapia e repressão.

Conselho de Controle das Drogas na ONU critica a Suíça pela sua política em relação às drogas, considerada muito liberal.

O parlamento municipal de Lausanne aprovou na terça-feira, por 49 contra 30 votos, a criação de um centro para viciados em drogas injetáveis.
A moção foi agora enviada ao governo executivo da cidade. Se aprovada, iniciativas poderão combatê-la através de referendos populares.

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