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Lobos ensinam executivos a liderar

Hans Schlegel se deixar "cheirar" pelos três lobos canadenses. swissinfo.ch

Para o suíço Hans Schegel, um dos treinadores de cães mais conhecidos na Europa, o "melhor amigo do homem" continua sendo um animal caçador que foi domesticado.

Além de oferecer cursos e dar palestras, o suíço também organiza shows de cães amestrados e ensina liderança a executivos através dos cinco lobos que vivem na sua escola.

Os impressionantes uivos saem de um cercado atrás do muro de cipreste. Ao chegar ao canil de Hans Schlegel, o visitante assustado se pergunta se realmente existem outros animais no local além de cães. “Não se preocupe, são apenas os lobos”, conto o suíço com a maior tranqüilidade.

“Wolfsprung Kennel’s” é o nome do canil localizado no alto de uma colina de Ganzingen, um pequeno e discreto povoado perdido nos vales de Fricktal, uma região agrícola a leste de Basiléia (noroeste da Suíça). No estacionamento estão vários veículos com matrículas alemãs, mostrando que a clientela de Hans Schlegel não se resume apenas a proprietários de cães da região.

O terreno do canil ocupa um grande espaço verde. Um chalé serve de escritório, local de atendimento e tratamento dos cães. Ao lado estão várias jaulas, onde seus ocupantes, dezenas de pastores-alemães e outras raças de grande porte, latem incessantemente e não escondem a agressividade. “É melhor não se aproximar, pois são cães policiais enviados dos Estados Unidos para serem treinados aqui”, explica Schlegel.

Alguns metros distantes, pouco acima na colina, está a “sala de aula” do canil: um terreno plano coberto de grama, onde obstáculos, tamboretes e barras de madeira servem para o treinamento dos cachorros.

Autorização especial

Apesar de dono de quatro cães, Hans Schlegel não esconde que tem uma especial predileção pelos cinco lobos que vivem em duas áreas com cerca eletrificada. Na primeira delas, três lobos canadenses pulam de um lado para o outro. Eles têm o pelo cinza e estatura que lembra mais a de um husky siberiano. Na outra estão os dois europeus, de pelo marrom, muito mais tímidos e que preferem, por isso, se esconder atrás da casinha de madeira.

“Esses são animais especiais. Tenho uma autorização especial do governo para mantê-los na minha propriedade. Eles são castrados e foram confiscados pela polícia de pessoas que os haviam comprado ilegalmente”, explica Schlegel.

O suíço é um dos treinadores de cães mais conhecidos da Europa. O trabalho é tanto que doze funcionários são necessários para manter o canil. Além da criação de raças especiais – Malinois – mais conhecidos como pastores belgas, Schlegel também oferece anualmente trinta cursos e workshops de treinamento de cães na Suíça e mais quinze no exterior.

Ao mesmo tempo, ele é a estrela principal de um grande espetáculo itinerante intitulado “Estrelas de quatro patas” e que conta com a participação de dezenas de cachorros amestrados, além de Siegfried Rauch, um famoso ator alemão, como moderador. O evento foi apresentado em estádios de sete capitais alemãs como Berlim, Stuttgart, Dortmund e Munique.

Das panelas aos cães

Perguntado se sempre trabalhou com cães, Schlegel sorri e lança a questão de volta. “Adivinhe a minha profissão?”, brinca. “Eu sou cozinheiro formado, mas nunca trabalhei nessa área. Na verdade, foi meu pai que me ensinou a treinar cães para salvamento nas montanhas. Venho da região de Schwyz, na Suíça central, onde existe essa tradição”, revela.

Depois de viver dez anos nos Estados Unidos, onde se especializou em treinar cães policiais e de serviço – seu site fala de 650 cães em 80 departamentos policiais americanos – Schlegel retornou a Suíça em 1989 com o sonho de criar uma escola profissional. Desde então, ele desenvolveu diversos métodos como o K-9, um curso de segurança para cães policiais, o “Dog Training System”, voltado para treinadores profissionais e, em 1996, o certificado suíço para proprietários de cães familiares.

Desde que surgiu o fenômeno de ataques de cães de luta a pessoas, Schlegel se tornou um personagem freqüente nos estúdios de televisão e nos jornais. Nessas situações, ele não poupa as críticas. “Os proprietários de cães precisam finalmente aprender a assumir responsabilidade. Eles precisam saber que um cão continua sendo um animal caçador que foi apenas domesticado”.

Para Schlegel não existem raças perigosas. “O que existe são cães e pessoas não treinados”, declara. Na sua opinião, mais leis são necessárias para acabar com o problema. “Nos EUA existe a obrigatoriedade de coleira até que o proprietário passe um teste com o seu cão. Os americanos têm menos problemas com cachorros. Afinal, o melhor cachorro não é culpado se quem está segurando ele na coleira é um burro”, dispara.

E para que lobos?

Os cinco lobos do canil de Schlegel não são apenas decoração. “Pelo fato dos lobos serem um dos animais mais sociais da natureza, eles têm muito a ensinar aos seres humanos”, explica Schlegel.

Apoiado nessa característica especial dos lobos, o treinador suíço criou um curso especial voltado a executivos. Sua experiência de contato com os animais selvagens vem de 18 meses vividos numa reserva florestal do Canadá. Há poucos meses o primeiro curso foi oferecidos. Sete pessoas participaram dele, todas com importantes cargos de lideranças. E o que eles aprenderam?

“Uma das dicas que dei foi a de não ter medo e se comportar naturalmente. Se você tem medo, o lobo também tem. Se você é nervoso, o lobo também será nervoso. O interessante é que essa mesma situação é vivida constantemente nas empresas”, explica.

Para Schlegel, animais como lobos são extremamente sensíveis e sinceros. Eles reagem imediatamente de acordo com o comportamento de uma pessoa. “Apenas as pessoas que transmitem segurança e não emitem sinais contraditórios podem liderar esses animais. Outros não têm chance nenhuma, mesmo se gritarem e baterem neles com um chicote”.

E mais uma vez, Schlegel volta à questão do ser humano. “Tanto executivos como proprietários de cães precisam desenvolver mais suas qualidades pessoais”, conclui o treinador suíço.

swissinfo, Alexander Thoele

Os lobos, ao contrário dos felinos, não dependem nem de velocidade nem do elemento surpresa para pegar as presas. Quando chegam numa manada de bisões, deixam claro que estão ali e esperam a debandada. Sua estratégia baseia-se na resistência e as caçadas podem durar dias.

Os dentes dos lobos são ideais para segurar a presa, diferente dos dentes dos felinos, que são ideais para dilacerar. Por causa dessas estratégias, os lobos são muito mais eficentes na caçada, sendo mais vezes bem sucedidos do que os felinos em geral. Porém, os lobos não causam nenhuma carnificina entre as populações de grandes herbívoros, pois na maoria das vezes caçam animais velhos, feridos, doentes ou filhotes vulneráveis.

Assim, fora os filhotes perdidos, eles acabam tornando a manada mais saudável. Quando os lobos crescem eles podem escolher sair da alcatéia para formar sua própria família. Os machos tendem a sair mais cedo do que as fêmeas. Os anos solitários são os mais difíceis pois, como Rudyard Kipling, o autor do Livro da Selva disse “O lobo é a força da alcatéia e a alcatéia é a força do lobo”.

Os lobos solitários uivam para convidar uma loba(ou lobo) para se tornar sua compaheira (ou companheiro). Então eles se tornam o lobo e a loba alfa de uma nova alcatéia. Os lobos também uivam para comandar caçadas, pedir ajuda, marcar território, chamar outros membros ou simplesmente porque estão com vontade.

Antes um carnívoro distribuido globalmente, o lobo agora está extinto na maioria das regiões. Ele foi erradicado dos Estados Unidos e Japão, e está criticamete ameaçado em toda Europa. Mas um projeto recente reitroduziu esses animais nos EUA.

Apesar dos mitos a seu respeito, o lobo é um componente muito importante na cadeia alimentar e sua retirada causa graves desequilíbrios ecológicos. O lobo é o animal que há mais tempo foi domesticado e conseqüêntemente está com o homem desde muito tempo. A opinião de alguns ambientalistas é de que é irônico estarmos matando aquele que nos ajudou a caçar a proteger nossos lares.

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