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Montar barraca não é paixão dos suíços

Para muitos acampar é sinônimo de liberdade. Keystone

Cada vez mais pessoas acampam na Grã-Bretanha e em outros países europeus. Já na Suíça a moda demora a pegar.

Os 419 campings da Suíça registraram uma queda de dez por cento nos pernoites em 2010 comparado ao ano passado. De acordo com uma pesquisa não comparativa realizada pela swissinfo.ch, 2011 também não começou para eles com o “pé direito”.

Um número crescente de britânicos foi contaminado pela febre do acampamento. Frente à crise econômica, eles se juntam aos experientes campistas e investem na compra de barracas e camas de ar.

Estima-se que mais de 5,4 desse tipo de viagem turística foram realizadas na Grã-Bretanha em 2010, vinte por cento a mais do que no ano retrasado. Já em 2011, muitos dos campings avisam que estão com lotação esgotada. 

“Acampar na Grã-Bretanha está voltando a ser um hábito, em parte devido ao fenômeno dos campings de luxo. A crise econômica levou muitas pessoas a considerar a possibilidade de passar as férias em casa”, explica Garri Rayner, editor do site Go Glamping.

“Esse tipo de acampament,o com mais conforto, se torna popular na Europa, com a Grã-Bretanha em primeiro lugar e logo depois França, Espanha e Portugal. Na Itália, onde acampar é bastante popular, começou a aparecer esse novo formato.”

A moda também pegou na França. O novo show de celebridades “Qui vient camper?” (Quem vem acampar?), que segue os passos dos antigos filmes franceses de acampamento, testemunha o renascimento desse interesse.

Franco suíço e chuvas 

Embora comércios especializados em artigos especiais para acampamento como a Transa Backpacking, sediada em Zurique, declaram um aumento nas vendas de equipamentos, o número de pernoites em campings suíços se mantém estável desde 2005, com um pequeno crescimento em 2009. Os números são do Departamento Federal de Estatísticas.

Representantes do setor de turismo afirmam que difícil situação econômica em 2010 pode ser explicada, largamente, pela forte valorização do franco suíço e o mau tempo nos meses de julho e agosto. A moeda teve uma valorização de 25 por cento contra o euro e o dólar nos últimos quatro anos.

“A fraqueza do euro não nos ajuda de forma nenhuma”, afirma Marie-Pierre Métrailler, chefe do camping de Petit Praz em Arolla, vilarejo de montanhas no cantão do Valais (sul). 

O pequeno camping com capacidade para abrigar 80 barracas, com uma vista estupenda para as montanhas Mont Collon Pigne d’Arolla, além de ser o mais elevado camping da Europa a 1.970 metros acima do nível do mar, teve uma queda de 30% nas suas reservas no ano passado. A mesma história pode ser escutada na região oeste do país.

“Não sentimos essa baixa no ano passado, mas agora ela é mais preocupante”, explica Jacques Burnier, presidente do Clube de Camping e Caravana de Vaud, responsável por campings em Gryon, Villeneuve, Saint-Cergue e Le Sentier.

“Os locais à beira do lago, normalmente lotados nesta época do ano, estão tendo uma ocupação de apenas 85%. É mais interessante para as pessoas ir à França ou à Itália.”

Em 2010, a popular região dos Alpes bernenses (centro) sofreu a maior queda, com 18% a menos de pernoites, o que se acredita ter sido provocado pela falta de turistas ingleses.

Modernização 

Mas as taxas de câmbio flutuantes e chuva não são os únicos fatores a explicar os números negativos, afirma Burnier. Um dos maiores problemas é promover o acampamento como uma forma interessante para os grupos jovens, sejam suíços ou estrangeiros. A idade média dos frequentadores dos campings na região de Gryon é de 52 anos.

Para tentar atrair novos e jovens visitantes, o clube investe atualmente 700 mil francos para modernizar seus quatro campings com salas de encontro e cafés. “É obrigatório ter conexões wireless. Sem elas as pessoas simplesmente vão embora”, diz.

Kathi Sommer da Associação Suíça de Camping concorda: “Antes as pessoas estavam felizes com uma ducha e banheiros. Hoje a sociedade quer mais conforto, como poder acampar e ter suas TVs, laptops e conexão wireless.”

Tradicionalistas 

Os campings suíços tendem a ser mais convencionais. Luxo, moda e outras facilidades não entraram no setor, como já ocorreu em vários países europeus. “Afora os resorts Whitepod (formados por barracas geométricas que lembram iglus) e os vilarejos mongóis, os campings de alta categoria praticamente não existem na Suíça”, diz Rayner.

Keith Didcock, editor do manual Cool Camping Europe publicado em 2008, concorda: “Fui responsável pela parte alpina da Suíça no livro e, de fato, não vi nenhuma evidência do camping de luxo (glamping, em inglês) na Suíça. O que mais existe é o camping tradicional como na Itália, onde eles são realmente conservadores.”

Para atrair campistas estrangeiros é preciso combater a percepção de que acampar no país dos Alpes é enfadonho, caro e menos interessante do que na França, acrescenta.

Pelo momento os campings de luxo ainda “são um pequeno segmento que tem de ser desenvolvido”, declara Véronique Kanel, porta-voz da Suíça Turismo, órgão oficial do país. Ela ainda acrescenta que outras formas alternativas de alojamento, como cabanas de montanha, têm atraído de forma crescen clientelas jovens e famílias.

Os campings do país registaram uma queda de 10% nos pernoites em 2010 comparado aos números de 2009.

O Departamento Federal de Estatísticas publicou que os 419 campings suíços tiveram 3,3 milhões de pernoites em 2010.

Os clientes suíços corresponderam a 53% ou 1,7 milhões de todos os pernoites (-9,3%). Os visitantes estrangeiros respondem por 1,5 milhões de pernoites (-11%).

Quase 98% de todos os visitantes estrangeiros vieram da Europa: Alemanha (559 mil / -15%), Holanda (521 mil / -5%) e Grã-Bretanha (91 mil / -3,8%), França (90 mil / -12%) e Itália (43.000 / -20%).

As regiões mais populares foram acampar: Ticino (921 mil pernoites/-6%), Valais (523 mil / -2,8%) e os Alpes bernenses (365 mil / -18%).

Adaptação: Alexander Thoele

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