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Montreux: uma cúpula que beneficiou a francofonia

Fotos dos chefes de Estado e de governo presentes em Montreux. Keystone

A 13° Cúpula da Francofonia foi encerrada no domingo à tarde. No balanço do grande encontro: a assinatura de uma "Declaração de Montreux" e a apresentação de nove resoluções.

Cinco novos países observadores foram recebidos na Organização Internacional da Francofonia.

Eles eram 70 e agora passaram a ser 75: a Estônia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, República Dominicana e os Emirados Árabes passaram agora a fazer parte da Organização Internacional da Francofonia (OIF).

Abdou Diouf, reeleito a um terceiro mandato como secretário-geral da OIF, testemunhou com entusiasmo o “engajamento produtivo” da Suíça durante a realização da cúpula.

O mesmo entusiasmo foi compartilhado por Joseph Kabila, presidente da República Democrática do Congo, país organizador do próximo encontro em 2012. Após agradecer a Suíça pelo evento em Montreux – “um dos mais inesquecíveis da nossa organização” – se comprometeu a “engajar-se na promoção dos valores da francofonia” em solo congolês.

Todos haitianos

“Todos os francófonos são atualmente haitianos”, reiterou Abdou Diouf. O país devastado por um terremoto em janeiro e, há vários dias, enfrentando uma epidemia de cólera, estava no centro das atenções em Montreux.

“Queremos ajudar o Haiti na sua reconstrução”, declarou o secretário-geral. “Essa é a prioridade das prioridades da francofonia, tanto no plano geográfico como geopolítico.”

Editor do jornal haitiano Le Nouvelliste, Frantz Duval, retorna satisfeito, mesmo lamentando que a francofonia não tenha disponibilizado mais recursos para ajudar seu país.

“O Haiti estava no centro das atenções. Meu país foi citado diversas vezes”, diz Duval. “Estou satisfeito com a solidariedade manifestada e também com as perspectivas, pois a presença do Haiti na francofonia será reforçada, sem dúvida.”

Durante a última coletiva de imprensa, Abdou Diouf falou do francês como uma língua que não se identifica somente com a arte e a cultura, mas também ciência e técnica. “O francês pode exprimir todos os aspectos do gênio humano”, declarou, acrescentando que isso ocorre não contra o inglês ou qualquer outro idioma, mas na sua diversidade.

Língua francesa

“Para mim o mais importante nessa cúpula é que foi a segunda vez, depois do encontro em Québec (2008), que nós discutimos a atual situação da língua francesa no mundo. Tudo isso poderia levar a uma verdadeira política dentro da OIF para a promoção da língua francesa. Isso, pois muitos países membros não fazem muitos esforços atualmente, sobretudo dentro das instituições internacionais”, explica Christian Rioux, correspondente do jornal de Montreal, Le Devoir.

Rotineiro nos encontros da francofonia é que se fale de uma “cúpula bem-sucedida”, mas se lamente de uma posição “complexada” da França devido ao seu passado colonial. O jornalista considera que a França tem dificuldades de unir gestos com os discursos que propaga.

Presidente de uma das quatro comissões da assembleia parlamentar francófona, Didier Berberat considera que o encontro em Montreux foi marcado “por debates extremamente interessantes” sobre o desenvolvimento sustentável e a questão climática. O senador suíço constatou também “grandes preocupações” por parte dos países do Hemisfério sul, o Chade ou as Ilhas Seychelles, em particular.

“Essas cúpulas não oferecem sempre resultados concretos imediatos. Mas muita coisa foi dita, sendo que houve uma verdadeira tomada de consciência” sobre a problemática do clima”, considera Berberat. O resultado: “Uma linha de frente francófona unida” antes da conferência da ONU sobre o clima‎ em Cancún, México, em dezembro.

Futuro chamado África

Abdou Diouf lembrou durante a coletiva final que o futuro da francofonia irá depender em grande parte da África. Isso seria uma razão a mais de se alegrar com os “termos particularmente brilhantes” empregados na véspera pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, para discutir a renovação necessária da governança mundial.

No sábado, Sarkozy havia levantado esta questão em particular: “É normal que não haja nenhum membro permanente do Conselho de Segurança da ONU originário da África? Um bilhão de habitantes! Em trinta anos, serão dois bilhões de habitantes sem uma representação permanente. É um escândalo!”

No mesmo dia, a presidente da Confederação Helvética (e ministra suíça da Economia) Doris Leuthard havia pedido aos representantes da francofonia de influenciar fóruns como o G8 ou o G20, especialmente na questão da reforma do Conselho de Segurança da ONU, cuja presidência está nas mãos da França neste ano.

O lugar da África no mundo foi o destaque do encontro em Montreux, pelo menos segundo a jornalista originária dos Camarões, Denise Epoté, atuando no canal de televisão TV5 Monde: “O mais importante para mim foi a reafirmação que o desenvolvimento do mundo não será mais realizado sem a implicação da África e que não será mais possível falar em nome do continente. O engajamento de todos esses chefes de Estado reunidos em Montreux anuncia que a África encontrará seu espaço, especialmente dentro da ONU, onde sua ausência é mais evidente”, declarou.

Para 2012, a escolha de Kinshasa é controversa, mas tem o apoio de Frank Salin, redator da revista eletrônica Afrik.com. “Os africanos reagiram de forma muito positiva, pois um encontro dessa envergadura é sempre bom para o continente. Agora iremos ver como ele será preparado e cruzamos os dedos para que a região dos Grandes Lagos esteja um pouco mais tranquila até lá.”

Mas mesmo se isso não for o caso, ainda valerá a pena, acredita o jornalista: “Pelo menos será uma ocasião para falar de paz, pois a francofonia se impõe cada vez mais no papel de solucionar conflitos, de garantir o acesso à paz, no bom andamento de eleições democráticas e na liberdade de imprensa.”

E ele ainda acrescenta: “Esperamos que essas palavras não sejam em vão. E, como vimos na Guiné, onde o responsável da comissão eleitoral é alguém saído das fileiras da OIF, a francofonia estará cada vez mais em questões concretas como nessa. Além disso, ainda irá ajudar a fazer o mundo e torná-lo um lugar melhor para se viver.”

Líderes: a cúpula, organizada em Montreux de 22 a 24 de outubro, reuniu representantes de 70 países da OIF, dos quais aproximadamente uma quarenta de chefes de Estado e de governo.

Desafios: como tese central, a Suíça optou por “Desafios e visões de futuro para a francofonia”, subdividido em três diferentes temáticas: “Governança mundial e democracia, liberdade e direitos humanos”, “Desenvolvimento sustentável: segurança alimentar e clima” e “Língua francesa: diversidade cultural e inovação”.

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