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Mulheres de luto, soldados romanos e chocolates

Procissão da mulheres de luto em Romont, no cantão de Friburgo. Keystone

A Suíça mantêm diversas tradições religiosas e profanas de Páscoa. No oeste, "Les Pleureuses" (as mulheres de luto) carregam os instrumentos de tortura de Cristo e a toalha de Verônica pelas ruas.

Em Mendrisio, no sul do país, acontece uma histórica procissão de sexta-feira da Paixão. E não faltam costumes envolvendo o ovo de Páscoa e os coelhinhos de chocolate.

Apesar de as igrejas suíças estarem cada vez mais vazias, as tradições religiosas da Semana Santa ainda são preservadas em várias regiões do país. Em alguns povoados do Valais (sudoeste), são distribuídos pães bentos, queijo e vinho.

Na segunda-feira após a Páscoa (feriado), os habitantes da região costumam subir colinas e montanhas ao amanhecer e saúdam o sol como símbolo da ressurreição de Cristo. Antigamente eles andavam descalço na Sexta-Feira Santa para não castigar a Terra.

Em Estavayer-le-Lac, no cantão de Friburgo, a ressurreição é comemorada há séculos com o canto religioso “Surrexit”, que ecoa pelas ruas do centro histórico da cidade, durante uma procissão na noite de sábado para domingo de Páscoa.

Depois de uma hora de oração e canto, em que também são lembrados os mortos, os cantores reúnem-se num restaurante para, em clima descontraído, comer chucrute e tomar um copo de vinho, indicando assim o fim da quaresma.

Uma atração à parte é a procissão das mulheres de luto (Les Pleureuses) em Romont, povoado medieval de 4 mil habitantes cercado por um muro, também no cantão de Friburgo. Quando a leitura da Paixão dentro da igreja chega ao luto por Jesus, começa a procissão.

Vestidas de preto, as mulheres de luto carregam sobre travesseiros de escarlate os instrumentos da tortura de Cristo: coroa de espinhos, flagelo, pregos, martelo e alicate. À sua frente seguem Maria e o pecador arrependido, carregando uma cruz. Seis vezes a procissão para e o canto domina a cena. No restante do tempo, os romonteses silenciam.

Procissão histórica em Mendrisio

Um espetáculo semelhante, mas com ar mais turístico, pode ser visto em Mendrisio, no Ticino (Suíça italiana), onde na Quinta-feira Santa é representada a “via dolorosa” de Cristo ao Monte Calvário: as figuras principais são cavaleiros, soldados romanos e personalidades bíblicas em trajes pomposos.

Na sexta-feira, a procissão é religiosa, festiva e segue regras rígidas: irmandades religiosas e associações acompanham o Cristo morto com lampiões e emblemas da Paixão. Os dois cortejos passam pelo centro histórico.

Tornou-se famosa também nos últimos 60 anos a Paixão de Coldrerio, criada por jovens fascinados pela procissão histórica da vizinha Mendrisio. Eles encenam a crucificação de forma mímica na colina Ciosseto, com um realismo trágico que é único na Suíça.

Ovos pintados e chocolate

Obviamente não faltam ovos nem chocolates nas comemorações de Páscoa na Suíça. Nas semanas que antecedem o evento, as prateleiras do supermercados são abarrotadas com essas guloseimas e há feiras especiais de ovos pintados.

Em Berna, crianças e adultos reúnem no domingo de Páscoa na praça Kornhausplatz, no centro histórico, para o “Eiertütscha”. Numa disputa, eles batem ovos de Páscoa um contra o outro – o mais resistente ganha.

Em Zurique, na segunda-feira após a Páscoa, centenas de ovos trocam de dono no “Eiertütschen”. A brincadeira é simples: as crianças estendem as mãos com ovos de Páscoa. Os adultos jogam uma moeda de vinte centavos no ovo. Se gruda no ovo, a moeda e o ovo pertencem ao adulto; se a moeda cai no chão, ela e o ovo pertencem à criança.

Há também diversas tradições envolvendo a procura de ovos e chocolates. Uma delas é esconder os coelhos de chocolate dentro de casa. As crianças devem procurá-los, acreditando que quem os levou foi a coelhinha da Páscoa. ¨

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

Símbolos da Páscoa como ovos e coelhos vieram de tradições profanas anteriores ao Cristianismo.

– Eram utilizados em celebrações da primavera.

– Até o nome Páscoa deriva de uma celebração germânica profana.

– Data foi definida no Concílio de Nicéia (Turquia atual), no ano 325.

– Na Suíça, os ovos de chocolate existem há mais de um século e os coelhos desde 1940.

– Tradições religiosas são mantidas em várias cidades suíças.

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