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Oito coisas para saber sobre o São Gotardo

O São Gotardo conecta ou separa, dependendo do ponto de vista, o norte e o sul da Suíça e Europa. Keystone

Em primeiro de junho os holofotes estão voltados para o São Gotardo e a abertura do túnel ferroviário mais longo do mundo. O São Gotardo é, contudo, muito mais do que "apenas" um buraco na montanha. Nesse artigo multimídia da swissinfo apresentamos os aspectos mais importantes e curiosos deste símbolo nacional da Suíça.

Monte Tremulo, Mons Ursarie, Mons Elvelinus e Monte Sancti Gutardi. Os nomes dados no passado para o que hoje é conhecido como o São Gotardo são diversos. E muitas são as histórias, os significados e visões que ao longo dos séculos têm circulado em torno deste maciço montanhoso. Massiva e não-montanha: não existe outra montanha com esse nome.

1. O São Gotardo é um mito

Ponte do Diabo e a garganta Schöllenen nessa litogravura de Kaspar Ulrich Huber, por volta de 1860. AKG

Teatro do juramento de fidelidade entre os primeiros suíços em 1291 e o local de resistência contra a ocupação austríaca, o São Gotardo está cercado por uma aura única. Nem o Matterhorn ou outras montanhas suíças simbolizam tanta coisa: o São Gotardo é o berço da Confederação Helvética, o centro dos Alpes, eixo de trânsito de importância fundamental, berço dos grandes rios da Europa, uma encruzilhada de culturas da Suíça e símbolo da independência, coesão e identidade do país.

Um amálgama que o professor de história medieval na Universidade de Neuchâtel, Jean-Daniel Morerod ressaltou em entrevista à swissinfo.ch como “a coincidência da importância comercial do São Gotardo, no século XIII, e a revolta das comunidades contra os Habsburgos”. Para o escritor Peter von Matt, o São Gotardo pode ser considerado uma espécie de “montanha suíça do Sinai”, que ajudou na “autoglorificação da Suíça”.

Nem tudo o que é dito sobre o São Gotardo é verdade, no entanto, como ilustrado por Peter von Matt nesta entrevista. Durante muitos anos acreditou-se que o São Gotardo seria mais alta montanha nos Alpes, uma crença refutada apenas no século XVIII, como escreve o historiador Ralph Aschwanden.

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2. O São Gotardo é uma fortaleza militar

Em julho de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto a Europa é invadida pelos nazistas, a Suíça neutra se fecha como uma ostra em torno do São Gotardo. O general Guisan adota a estratégia do “Réduit“, uma ampla rede de fortalezas construídas nas montanhas da região alpina e, nomeadamente, o São Gotardo.

Nas montanhas os operários escaravam abrigos, túneis, fortes e bunkers. A “Fortaleza de São Gotardo”, cuja construção já começou durante a Primeira Guerra Mundial, tornou-se uma rede de fortificações militares que persistem em parte até hoje. Damian Zingg, chefe-operador da Fundação Sasso São Gotardo, nos guia por dentro do forte Sasso de Pigna, construído entre 1941 e 1943 e coberto pelo segredo militar até 2001.

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Na fortaleza do Gotardo

Este conteúdo foi publicado em Localizado a 1.540 metros de altura, a fortificação dá vista para o vale do Formazza, Itália. A construção foi concluída em 1942 e ampliada nos anos seguintes. Poderia acomodar até cinqüenta soldados. (Foto: Carlo Pisani, swissinfo.ch)

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Nessa aprofundada reportagem multimídiaLink externo da swissinfo, apresentamos outras imagens e filmes do São Gotardo e sua história.

3. O São Gotardo é mais longo túnel ferroviário do mundo

O São Gotardo já está acostumado com recordes. O primeiro túnel ferroviário, inaugurado em 1882, já era com seus quinze quilômetros de extensão o mais longo no mundo, um recorde que durou até a abertura do túnel do Simplon em 1906. O mesmo valeu para o túnel da autoestrada (16.9 km), inaugurado em 1980, que depois perdeu o primeiro lugar para túnel de Lærdal na Noruega (24,5 km).

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Com a inauguração do túnel de base do São Gotardo é estabelecido um novo recorde: 57.104 quilômetros esculpidos na rocha. Uma marca destinada a perdurar por vários anos, desde as grandes obras de construção, por exemplo, do túnel de base da linha Turim-Lyon, poucos metros mais curtos.

Os números excepcionais do novo túnel do São Gotardo vão além do seu comprimento. Aqui você pode encontrar as outras características impressionantes do projeto e descobrir o que relaciona o túnel ao Estádio de Wembley, em Londres, e o Empire State Building, em Nova York.

4. O São Gotardo está entre os túneis mais seguros do mundo

A Companhia Ferroviária Suíça (CFF, na sigla em francês) não tem dúvida: o túnel ferroviário do São Gotardo é seguro em todos os pontos de vista, seja para passageiros ou mercadorias. Os dois tubos monodirecionais evitam colisões e os diferentes sistemas de detecção se ativam em caso de incêndio, escapamento de gás, superaquecimento dos eixos dos vagões ou o deslocamento de carga. Os trens que não correspondem às normas são parados antes de entrar no túnel.

A cada 325 metros, duas galerias laterais ligam os dois tubos e permitem os viajantes de acessar rapidamente as áreas protegidas em caso de urgência. Se um trem faz disparar o alarme, o comboio é automaticamente conduzido para uma das duas estações de socorro (Sedrun ou Faido). Olhando para o interior da montanha, percebemos o complexo sistema de túneis e galerias e a maneira como funciona o sistema de segurança. 

5. O São Gotardo aproxima o sul e o norte da Europa

Milão como subúrbio de Zurique? Com a entrada em serviço do túnel de base do São Gotardo e a conclusão de toda a linha, em particular do túnel do Monte Ceneri, a capital econômica da Suíça e essa importante do norte da Itália estarão mais próximas. A viagem durará menos de três horas (contra quatro atualmente).

Em um contexto mais amplo, a linha do São Gotardo representa uma das principais ligações através dos Alpes e um dos corredores ferroviários mais importantes da Europa para o tráfego de passageiros e mercadorias. 

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Mas o sucesso da obra e a possibilidade de transportar mercadorias entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo não depende somente dos trabalhos efetuados na Suíça. Nos países limítrofes, as linhas de acesso ao São Gotardo devem ser adaptadas e ampliadas. Você pode ver aqui o andamento dos trabalhos realizados na Itália e na Alemanha.

6. O São Gotardo é o túnel dos mineiros e engenheiros

Canteiro de obras do século, obra-prima da arquitetura ferroviária, jovem da Suíça para a Europa: o novo túnel de base do São Gotardo é uma obra de superlativos. Mas ela é, especialmente, obra do trabalho de centenas de mineiros, operários e engenheiros, a grande parte deles estrangeiros, que em condições extremas – com temperaturas chegando até a 40 graus Celsius – trabalharam dia e noite durante 17 anos. Um trabalho não sem risco, pois chegou a custar a vida de nove pessoas.

O suor e a paixão desses homens de macacões laranja foram documentados pelo fotógrafo da swissinfo.ch, Thomas Kern, que acompanhou uma equipe de mineiros até o fundo da montanha em 2009.

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Festa no buraco

Este conteúdo foi publicado em Clique na lupa do gráfico abaixo, em inglês, para ver em detalhes o túnel.

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7. O São Gotardo tem um futuro incerto

Nós não estamos falando aqui do novo túnel, mas da antiga linha de montanha. Com a entrada em operação do tráfego através da planície, no mês de dezembro segundo calendário previsto, o futuro da linha que liga Göschenen (Uri) e Airolo (Tessin) é incerto. A concessão para o transporte à longa distância irá expirar em 2017. Em seguida, será necessário decidir se ela continua ou se o destino da linha de trem de montanha será destinado, em parte ou inteiramente, ao tráfego regional.

A antiga linha ferroviária Gotthard está operacional desde o final do século XIX. Keystone

O futuro da linha de montanha poderá ser garantido por uma candidatura ao patrimônio mundial da UNESCO, estima o historiador Kilian Elsasser, que evoca nesse artigo as vantagens dessa decisão. Pouco apoiada pelo governo suíço, a opção UNESCO voltou à atualidade. Segundo a organização para a proteção do patrimônio arquitetônico Patrimônio SuíçoLink externo, a candidatura para a inscrição da linha na lista da UNESCO “será feita sem demora”.

Por seu lado, a fundação para o patrimônio histórico da CFF, a CFF HistoricLink externo, tem o objetivo de valorizar a linha de montanha ao propor passeio em trens históricos. Por exemplo, com a locomotiva elétrica RAe 1050, utilizada na lendária rede internacional Trans Europe Express. 

O trem elétrico Rae 1050 entrou em serviço em 1961. Keystone

8. O São Gotardo para (re)descobrir a pé

Vinte minutos para atravessar os Alpes. É o tempo necessário ao viajante para ir de Erstfeld, o portal norte do novo túnel de base em Bodio, no Ticino. Vinte minutos em que a história, mitos e lendas relacionadas ao São Gotardo vão fluir sem ser percebidos.

A caminhada não seria o melhor meio de (re)descobrir esse maciço e toda a região do São Gotardo? Foi o que dois jornalistas da swissinfo.ch fizeram para depois publicar suas histórias em uma grande reportagem multimídiaLink externo.

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Por dentro e por fora do São Gotardo

Este conteúdo foi publicado em O túnel ferroviário, aberto em 1882, custou a vida a 177 trabalhadores, substituindo o antigo caminho. Um túnel rodoviário de 17 km foi inaugurado em 1980, com um número menor de vítimas de acidentes de trabalho (53). Um segundo túnel ferroviário através do passo está em construção. As autoridades suíças esperam que haja menos de…

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Dependendo dos interesses, as opiniões e as experiências profissionais, o São Gotardo não deixa ninguém indiferente. Para o autor deste artigo, ele é sobretudo uma barreira que separa a Suíça italófona, ao sul, e a Suíça germanófona, ao norte, o lugar de nascimento até o emprego. Em termos de cultura, o estilo de vida e certamente também as condições meteorológicas, existe claramente duas versões do São Gotardo.

Adaptação: Alexander Thoele

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