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Receita para crescer

Humberto C. Antunes. swissinfo.ch

O brasileiro Humberto C. Antunes, CEO da farmacêutica Galderma, fala sobre o processo de integração da Spirig Pharma AG na Suíça, a estratégia de crescimento da empresa no mundo e seu estilo de gestão.

Depois de cerca de dez meses do anúncio da compra da Spirig Phama AG, em Egerkingen, cantão Solothurn, a multinacional Galderma, que tem sua sede mundial em Lausanne, inaugurou oficialmente sua entrada no mercado suíço. Agora batizada para os consumidores suíços como Galderma/Spirig, a farmacêutica já entrou ocupando a liderança em faturamento na área de dermatologia. 

O processo de integração, segundo o CEO da Galderma, o brasileiro Humberto C. Antunes, está em pleno vapor. Segundo ele, as culturas e os enfoques estratégicos são muito parecidos, o que tem facilitado significativamente a operação.  “Trata-se de uma situação de ganho para os dois lados. A Galderma aproveita o conhecimento único da Spirig no varejo e no setor de produtos sem prescrição médica na Suíça. E os produtos da Spirig ganham exposição global graças à presença mundial da Galderma”, afirma Antunes.

O executivo brasileiro, que assumiu a liderança da empresa em 2004, tem apostado na inovação como chave para o crescimento. A seguir, ele conta mais sobre a aquisição da Spirig, seus planos para a Galderma e seu estilo de liderança.

swissinfo.ch: A Galderma tem ido às compras nos últimos anos. A última aquisição foi a Spirig Pharma AG realizada em dezembro de 2012. Qual o foco da Galderma/Spirig na Suíça?

Humberto C. Antunes: Com a compra da Spirig, nos tornamos a líder em dermatologia do mercado suíço. O momento atual é muito oportuno para comemorarmos o início desta operação, já que também estamos lançando nossa linha de produtos para medicina estética e corretiva na Suíça, com os produtos Azzalure, Restylane e Emervel.

swissinfo.ch: Como tem sido esse processo de integração?

H.C.A.: Tanto a Spirig quanto a Galderma trabalham com o foco no paciente, nos profissionais de saúde e na qualidade dos produtos. As culturas, os valores e os enfoques estratégicos são também muito parecidos. A integração, então, tem sido fácil. Além disso, a região de Egerkingen conta com profissionais de boa qualidade, com bons trabalhadores. A fusão está sendo muito produtiva para as duas partes.

swissinfo.ch: Na época da compra da Spirig o senhor disse que o objetivo era transformar a Spirig Pharma AG, em Egerkingen, num centro de excelência para o mercado suíço. Como isso será implementado?

H.C.A.: Em Lausanne fica a sede mundial da Galderma, que concentra a operação central de todas as subsidiárias do mundo, das fábricas e a direção geral da companhia. A sede da filial Suíça fica a partir de  agora em Egerkingen. O time de Egerkingen já possui um conhecimento significativo na área de produtos de automedicação. Então, nosso objetivo é usar esse potencial já existente e transformar a operação em Egerkingen num centro de excelência mundial para produtos de automedicação. Isso já está acontecendo.

swissinfo.ch: O senhor mencionou há alguns meses que o mercado de tratamentos médicos para pele deve registrar um crescimento de 4% ao ano e os resultados da Galderma devem seguir na mesma direção, talvez numa velocidade ainda maior do que a do mercado. Qual é a sua estratégia para alcançar tal resultado?

H.C.A.: O mercado está crescendo em média 4%, mas nós temos registrado um crescimento maior que o do mercado. No total, nos últimos 10 anos, a Galderma tem registrado crescimento acima de dois dígitos, de 12% ao ano.

swissinfo.ch: Qual é a sua previsão para 2013

H.C.A.: Só poderemos ter essa informação quando fecharmos o ano.

swissinfo.ch: Segundo dados do mercado, metade do faturamento da Galderma é proveniente dos produtos sob prescrição médica, 27% dos produtos sem receita médica e 23% dos produtos corretivos e estéticos. Em qual dessas faixas se encontra o maior poder de crescimento?

H.C.A.: No mundo inteiro, a área que mais cresce é a de medicina estética. Trata-se de uma tendência muito forte. As pessoas estão buscando soluções médicas porque vêm que elas funcionam. Em vez de ficar passando creme todos os dias, lavar o rosto e o efeito acaba rapidamente, funciona você hidratar a pele por dentro, tratar as linhas glabelares. É um resposta a uma população que está envelhecendo e quer retardar esse processo. Mas essa não é a única área em crescimento. Quando o paciente vai ao médico buscar uma solução estética, outras questões acabam surgindo. Às vezes,  uma micose, às vezes, um câncer de pele. Ou seja, não se trata apenas de uma questão de beleza, mas também de saúde. Então, acabamos obtendo crescimento em todas a frentes: com os produtos que exigem prescrição médica, os de automedicação e os voltados para estética.

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swissinfo.ch: Inovação é um tema intrínseco ao mundo da indústria farmacêutica. Os processos exigem altos investimentos e tempo de desenvolvimento. Como a Galderma administra essa equação?

H.C.A.: Nós investimos muito em pesquisa de desenvolvimento. Quase 19% do faturamento anual é investido em pesquisa. A maior parte da nossa pesquisa vai para medicamentos, para o tratamento de doenças, principalmente acne, rosácea, câncer de pele e desordem pigmentarias. O futuro depende de inovação, de novas soluções para esses problemas. Existem tantas necessidades que é importante continuar melhorando. Não só desenvolvendo novos produtos, mas entender melhor a doença para poder oferecer o melhor atendimento.

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swissinfo.ch: Desde que assumiu a liderança da Galderma qual tem sido seu maior desafio?

H.C.A.: A questão é sempre responder às necessidades do mercado, desenvolver novos produtos. Inovação é o que nos leva para frente. Trata-se, sim, de um desafio estimulante, positivo. A Galderma cresceu umas dez vezes desde que entrei na companhia. E seguimos sempre olhando o mercado de forma otimista.

swissinfo.ch: Ainda são poucos os brasileiros liderando empresas fora do Brasil. O que falta aos profissionais brasileiros? Trata-se uma questão de oportunidade ou de perfil?

H.C.A.: Na verdade, existem, sim, muitos brasileiros em posições de liderança mundo afora. É que nós somos um povo com uma diversidade étnica muito grande. Então, às vezes, fica difícil identificar quem é brasileiro. Mas existe, sim. O executivo brasileiro é muito criativo, muito trabalhador. Entende de finanças como ninguém. Entende de inflação como ninguém. Entende de diversidade como ninguém. No momento de uma crise, como a que houve há cinco anos, nós, executivos brasileiros, nos saímos muito bem.

Acontece que países muito grandes, como Brasil, Estados Unidos e China, têm também um mercado doméstico relevante. E os executivos têm muitas oportunidades de desenvolvimento dentro do próprio país. Atualmente ocorre um outro fenômeno interessante, em que companhias brasileiras, com gestores brasileiros, se tornam multinacionais. É o caso da Vale, Ambev, a Gerdau, por exemplo. Ou seja, os executivos brasileiros estão em todas as frentes e não perdem em nada para os estrangeiros.

swissinfo.ch: Gerir um time com culturas completamente diferentes é sempre um desafio. Qual a sua receita para comunicação com os funcionários?

H.C.A.: É preciso dar uma sensação de propósito para as pessoas, uma missão, uma ambição que seja comum. E nós da Galderma temos uma missão muito clara, que é servir ao paciente de dermatologia com soluções médicas. Depois, há um conjunto claros de valores, que todos funcionários, no mundo inteiro, entendem, que inclui o respeito ao paciente, respeito à pessoas, às leis, ética, honestidade. E esses valores devem ser comunicados para todo mundo. Tendo os valores como base, depois é comunicar intensamente a estratégia.  Eu já morei em 8 países diferentes e já vivenciei diversas culturas mas, no final das contas, o que vale são os valores, o fato de que todo mundo quer trabalhar, quer entregar um resultado de qualidade. Nós temos a sorte de ter na companhia quase 5 mil empregados que têm valores iguais ao nossos, são éticos, querem trabalhar e servir ao paciente.

swissinfo.ch: Já ouvi comentários dizendo que o senhor é um gestor ‘camaleão’, ou seja, tem essa capacidade de falar a linguagem de cada grupo diferente de funcionários. O senhor concorda com essa afirmação? É mesmo uma qualidade?

H.C.A.: É verdade. Minha mulher me fala a mesma coisa. Eu me adapto muito ao lugar onde estou, com facilidade. Eu tenho prazer de interagir com as pessoas. E quando se tem prazer em interagir com as pessoas, você entra no mundo do outro. Eu gosto muito de entender novas culturas, entender novos pontos de vista. Não sei se a palavra camaleão é a palavra certa, mas o fato é que me adapto muito bem. Eu acho que o ser humano tem uma capacidade enorme de adaptação. É preciso estar aberto, entender que existe beleza em cada interação humana.

swissinfo.ch: Quais os seus planos para Galderma Brasil?

H.C.A.: A Galderma do Brasil está indo super bem. É a segunda maior subsidiária do mundo da Galderma (a primeira é dos Estados Unidos). Tenho muito orgulho da equipe brasileira. Tenho muito orgulho dos dermatologistas brasileiros. Eles estão entre os melhores do mundo. Se eu tenho um problema de dermatologia sério, eu vou para o Brasil. Se quiser ajeitar algo esteticamente, vou para o Brasil. O pessoal é muito bom, muito criativo e muito orientado ao paciente. Do outro lado, o paciente brasileiro também tem mente aberta, entende o valor da solução médica.

swissinfo.ch: O senhor provavelmente está acompanhando a iniciativa que estabelece que o salário dos executivos não deve superar em 12 vezes o menor salário da empresa. Qual a sua visão sobre o assunto?

H.C.A.: Acredito que essa iniciativa é absurda. É até injusto que, por exemplo, um médico que passou mais de 18 anos estudando, se atualizando, que é um dos melhores cirurgiões do mundo, que passa 14, 16 horas por dia trabalhando, tenha uma limitação da renda em relação ao salário de uma outra pessoa, que tem outras prioridades na vida. Sem nenhuma crítica a quem teve outras prioridades na carreira ou escolheu outro caminho. Só acredito que esse tipo de questão não se pode ser estipulada por lei. Pela oferta e demanda, sim. Gosto da homogeneidade da Suíça, com sua classe média forte, mas não acredito em imposição de remuneração por lei.

Humberto C. Antunes é CEO e Presidente da Galderma, uma das maiores empresas de dermatologia do mundo. O brasileiro entrou para organização em 1997, quando assumiu as operações da América Latina. De lá, Antunes seguiu para os Estados Unidos, onde liderou as operações da Galderma neste país. Em 2004, foi nomeado CEO.

Após completar o curso de Business Administration na Universidade de Nebrasca, continuou seus estudos em management na Johnson Graduate School of Management, Cornell University, Ithaca, NY, e IMD, em Lausanne.

Antunes tem significativa experiência internacional, é fluente em seis línguas. O executivo é casado e tem três filhos.

Fundada em 1981, joint venture entre Nestlé e L’Oréal

Vendas (2012): €1.59 bilhão, crescimento de 5,9% em relação ao ano anterior-

Número de funcionários em todo mundo: 4500

Produtos distribuídos em mais de 70 países

Cerca de 19% da receita são investidos anualmente na descoberta e desenvolvimento de novas drogas e acesso a tecnologias inovadoras

Produção de 1700 publicações (artigos) científicas, desenvolveu mais de 550 invenções e registrou 5500 requerimentos de patentes e patentes.

Centros de desenvolvimento e pesquisa: 4 (França, Suécia, Estados Unidos e Japão).

Plantas fabris: 4 (França, Suécia, Canadá e Brasil).33 afiliados em principais países nos cinco continentes.

Fundada em 2013, após aquisição da Spirig Pharma AG pela Galderma SA

Vendas: mais de CHF 40 milhões

Número de funcionários: cerca 240 funcionários

Sede: Egerkingen, cantão Solothurn

Gerente geral: Marc Wannhoff

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