Perspectivas suíças em 10 idiomas

Noites brasileiras em Montreux tiveram festa e boa música

Festa e alegria na sala Stravinski, sábado, 14 de julho. Keystone

Desde 1978, as músicas brasileiras têm espaço reservado em Montreux que, ao longo do tempo, tornou-se um dos mais conhecidos no mundo.

Inicialmente com uma noite, há anos que duas noites são reservadas à diversidade musical brasileira. Este ano, as atrações foram Alceu Valença, Beth Carvalho, Olum, Francis Hime e Maria Bethânia.

Há vários anos que os organizadores do Festival de Jazz de Montreux resolveram produzir duas noites brasileiras. Nos primeiros anos, a partir de 1978, era apenas uma.

Em 1978, o primeiro brasileiro a tocar em Montreux foi Gilberto Gil. Na Mesma noite, tocaram a banda A Cor do Som e Silvinho, músico potiguar que desapareceu da cena musical brasileira, lembra Mazola, primeiro produtor brasileiro a trazer artistas para o festival suíço e que, no ano que vem, completará 30 anos dessa presença.

30 anos de música brasileira

“Já estou discutindo com os organizadores do Montreux Jazz uma apresentação especial para 2008. Gostaria de incluir Gilberto Gil, o primeiro a se apresentar aqui”, afirmou Mazola a swissinfo, sem revelar outros detalhes do programa que pretende montar para o ano que vem.

Questionado acerca da pouca renovação que ocorre na programação brasileira do festival, Mazola reconhece que esse realmente é um problema.

“Depois que o festival cresceu e ficou mais complexo, não dá mais pra fazer loucura. Por um lado, existem artistas que fazem sucesso e ganham muito bem no Brasil, mas o festival não quer pagar os mesmos cachês justamente porque eles ainda não têm carreira internacional. De outro, existem grandes músicos e gente nova que poderiam vir mas o festival hesita porque teme pela bilheteria já que esses músicos não são conhecidos fora do Brasil” explica Mazola.

Depois da duplicação da noite brasileira, Mazola dedicou-se a programar encontros de músicos brasileiros em Montreux, desde 1999, com Elis Regia e Hernmeto Pascoal. Este ano, no domingo, 15 de julho, foi o encontro de Francis Hime com Maria Bethânia.

Francis Hime e Maria Bethânia

Os concertos foram realizados no Hall Miles Davis, uma sala menor e mais adequada aos shows acústicos. Apesar da longa carreira e das parcerias célebres, era a primeira vez que Francis Hime se apresentava em Montreux.

“Estou muito feliz até porque estudei na região nos anos 50 e me lembro dos concertos de música clássica que eu vinha ouvir aqui”, afirmou o compositor em entrevista exclusiva a swissinfo (ouça os áudios na coluna à direita).

Ao piano, acompanhado pelos músicos da ótima banda de Bethânia, Francis Hime desfilou temas conhecidos das parcerias com Chico Burque, Gilberto Gil e Vinicius de Moraes, e uma música nova, “Existe um cêu”, sobre um o poema de Geraldo Carneiro. “Estou numa fase de compor muito, afirmou a swissinfo. Tenho umas 150 músicas inéditas, com ou sem letra, explicou, para dizer que não está em crise de criação.

Maria Bethânia hesitou muito tempo a se apresentar em Montreux mas, na terceira vez, neste domingo, mostrou que já passou a ser, também aqui, idolatrada pelo público. Cantou essencialmente temas regionais nordestinos, sobretudo os que têm o mar como tema e outros ligados ao camdomblé, num tom que parece cada vez mais místico. As exceções foram algumas cirandas e a bela interpretação de “Copacabana”, de Tom Jobim, tantas vezes cantada e gravada.

Ao final, Bethânia e Francis Hime fizeram o “bis” com Francis ao piano elétrico ao invés do acústico de seu concerto. Tudo isso no domingo, 15. Infelizmente, como vem sendo praxe, Bethânia evitou todo contato com a imprensa, brasileira e suíça.

Alceu, Beth Carvalho e Olodum

No sábado, 14, no auditório Stravinski, era dia de festa com o tema declarado de “Carnaval”. Esta é uma das noite com melhor bilheteria de Montreux e importante, portanto, para o equilíbrio das contas.

Começou com Alceu Valença comemorando os “100 anos do frevo”, no primeiro espetáculo comemorativo fora do Brasil. “Vamos fazer um giro pelo Brasil, depois do DVD que gravei no Recife onde havia 140 mil pessoas, mas no exterior é a primeira vez, declarou em entrevista a swissinfo (ouça a entrevista na coluna à direita).

Alceu cantou muito frevo mas, numa boa parte do show, sem os seis metais, cantou as músicas suas mais conhecidas do público que lotou o auditório Stravinski.

Depois de Alceu entrou Beth Carvalho e o público, que havia sido fervido com Alceu, sambou mais de uma hora com a ‘madrinha’. “Estou pela quarta vez em Montreux mas sempre procurei mudar, trazer alguma novidade”, afirmou a swissinfo (ouça o áudio na coluna à direita).

Beth cantou vários temas realmente para o povo dançar mas intercalou com músicas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Dona Ivone Lara e Tom Jobim, que até se ouvia as pessoas murmurarem quando não era para dançar.

A cantora carioca se sente como “embaixadora” do Brasil quando canta no exterior porque, afirma ela, “brasileiro não tem saudade, tem banzo, e então têm um carinho grande por mim porque sabem que eu amo o Brasil e nosso país é único”, declarou.

Mas o tema “Carnaval” foi respeitado inteiramente pelo Olodum e não podia ser diferente. Durante quase uma hora e meia, o público, essencialmente composto de brasileiros nas noites de festa, dançou até quase a exaustão durante mais de uma hora e meia.

Uma curiosidade a respeito do Olodum é que o grupo está abertamente patrocinado pelo governo da Bahia. Dois dois lados do palco da sala Stravinski existem telões que passam detalhes do concerto, ao vivo. Durante toda a apresentação do grupo baiano, esses telões exibiram filmes de promoção do turismo, algo raro de se ver na Europa.

Nas noites brasileiras, na sala Stravinski, na parte maior da sala, mais perto do palco, as cadeiras são retiradas formando um grande espaço para as pessoas dançarem. O resultado é que as noites, sobretudo no calor de julho, terminam nas primeiras horas do dia seguinte.

swissinfo, Claudinê Gonçalves, Montreux

O Festival de Jazz de Montreux foi criado em 1967 por Claude Nobs, natural de Montreux. Desde essa data, mais de 4 mil grupos já tocaram no festival.

Desde o início, Claude Nobs, que continua sendo o diretor do festival,inistia que todos os concertos fossem gravados. 99% dos artistas que se apresentaram foram filmados.

Isso representa quase 5 mil horas de vídeo, uma documentação audiovisual única de 40 anos de música.

Através de um acordo recente, esses arquivos serão preservados graças à técnicas modernas desenvolvidas pela Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).

A 41a edição do Montreux Jazz Festival começou dia 6 e vai até dia 21 de julho. Montreux fica na região oeste da Suíça.

A parte paga do festival este ano tem 32 concertos; a parte gratuita tem 280 concertos.

Os concertos pagos ocorrem em duas salas: o Auditório Stravinski e Hall Miles Davis. Os concertos gratuitos ocorrem em vários pontos da cidade.

Durante sua longa história, muitos discos foram gravados ao vivo – inclusive um com Elis Regina e Hermeto Pascoal.

A música brasileira tem presença fixa em Montreux desde 1978.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR