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O mundo de Giacometti em dupla exposição em Paris

Cartaz da exposição no Centro Pompidou swissinfo.ch

Duas grandes exibições na capital francesa dissecam a obra e o mundo do escultor suiço Alberto Giacometti.

“O ateliê Giacometti”, no Centre Pompidou, abrange quase todos os aspectos do trabalho do artista: são 650 peças, muitas delas até então inéditas ao público. Já a exposição da Biblioteca Nacional da França estão as gravuras de Giacometti.

São duas oportunidades para mergulhar no universo criativo de Giacometti, observar suas buscas e experimentações. O suiço bebeu de várias fontes, literalmente desde o berço – o pai era pintor impressionista.

Além disso, ele participou intensamente do núcleo surrealista de André Breton. Mas foi nas suas peregrinações solitárias que Giacometti criou um estilo próprio, inclassificável.

40 anos no mesmo ateliê

A mostra do Beauborg, como também é carinhosamente conhecido o Centre Georges Pompidou, começa com uma viagem no tempo. Alberto Giacometti nasceu em outubro de 1901, em Borgonovo, um pequeno vilarejo de língua italiana no Cantão dos Grisões (leste). A fase bebê e a infância aparecem em quadros do pai Giovanni, e do padrinho Cuno Amiet. Em seguida, alguns exemplos das obras da adolescência e da chegada em Paris, no começo dos anos 20.

O percurso continua com uma sala dedicada a artigos de imprensa, principalmente da década de 50, quando Giacometti já é um nome conhecido. Revistas do mundo todo correm para mostrá-lo em pleno ‘working process’, com imagens clicadas pelos maiores fotógrafos do século 20: Cartier-Bresson, Brassaï, Man Ray e outros.

O ateliê da rua Hippolyte-Maindron, onde Giacometti viveu e trabalhou mais de 40 anos, perto do bairro de Montparnasse, torna-se um endereço mítico.

O espaço seguinte da mostra do Centre Pompidou é justamente consagrado a esse local onde Giacometti transformava sua visão do mundo, explorando e maltratando a matéria, brincando com asperezas e rugosidades, criando e destruindo.

O ateliê de Giacometti é recriado com os móveis e disposições originais. Uma tela de plasma superposta ao ambiente mostra um filme do artista em ação, em seu habitat original.

O galpão era um espaço modesto, com apenas 23m² e pé direito com mais de 4m de altura. Mas para abrigar o gênio criativo de Giacometti, o Beaubourg reservou mais de 1.700m² no último andar, com várias salas temáticas: a experiência surrealista, o homem e a árvore, a cabeça, trabalhos em gesso etc. Seus modelos mais assíduos também têm espaços próprios: Diego, Annette e a amante Caroline, última grande paixão de Giacometti. Tudo e todos transmutados em figuras longilíneas e retorcidas.

Anette levou as paredes

O prédio que abrigava o ateliê praticamente não existe mais. O artista morreu em 1966 e sua mulher, Annette, continuou vivendo na Hippolyte-Maindron até 1972, quando os proprietários pediram o espaço de volta.

Annette, que se transformou em zelosa guardiã da obra de Giacometti, não pensou duas vezes e foi embora levando várias paredes, verdadeiros blocos de anotações do artista, em formato gigante. Pedaços dessas paredes, com esboços, rabiscos e desenhos, estão na mostra, assim como fragmentos dos muros dos ateliês em Stampa e Maloja, na Suiça.

Gravuras

Além dessa exaustiva visão global do mundo Giacometti, a mostra de suas gravuras revela um outro lado do artista, suas experiência com o traço e outros suportes.

Ao contrário de Picasso, Giacometti trabalhou com a gravura de maneira não-contínua. A BnF apresenta uma seleção de estampas, matrizes, placas de estágios sucessivos, gravuras retocadas e desenhos preparatórios. Muitos itens estão sendo expostos ao público pela primeira vez.

swissinfo, Patricia Moribe, Paris

‘O Ateliê de Alberto Giacometti’ (L’Atelier d’Alberto Giacometti) fica em cartaz no Centre Pompidou, em Paris, até 11 de fevereiro de 2008.

Em cartaz, o acervo da Fundação Alberto e Annette Giacometti, seleção de obras da coleção do Centre Pompidou/Museu Nacional de Arte Moderna e empréstimos de outros museus e de coleções particulares.

‘Alberto Giacometti, Obra em Gravuras’ (Alberto Giacometti, l’oeuvre gravé) está em exibição no prédio Richelieu da Biblioteca Nacional da França, até dia 13 de janeiro de 2008.

Exemplares da coleção da Fundação Alberto e Annette Giacometti e seleção de livros raros dos departamentos de estampa e fotografia da Biblioteca Nacional da França (BnF).

Alberto Giacometti nasce em Borgonovo, região de língua italiana no cantões dos Grisões, em 1901. O irmão Diego é um ano mais novo. O pai, Giovanni, pintor impressionista de renome, participou da Bienal de Veneza em 1920.

Encorajado pelo pai, Alberto prossegue seus estudos de arte em Paris, a partir de 1922. Em 1926, ele se instala no ateliê da rua Hippolyte-Maindron. Em 1929 ele entra em contato com o movimento surrealista, do qual é expulso em 1935.

Sua primeira exposição monográfica acontece em 1932. De 1935 a 1941 é a fase solitária, em que ele explora o tema ‘cabeças’, e frequenta intelectuais como Balthus, Gruber, Simone de Beauvoir e Sartre.

Ele passa o período da guerra na Suiça, onde conhece sua futura mulher, Annette. Alberto volta a Paris em setembro de 1945 – o ateliê foi conservado intacto por seu irmão Diego.

Em 1947 Annette se muda para Paris e eles se casam dois anos depois. As décadas seguintes são de várias exposições e retrospectivas internacionais. Em 1962, ele é convidado da Bienal de Veneza e ganha o Grande Prêmio de escultura.
Alberto Giacometti morre em 1966, de câncer, em um hospital em Coire. Ele é enterrado no cemitério da família em Borgonovo. A viúva Annette morre em 1993, em Paris.

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