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O perfil sócio-demográfico dos brasileiros na Suíça

Esporte ou Cultura: os brasileiros da Suíça se manifestam em coletividade. Keystone

Por Safira Bezerra Ammann, Natal-RN, Brasil

Desde seu descobrimento até o século XX, o Brasil foi considerado um país-destino de imigrantes europeus e asiáticos, dentre os quais se destacaram os portugueses, os italianos, os alemães, os poloneses e os japoneses.

No século XIX, milhares de suíços deixaram sua pátria em busca de sobrevivência. O crescimento populacional, o clima frio e a topografia montanhosa da Suíça não permitiram trabalhar a terra de forma a colher bens agrícolas em quantidade e qualidade satisfatórias para alimentar e ocupar a população.

Os imigrantes suíços fundaram várias cidades no Brasil – sendo Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, a mais conhecida – e durante o século XX muitas empresas suíças, sobretudo industriais, instalaram-se no país.

Alguns suíços desempenharam papel destacado na sociedade brasileira, como o engenheiro ferroviário Robert Mange no campo da educação profissional e o padre Romain Zufferey que lutou pelos direitos sociais da classe operária em Pernambuco. O trabalho de Mange é citado em muitas publicações e a obra do padre Romain encontra-se relatada no livro “Padre Romano: Profeta da libertação operária” da autoria de M.C. Chaparro (Editora Hucitec, São Paulo, 2006).

12.100 brasileiros residentes legais na Suíça

Em meados da década de 80, o fluxo migratório inverte-se: mais brasileiros emigram, menos estrangeiros imigram; o número de estrangeiros naturalizados no Brasil diminui e o de brasileiros naturalizados na Suíça aumenta.

A partir de 2000 os fluxos migratórios dos brasileiros em direção aos países desenvolvidos intensificam-se consideravelmente. Estima-se que hoje um número equivalente à população do Estado do Rio Grande do Norte – perto de três milhões – reside no exterior.

Conforme os dados da Divisão Federal de Estatística (DFE) da Suíça, em 1985 residiam, legalmente, 1.254 brasileiros naquele país. Já em 2004, a colônia brasileira contou com 12.100 residentes permanentes legais, o que corresponde a uma taxa de incremento de 850%, em 19 anos. Enquanto isso, a taxa de crescimento demográfico no Brasil alcança apenas 40% em igual período, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A proporção de estrangeiros na Suíça – contando todas as nacionalidades – sobe de 14% em 1980 para 21% em 2003, ao passo que a participação dos estrangeiros na população do Brasil, despenca de 1,2% em 1980 para 0,4% em 1991.

Maioria dos brasileiros tem visto anual renovável

Dos 12.100 brasileiros, um terço possui um visto permanente e quase dois terços um visto anual renovável. Poucos são residentes não permanentes, com visto de menos de um ano de validade. Em torno de 350 brasileiros têm visto de diplomata trabalhando na embaixada, nos consulados e nas muitas organizações internacionais, estando incluídos, neste número, os familiares dos diplomatas.

Dos brasileiros residentes permanentes, cerca de 4% nasceram na Suíça, onde vale o ius sanguinis e não o ius soli, ou seja, os estrangeiros nascidos neste país não recebem automaticamente a nacionalidade suíça. Entretanto, 31 a conseguiram porque foram adotados por suíços (em 2003) e anualmente cerca de 400 se naturalizam, razão por que o número anual de brasileiros naturalizados suíços triplicou entre 1991 e 2004.

Os brasileiros são jovens e sua permanência média na Suíça é curta
A permanência média dos brasileiros gira em torno de cinco anos. Somente 0,5% encontra-se no país há mais de 30 anos do que se pode inferir que, após a aposentadoria, a quase-totalidade prefere regressar a sua pátria. A permanência curta é explicada pelo fato de que o fluxo imigratório cresce anualmente, de modo que a proporção dos que moram no país há apenas um ano aumenta constantemente.

A distribuição por faixa etária confirma o regresso dos migrantes ao país de origem quando alcançam a aposentadoria. Apenas 1% tem mais de 64 anos de idade, 60% estão na faixa de 20 a 40 anos de idade e 7% têm entre 15 e 19 anos. Estes últimos estão lá, via de regra, para estudar nos colégios com internato ou em escolas técnicas. Aproximadamente um terço dos brasileiros na Suíça são homens e dois terços mulheres.

Principais ocupações exercidas

Vale destacar que existe um preconceito amplamente difundido, tanto na Suíça quanto no Brasil, de que os trabalhadores não europeus legalmente residentes na Suíça – os africanos, asiáticos, latino- e norte-americanos – exerceriam preponderantemente ocupações subalternas e pouco dignas, desprezadas pelos suíços.

A realidade é diferente: 17% deles trabalham no setor secundário, 14% no comércio, proporção idêntica (14%) nos subsetores de informática, pesquisa e desenvolvimento (R&D) e no ramo imobiliário, 13% na saúde / bem-estar social, 12% na hotelaria e nos restaurantes, 8% na educação, 5% nos bancos, igualmente 5% na administração pública e o restante em outros serviços e no setor primário. Perto de um terço deles exerce ocupações de chefia na empresa.

Fontes:
Bundesamt für Statistik. Ausländerinnen und Ausländer in der Schweiz 2005. Spezialauswertung nach detaillierter Nationalität aller Herkunftsländer.

Zurique e Genebra são as cidades preferidas

Mais da metade dos brasileiros reside em cantões de língua alemã, o que é surpreendente, porque a aprendizagem desse idioma não somente é mais difícil do que o francês e o italiano, mas é falado em dialetos diferentes para cada cantão. No estado do Ticino, de língua italiana, a mais próxima ao português, moram 5% dos brasileiros e nos cantões montanhosos e frios, 4%, atraídos pelo mercado de trabalho, sobretudo a hotelaria, que oferece turismo de qualidade e altos salários.

Quase a metade reside em Zurique e Genebra que são as duas cidades com a maior qualidade de vida do mundo, com salários atrativos e um custo de vida elevado, e cerca de 300 moram no cantão de Lucerna, famoso pelo turismo de qualidade. Ali encontra-se a cidade de Weggis que hospedou a seleção brasileira em 2006.

Safira Bezerra Ammann, socióloga e assistente social, é natural de Caicó-RN, Brasil.

Obras, entre outras: “Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil”, Editora Cortez, 1987;

“Participação Social”, Editora Cortez, 1980

Co-autora, com Paul Ammann, de: “Cidadania, Exclusão e Migração”, publicação oficial dia 18 de agosto pela Liber Livros, Brasília.

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