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O sangue dos vivos para identificar os mortos

De 20 à 30 mil pessoas são vítimas anônimas Keystone

Muitos cadáveres das fossas comuns da ex-Iugoslávia ainda não foram identificados. A Comissão Internacional para as pessoas desaparecidas procura parentes, sobretudo na Suíça.

Graças a um método desenvolvido na Suíça, baseado na comparação do ADN dos mortos com o dos vivos, é possível identificar as vítimas.

A limpeza étnica que marcou o conflito da ex-Iugoslávia causou vítimas anônimas e o objetivo é idenficiar os corpos para que as famílias possam efetuar o luto.

Duas pequenas equipes de especialistas de Pristina (Kossovo) e de Sarajevo (Bósnia) estão na Suíça desde o início de outubro para coletar amostras de sangue junto ex-iugoslavos.

Elas começaram a coleta em Schlieren, perto de Zurique, e coontinuarão em várias cidades suíças, explicou Mustafa Ciczmic, responsável de uma das equipes.

“Nossa missão consiste em coletar alguns gotas de sangue de ex-iugoslavos que têm alguém da família na lista de desaparecidos”.

Um método caro e complexo

As amostras serão submetidas posteriormente a um teste de ADN em laboratório e os resultados serão comparados aos esqueletos de vítimas ainda anônimas.

“Esse método é muito caro e complexo mas é a única solução para identificar os corpos”, segundo Thomas Krompecher, diretor do Instituto Universitário de Medicina Legal de Lausanne, oeste da Suíça.

Esse médico suíço colaborou na elaboração, em 2000, desse método inédito.

Depois da guerra na ex-Iugoslávia – explica a swissinfo – era preciso identificar 25 mil pessoas (20 mil na Bósnia). Não eram vítimas do conflito mas vítimas “não confessáveis” da limpeza étnica.

A única maneira é montar o perfil genético das vítimas e comparar com amostras de sangue dos vivos que procuram um membro da família.

“Posteriormente, os computadores comparam o perfil genético dos vivos e dos mortos e, em função da lei da hereditariedade, permitem determinação a relação genéticas entre duas pessoas”, acrescenta o médico.

1.500 famílias a contactar

A coleta de sangue deve ser feita em um membro da família que tenha parentesco direto com a pessoa desaparecida (pai, mãe, irmão, irmã ou filhos). “Temos uma lista de 1.500 pessoas da ex-Iugoslávia na Suíça nessas condições”, afirma M. Ciczmic. Na maioria são bósnios mas também refugiados sérvios, albaneses ou croatas.

“Infelizmente, não temos o endereço de todas as pessoas e esperamos que essa viagem nos traga informações para contactá-los posteriormente. Também contamos com a informação de boca em boca”, afirmou o responsável.

Ele lança um apelo aos ex-iugoslavos da Suíça diretamente interessados para que chamem o n° 0038 761 809 103. As equipes esperam recolher pelo menos 500 amostras de sangue.

Segunda campanha européia

Essa é a segunda campanha do gênero organizada pela Comissão Internacional pelas pessoas desaparecidas (ICMP) e ocorre simultaneamente também na Áustria, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Eslovênia.

A ICMP foi fundada em 1996 pelo presidente estadunidense Bill Clinton. O trabalho começou solicitando à Cruz Vermelha a abertura de uma lista de inscrição às famílias que procuravam um parente.

“Esse operação permitiu recolher 20 mil nomes”, afirma Thomas Krompecher, que é membro da comissão científica da ICMP. Foi calculado que seriam necessárias cerca de 100 mil amostras de sangue de pessoas vivas para identificar os mortos.

Atualmente, com quase 60 mil amostras, a ICMP já fez metade da coleta. Nessa nova campanha européia, ela espera recolher entre 10 e 15 mil novas amostras.

Apoio da Suíça

O governo suíço apóia a ICMP desde 2001, com contribuições financeiras ao laboratório de pesquisas ADN em Sarajevo, na Bósnia.

Na assinatura de um acordo de doação este ano, o embaixador suíço em Sarajevo, Urs Breiter declarou que “é essencial que as famílias de pessoas desaparecidas recebam uma resposta às questões colocadas há tanto tempo.”

“A Suíça não contribue com a campanha de coleta de amostras de sangue mas participa dos trabalhos da comissão de pessoas desaparecidas e supervisiona os trabalhos dos laboratórios ADN”, precisa Asta Zinbo, da ICMP.

A campanha é financiada pela União Européia. Mas, acrescenta Asta Zinbo, mas “fazemos excepcionalmente campanha na Suíça devido o grande número de pessoas das regiões mais atingidas”.

swissinfo

Cerca de 370 mil ex-iugoslavos vivem na Suíça.
Desde 1998, 27.707 ex-iugoslavos pediram asilo político.
Os conflitos sangrentos dos anos 90 nas diferentes repúblicas causaram 350 mil mortos e 20 a 30 mil vítimas de limpeza étnica.
As pessoas interessadas podem contatar a CMPI no telefone: 0038 761 809 103.

– A Comissão Internacional pelas pessoas desaparecidas (ICMP) é uma organização não governamental fundada em 1997 para tratar do problema dos desaparecidos nos Bálcãs.

– Os laboratórios de pesquisa ADN permitem identificar os restos dos corpos graças à amostras de sangue coletadas de pessoas que têm parentesco com os desaparecidos.

– A ICMP tem uma lista de 1500 refugiados da ex-Iugoslávia na Suíça nessa situação. Ela espera coletar 500 amostras de sangue.

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