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Ex-policial brasileiro teria pedido asilo na Suíça

Em entrevista à portal suíço, Protógenes Queiroz afirma ter pedido asilo político no país. AFP

Segundo entrevista publicada em um portal suíço de informações, Protógenes Queiroz pediu asilo na Suíça. O ex-deputado-federal e ex-delegado da Polícia Federal brasileira alega que sua vida "corre risco" por conta de seu trabalho como delegado investigando a corrupção. 

O portal afirma que o dossiê foi entregue nesta quarta, 6, às autoridades federais helvéticas, que devem nos próximos meses avaliar o pedido. 

Publicada ontem no site de informações em francês Sept.Info, a entrevistaLink externo intitula Protógenes Queiroz como o “Eliot Ness brasileiro, um policial cujas investigações sacodem até a presidente Rousseff e seu antecessor Lula”. Ele teria procurado proteção no país devido às ameaças que sofreu. O ex-policial estaria vivendo em exílio na Suíça desde outubro de 2015.

Ao repórter do site, ele informou que veio à Genebra em 25 de outubro de 2015 para participar de uma conferência do Observatório de Criminalidade Organizada, quando então tomou a decisão de ficar no país. “Por insistência dos meus antigos colegas, responsáveis de alto nível da Polícia Federal brasileira, que me advertiram e aconselharam especialmente de não sair daqui”, afirma o ex-policial, acrescentando que já conhecia a Suíça de outras ocasiões e também que vivia no Brasil com uma cidadã suíça.

Para Queiroz, os riscos que corre se retornar ao Brasil são consideráveis. “Se eu volto, serei executado. A minha vida está em jogo. A estrutura de corrupção atacada por mim quer a minha morte. Eu detenho muitos segredos e uma grande quantidade de documentos a esse respeito”, afirma, acusando ao mesmo tempo as autoridades brasileiras de terem retirado seus instrumentos de proteção.

Questionado sobre a condenação a dois anos de prisão por abuso de função, Queiroz explica que a Justiça brasileira o convocou a comparecer no dia 20 de abril para o cumprimento de pena. “Se não me apresentar, ela vai apresentar um mandato de prisão internacional e eu corro o risco de ser extraditado diretamente para a morte”, diz. Ele expressou temor em relação à Justiça brasileira. “Tenho medo, especialmente a partir do momento em que os juízes que acusei de corrupção correm atrás da minha condenação.”

Operação desmantelada

Na entrevista, Protógenes Queiroz conta que ao ser nomeado chefe do serviço de informações da Polícia Federal encarregada de operações especiais em 2003, uma das suas principais tarefas era proteger o presidente Lula de chantagens e ameaças mafiosas. Questionado sobre as origens dessas ameaças, o ex-policial acusa a Kroll, uma agência privada de espionagem dos EUA. “Nós descobrimos que eles espionavam o presidente Lula. Descobrimos escutas clandestinas visando a presidência.”

Ao falar sobre o caso Satiaghara (ver coluna abaixo), o ex-policial afirma ter sido apoiado por Lula no início, mas que após familiares do presidente em exercício terem supostamente se envolvido com um caso de corrupção, passou a ser perseguido internamente. “Satiaghra foi desmantelada pouco a pouco. As escutas revelavam contatos com pessoas que cercavam Lula e alguns acusados. Eu comecei a ser ameaçado e policiais de minha equipe também.”

Após a Justiça brasileira ter anulado a operação policial em 8 de julho de 2008, todos os acusados foram liberados. Queiroz afirma então que sua vida mudou completamente. “Eu escapei de quatro atentados. As três primeiras vezes, os assassinos me metralharam e, da última vez, tentaram me matar colocando uma bomba no meu carro. Tive muita sorte. Minha família também foi aterrorizada. Eles sequestraram minha filha de 14 anos na saída da escola. Eu consegui liberá-la. Finalmente enviei-a ao exterior.”

Ele afirma que nos anos que atuou como deputado-federal pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), continuou a combater a corrupção, mas que não foi reeleito “devido a fraudes massivas organizadas pelas empresas encarregadas do sistema de votos eletrônicos”. Ao ser condenado pela Justiça brasileira por abuso de poder, Protógenes Queiroz vê o ponto final na carreira. “Fui privado dos meus direitos políticos por dois anos e expulso dos quadros da Polícia Federal.”

O ex-policial afirma ter sido convidado por professores da Universidade de Genebra para fazer um curso de mestrado em direito econômico. Ele espera que seu pedido de asilo seja aceito pelas autoridades da Suíça. 

O caso em resumo

Protógenes Pinheiro Queiroz

Nascido em Salvador, em 20 de maior de 1956, Protógenes Pinheiro Queiroz entrou para a Polícia Federal em 1998. Nela, participou de diversas investigações de amplitude nacional.

O caso mais famoso foi a chamada Operação Satiagraha, cujo principal objetivo era investigar casos de desvio de verbas públicas, corrupção lavagem de dinheiro, envolvendo diversas personalidades políticas e do mundo dos negócios. Posteriormente diversas personalidades foram presas e depois soltas por habeas corpus.

No final, o delegado foi retirado do caso devido a “excessos” que teria praticado no exercício das funções. Em 2009, ele foi indiciado pela Polícia Federal por quebra de sigilo funcional e violação da Lei de Interceptações. Ele teria sido responsável pelo vazamento de dados secretos da Satiagraha. Em 2011, a operação foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em 2010 foi eleito deputado-federal por São Paulo, porém não conseguiu se reeleger na legislatura seguinte.

Em 2014 foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a dois anos de prisão. A pena foi convertida em prestação de serviços comunitários. Com a condenação, Protógenes perdeu o cargo do delegado da Polícia Federal. 


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