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Cidadãos de 2ª classe?

“É preciso levar à sério a insatisfação dos suíços do estrangeiro”

A diretora Ariane Rustichelli durante o último congresso da Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE), em agosto de 2019, em Montreux. Adrian Moser

Sem voto eletrônico ou candidato internacional eleito, e com o comparecimento dos eleitores em declínio, os resultados das eleições federais de 20 de outubro foram menos animadores para os suíços no exterior do que em 2015. 

Esses fatos são prova de que é necessário encontrar uma forma de relançar o voto eletrônico, diz Ariane Rustichelli, diretora da Organização dos Suíços no Estrangeiro (OSELink externo). 

A chamada “Quinta Suíça”, ou seja, os suíços residentes no estrangeiro, não repetiu este ano a façanha de ter um de seus representantes eleito para o Parlamento federal. Em 2015, o ex-embaixador Tim Guldimann, residente em Berlim, tornou-se o primeiro suíço do estrangeiro a conquistar um assento parlamentar em Berna, onde manteve o cargo até sua renuncia em 2018.

Quase 11% da população suíça reside no exterior. Dos cerca de 760.200 suíços no exterior registrados no final de 2018, aproximadamente 62% vivem na Europa.

21% dos suíços no exterior têm 65 anos de idade ou mais, ou seja, 162.500 pessoas. Em alguns países, esta proporção é superior a 25%. É o caso, por exemplo, da Tailândia ou da Espanha. Os homens são mais numerosos na Tailândia e menos numerosos em Espanha.

6% dos suíços no exterior têm 80 anos ou mais, ou seja, 45’700 pessoas. Os Estados Unidos têm a maior proporção de pessoas idosas em sua comunidade. 

França, o destino número um para os expatriados

Na Europa, a França possui a maior comunidade de suíços no exterior, seguida pela Alemanha e pela Itália.
Você poderá encontrar mais informações, gráficos e a tabela interativaLink externo do Departamento Federal de Estatísticas.

Privados de um sistema de votação eletrônica após a suspensão do projeto-piloto realizado pelo governo, os suíços do estrangeiro também participaram menos nas eleições do que há quatro anos. No cantão de Genebra, por exemplo, a participação caiu de 32% para 21%. Uma situação que inaceitável segundo Rustichelli.

swissinfo.ch: Este ano, nenhum dos candidatos da Quinta Suíça foi eleito. Por que?

Ariane Rustichelli: Tim Guldimann, que tinha o prestígio de sua antiga posição de embaixador, foi uma exceção. Ele estava presente frequentemente na mídia e também era conhecido no seu cantão de Zurique, o que é essencial para se eleger. Este ano, não havia personalidades suficientemente conhecidas dentro do país para atrair os votos necessários. As pessoas tendem a eleger alguém de quem já ouviram falar ou a votar nos partidos.

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Onda verde favorece partidos ecologistas suíços

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swissinfo.ch: Será ainda possível, no futuro, eleger um suíço no estrangeiro para o Parlamento?

A. R.: Espero que isto volte a acontecer. Seria bom ter um suíço do estrangeiro no Parlamento que pudesse testemunhar diretamente as dificuldades enfrentadas por essa comunidade. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e a crescente importância dos novos meios de comunicação, é concebível que em duas ou três legislaturas seja mais fácil realizar uma campanha à distância.

swissinfo.ch: No momento da sua renúncia, Tim Guldimann julgou ser “difícil viver em um lugar e fazer política em outro”. É possível cumprir o seu mandato de deputado corretamente vivendo no estrangeiro?

A. R.: Certamente existem limitações, mas pode-se contemplar formas de administrá-las. Uma forma poderia ser a participação por videoconferência em sessões de comissões parlamentares, que reúnem cerca de 15 pessoas. Na OSE, já utilizamos este sistema para as reuniões do nosso comitê, cuja maioria dos membros vive no exterior. Por outro lado, no que diz respeito às sessões do Conselho Nacional (Câmara dos Deputados), seria difícil implementar um tal sistema.

swissinfo.ch: As taxas de participação dos suíços no exterior estão em declínio em comparação com as eleições de 2015 em quase todos os cantões onde estas estatísticas estão disponíveis. Como você explica esta tendência?

A. R.: Na minha opinião, há três razões para isso. Obviamente, a primeira é o fim do voto eletrônico que, em 2015, era oferecido por quatro cantões. Nestes quatro cantões, a taxa de participação da Quinta Suíça foi também drasticamente inferior à de quatro anos atrás. A possibilidade de votar online tem, portanto, um impacto direto sobre a participação dos suíços no exterior.

“A possibilidade de votar online tem, portanto, um impacto direto sobre a participação dos suíços no exterior.” Ariane Rustichelli

Há também o fenômeno do desânimo. Os primeiros testes foram realizados em 2003. Em 2015, existiam três sistemas de votação online disponíveis e agora nenhum. A votação electrónica está retrocedendo.

Por fim, a campanha despertou poucas emoções. Além do clima, não havia nenhum tema específico sobre o qual os suíços do estrangeiro sentissem a necessidade de intervir. Se a questão europeia tivesse sido mais debatida, pode ser que eles tivessem participado mais por serem diretamente afetados.

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Suíços do estrangeiro dúvidam da validade da eleição

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swissinfo.ch: Os números mostram que a diáspora votou mais nos partidos verdes. Por que os suíços do estrangeiro são tão ecológicos?

A. R.: Não acho que os suíços no estrangeiro sejam mais ecológicos. No entanto, em muitos dos países em que vivem, os partidos verdes estão estabelecidos há mais tempo do que na Suíça e fazem parte da paisagem política e mediática. Talvez eles achem que este debate deveria também estar mais presente em seu país de origem.

swissinfo.ch: A vitória dos verdes é uma boa notícia para a OSE?

A. R.: Não posso dizer seja boa ou má notícia. No entanto, já temos contatos muito bons com parlamentares eleitos do Partido Verde ou do Partido Verde Liberal. Não concordamos em tudo, como é o caso com os todos os partidos. Quanto à questão da votação eletrônica, ainda não conseguimos encontrar um terreno comum. Compreendemos as preocupações deles sobre a questão da segurança da votação online, que também é fundamental para nós. No entanto, não é aceitável que 180 mil pessoas não possam exercer os seus direitos políticos. Devemos, pois, iniciar um diálogo direto e pragmático com eles.

swissinfo.ch: Há uma grande frustração entre os suíços no estrangeiro que novamente não puderam votar porque não receberam a tempo seu material eleitoral (n.r.: as cédulas e textos informativos). Alguns até disseram que queriam apresentar um recurso para invalidar a votação. Podemos seriamente cogitar essa possibilidade? 

A. R.: Um recurso não teria quase nenhuma chance de sucesso. Temos de ser realistas. Especialmente desde que o governo se recusou a reconhecer a votação eletrônica como um terceiro canal oficial de votação, equiparado ao voto na urna ou pelo correio.

A ira dos suíços no estrangeiro que não podem exercer o seu direito de voto deve, no entanto, ser levada a sério. Imagino que as pessoas que cogitam apresentar um recurso enfatizam a dimensão simbólica de sua ação. Eles querem dizer, “Não aceitamos um retrocesso!”

A Organização dos Suíços no Estrangeiro (OSELink externo) representa os interesses na Suíça dos cidadãos suíços residentes no estrangeiro. Ele informa os expatriados sobre eventos na Suíça e lhes oferece uma ampla gama de serviços.

A OSE conta com cerca de 650 associações e instituições suíças vinculadas em todo o mundo. A organização, que existe desde 1916, é reconhecida pelas autoridades como a voz da Quinta Suíça. Ele fornece informações e conselhos sobre direito, seguro social e educação, bem como a publicação da “Revista SuíçaLink externo” e várias ofertasLink externo para jovens suíços no exterior.

Representando os suíços no estrangeiro

160.453 suíços no exterior são inscritos em um registro eleitoral para exercer seus direitos políticos e equivalem, em número, ao eleitorado de um cantão como Neuchâtel. Um eleitorado muito importante, portanto, e que continua a crescer. A defesa dos interesses destes cidadãos estrangeiros é, pois, uma tarefa essencial. Este é o papel do Conselho de Suíços no Exterior (CSALink externo), o porta-voz da “Quinta Suíça” reconhecida como tal pelas autoridades federais. Além deste órgão político de primeira linha, a “Quinta Suíça” conta também com um relé no Parlamento através do intergrupo parlamentarLink externo “Suíços no Estrangeiro”, que conta com cerca de 100 deputados sensibilizados à causa dos suíços no estrangeiro.

Adaptação: DvSperling

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