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Parlamento convoca rebelião popular para defender democracia na Venezuela

Deputado da oposição tenta conter simpatizante do governo Maduro na Assembleia Nacional, em Caracas, em 23 de outubro de 2016 afp_tickers

O Parlamento da Venezuela, controlado pela oposição, convocou uma rebelião popular e a pressão internacional, ao denunciar um “golpe de Estado” do governo, após a suspensão do processo de referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Em uma tensa sessão neste domingo, que ficou brevemente suspensa pela invasão de grupos chavistas no plenário, a Assembleia Nacional divulgou uma resolução final, denunciando “uma ruptura da ordem constitucional” cometida “pelo regime” de Maduro.

Nesse sentido, decidiu “convocar o povo da Venezuela à defesa ativa” da Carta Magna “até conseguir a restituição da ordem constitucional” e “pedir à comunidade internacional a ativação de mecanismos” para o retorno da “democracia”.

O acordo também exige das Forças Armadas que “não obedeça, nem execute qualquer ato contrário à Constituição”.

No início do debate, Ramos Allup afirmou que a sessão poderia até discutir a abertura de um “julgamento político” contra Maduro. Após várias intervenções, o tema ainda não havia sido abordado até o momento.

Os deputados mencionaram um “abandono do cargo” por parte de Maduro, que está no Oriente Médio, assim como o delicado tema da suposta dupla nacionalidade – venezuelana e colombiana – do presidente. Essa condição poderia torná-lo inabilitado para exercer o cargo.

O Parlamento também decidiu “proceder de maneira imediata” à substituição das autoridades do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). A oposição acusa ambos os órgãos de serem aliados do governo.

Ao considerar a resolução como uma “tentativa enganosa de copiar o golpe de Estado no Brasil”, o líder da bancada governista, Héctor Rodríguez, lembrou que, há dois meses, a Assembleia foi declarada em desacato pelo TSJ e que todos seus atos são considerados nulos.

Golpe

Um depois do outro, os deputados da oposição foram denunciando a existência de uma “ditadura” no país.

“O povo tem direito à rebelião (…) Na Venezuela, deu-se um golpe de Estado continuado, que teve seu ápice com o roubo do voto do referendo”, criticou o líder da bancada opositora, Julio Borges.

“Como vocês dizem que tem ditadura na Venezuela, se vocês conseguiram ganhar eleições?”, questionou a deputada governista Tania Díaz, ao classificar a sessão de hoje de “reality show”.

Os legisladores oficialistas também acusaram os opositores de tentar dar um golpe de Estado.

“Não tentem aproveitar conjunturas difíceis para acabar com a pátria”, afirmou o deputado Earle Herrera.

“Promover um referendo revogatório não constitui em nada a desestabilização, ou golpe de Estado (…) são recursos que estão na Constituição”, respondeu Ramos Allup, ao encerrar a sessão.

Sessão tumultuada

Grupos de seguidores do governo venezuelano invadiram o Parlamento hoje e interromperam o debate sobre a suspensão do referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro, enquanto agentes de segurança tentavam contê-los.

Deputados governistas ajudaram a conter os simpatizantes de Maduro, os quais, com bandeiras venezuelanas e gritando palavras de ordem, conseguiram entrar à força na parte baixa do plenário e nos jardins da sede parlamentar, situada na zona histórica de Caracas.

Ramos Allup suspendeu a sessão imediatamente e convocou o líder da bancada do governo, Héctor Rodríguez, para uma reunião sobre essa situação irregular.

A invasão foi controlada pelos deputados da base governista e por agentes da Guarda Nacional. Duas pessoas com lesões leves foram atendidas na enfermaria da Assembleia.

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