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Partidos caçam votos de expatriados suíços

Os suíços do estrangeiro conseguirão desta vez ganhar sua primeira cadeira no parlamento? Keystone

Os partidos políticos suíços estão cortejando a grande comunidade de expatriados a fim de ganhar votos para as eleições legislativas federais de outubro.

Ao longo dos últimos anos, eles criaram filiais internacionais, sites especiais, realizaram debates políticos no exterior e criaram listas eleitorais para promover candidatos expatriados.

“Poucos suíços sabem quantos de seus compatriotas vivem no exterior”, diz o deputado Hans-Jürg Fehr, do Partido Socialista (PS). “Qualquer pessoa que arrisca um palpite vai chegar a um número muito menor do que realmente são. No entanto, a comunidade de mais de 700 mil expatriados é maior do que qualquer cantão, com exceção dos de Zurique e de Berna.”

Se o forte crescimento do número de suíços do estrangeiro tem passado despercebido, ele não é ignorado pelos partidos políticos. Há duas razões para isso: o número de suíços do estrangeiro que exercem o direito de voto aumentou quase dez vezes desde que eles foram autorizados a votar por correio, em 1992. Agora, mais de 135 mil estão registrados para votar nas eleições federais.

Além disso, a concorrência entre os partidos tornou-se mais acirrada desde a década de 1990. Eles não podem mais se dar ao luxo de negligenciar um reservatório de votos como o dos suíços do estrangeiro e, por isso, estão estendendo a caça de eleitores para além das fronteiras da Suíça, criando mais ramificações, maior presença online e organizando debates e reuniões.

E os políticos devem comparecer em peso ao próximo Congresso dos Suíços do Estrangeiro, que será realizado neste fim de semana em Lugano (sul).

Listas de candidatos

Mesmo sem grande sucesso, o número de suíços do estrangeiro que se candidatam às eleições legislativas tem crescido fortemente. Foram 15 em 2003, 44 em 2007 e há mais de 80 este ano. O Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) é particularmente ativo em arregimentar candidatos de fora, apresentando mais de 50 candidatos estrangeiros em oito listas eleitorais cantonais.

Atrás do SVP segue o Partido Socialista, com 14 candidatos em três listas. Na lanterna, o Partido Democrata Cristão (PDC) e o Partido Verde (Les Verts), ambos com apenas uma lista, no cantão de Genebra. Os liberais-radicais (PLR) conseguiram reunir apenas três candidatos em três cantões.

Mas por que é que o SVP está tão à frente quando se trata de apresentar candidatos suíços do estrangeiro?

“Nós nos limitamos ao cantão de Genebra, porque queremos focar os candidatos que moram do outro lado da fronteira, na França”, explica Tim Frey, secretário-geral dos democratas-cristãos.

“Esses candidatos podem participar fisicamente na campanha eleitoral. Não tem nenhum sentido multiplicar o número de listas cheias de candidatos desconhecidos, que residem em países distantes, como o Partido do Povo está fazendo apenas para atrair votos dos suíços do estrangeiro”, acrescenta Frey.

Cálculos eleitoreiros

“Renunciamos à ideia de juntar listas eleitorais especiais para os suíços do estrangeiro, porque estamos convencidos de que eles não terão nenhuma chance de sucesso”, diz Samuel Lanz, presidente da ala internacional do Partido Liberal Radical (PLR).

“Se levarmos a sério a defesa dos interesses dos nossos compatriotas expatriados então devemos dar-lhes uma voz no parlamento. Para isso, contamos com os nossos candidatos na Suíça, que estão empenhados em apoiar as reivindicações dos suíços do estrangeiro”, continua Lanz.

Miriam Gurtner, secretária-geral da área internacional do SVP, discorda: “Nossas listas eleitorais contribuem certamente para sensibilizar a população suíça da existência da grande comunidade de expatriados, pelo menos de suas reivindicações e direitos”.

“E estamos nos esforçando em integrar, tanto quanto possível, os candidatos residentes no estrangeiro nas nossas estruturas, por exemplo, nas comissões e assembleias de delegados do partido. Nós não só queremos integrá-los para as eleições, mas também na formulação de políticas para que eles possam contribuir com suas ideias.”

Apesar destes esforços, o socialista Fehr está convencido de que nenhum dos candidatos do estrangeiro será eleito este ano.

Circunscrição eleitoral especial

“A única chance de um suíço do estrangeiro conseguir ser eleito é criando um eleitorado para eles, que seria como um 27° cantão”, diz Fehr. “A iniciativa parlamentar com este objetivo – que foi lançada por um dos nossos membros – não conseguiu ganhar apoio suficiente no Senado há dois anos. Vamos abordar esta questão na próxima sessão do parlamento.”

Esta ideia, inspirada em modelos similares já existentes em outros países, não obteve o apoio dos outros principais partidos.

“É uma abordagem errada, porque os suíços do estrangeiro permanecem fortemente ligados ao seu cantão de origem. A criação de um 27° cantão significaria que perderiam seus direitos políticos em seu cantão de origem”, argumenta Lanz. “Eu acho que o problema não está no nível federal, mas na necessidade de se conceder mais direitos a nível cantonal aos suíços do estrangeiro”.

Frey também se opõe: “Ainda temos que avaliar esta proposta, mas parece ser contrária ao princípio do federalismo, em que nosso estado se baseia. Todos os suíços, incluindo expatriados, têm suas raízes em algum lugar do país”.

Seu ponto de vista é compartilhado por Gurnter. “Os suíços do estrangeiro não podem ser confinados a votar apenas em outros expatriados, mas devem ter a chance de votar em candidatos de seu cantão, se acharem que esses vão representá-los melhor”.

A proposta de uma circunscrição eleitoral especial no exterior (já aprovada pela Câmara dos Deputados) pode ter boas chances de ganhar a aprovação do Senado, se, mais uma vez, nenhum suíço do estrangeiro for eleito ao parlamento este ano.

Programado para os dias 26 a 28 de agosto em Lugano, na Suíça italiana, o Congresso 2011 dos suíços do estrangeiro tem como tema “A democracia direta no contexto internacional”.

Um dos destaques do encontro, o Conselho dos Suíços do Estrangeiro (26 de agosto), incluiu uma discussão sobre as eleições legislativas federais, com a participação de vários representantes dos grandes partidos da Suíça.

A sessão plenária (27 de agosto), aberta a todos os interessados, contará com a presença da Conselheira Federal (ministra)Doris Leuthard.

Para participar nas eleições legislativas federais, os suíços do estrangeiro devem se registrar em um cadastro eleitoral. O voto deles é contado com os do último município de residência na Suíça ou o seu local de origem.

Os compatriotas no estrangeiro podem eleger e serem eleitos em todos os cantões para a Câmara dos Deputados. Apenas 11 cantões concedem esse direito para o Senado.

Desde 1992, quando foi introduzido o direito de voto por correspondência, a participação política dos suíços do estrangeiro tem aumentado significativamente. No final de 2010, 135’877 suíços do estrangeiro estavam inscritos nos registros eleitorais.

Nas eleições de 2007, 44 suíços do estrangeiro se candidataram à Câmara dos Deputados. Nenhum deles, no entanto, conseguiu se eleger.

Partido do Povo Suíço: mais de 50 candidatos em 8 listas eleitorais especiais para os suíços do estrangeiro no cantão de Aargau, Basileia, Genebra, Grisões, Schaffhausen, Solothurn, Schwyz e Zurique.

Partido Socialista: 14 candidatos em 3  listas eleitorais para a Quinta Suíça nos cantões de Genebra, Zurique e Schaffhausen.

Partido Verde da Suíça: 6 candidatos em uma lista especial no cantão de Genebra.

Partido Democrata Cristão: 4 candidatos em uma lista eleitoral para os suíços do estrangeiro no cantão de Genebra.

 

Partido Liberal Radical: 3 candidatos nas listas eleitorais normais do partido apresentadas em Basileia, Berna e Zurique.

 

Partido Democrata Burguês: 1 candidato na lista do cantão de Schwyz.

Adaptação: Fernando Hirschy

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