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Starmus, o festival que acredita no poder da inspiração

Garik Israelian é atrofísico e músico. Brian May é músico e astrofísico. Do encontro dos dois nasceu StarmusLink externo, o festival para a mente, a alma e os sentidos.

Após três edições nas Ilhas Canárias e uma na Noruega, Starmus chega à Suíça graças à proposta do astronauta nacional Claude Nicollier e da marca Omega, cujos relógios estão nos pulsos dos astronautas da NASA há 50 anos. Há meio século, Neil Armstrong e Buzz Aldrin plantaram a bandeira americana na Lua. Mas antes, eles tiveram o cuidado de instalar uma folha de alumínio para coletar partículas de vento solar, já que é impossível fazê-lo na Terra. A experiência foi concebida na Universidade de Berna.

Em 1999, Garik Israelian comandou a equipe internacional que validou definitivamente uma ideia que havia assombrado astrônomos durante 200 anos. Depois das suas explosões em supernovas, que iluminam toda a galáxia, as estrelas gigantes murcham para se tornarem buracos negros. A descoberta lhe valeu uma citação de Stephen Hawking. Sem sombra de dúvida, Garik Israelian é um homem de peso. No entanto, o astrofísico de 250 publicações, o homem que trabalhou com ganhadores do Prêmio Nobel e que foi dar aula até na Austrália teve, tem e sempre terá outra paixão antes das estrelas: a música.

Glam versus Prog

Ela embalou seus primeiros anos em Erevan, a capital da Armênia, na época uma República Socialista Soviética. Nascido em 1963, ele viveu a explosão criativa dos anos 70 na adolescência, que lançou o rock para conquistar o mundo. Enquanto os “festeiros” se divertem no glamour brilhante, do qual David Bowie é apenas a figura mais famosa, os “nerds” preferem uma música menos primária, chamada rock sinfônico, flutuante ou progressivo (Pink Floyd, Genesis, Yes…), que ainda tem muitos fãs hoje em dia. Garik é um deles. Ele toca teclados e guitarra numa banda.

Aí chega o Queen, que reconcilia todos com o seu estilo que é ao mesmo tempo divertido e corajosamente “prog”.

“O Queen foi um choque para nós, e Brian May, o guitarrista deles, um verdadeiro herói. Quando eu tinha 17 ou 18 anos, nós até escrevemos uma carta para o fã-clube da banda para dizer o quanto nós os admirávamos. Mas qual era a chance de uma carta da URSS chegar à Inglaterra?”, ele se pergunta ainda hoje com um sorriso malicioso.

Fã de ficção científica

A astronomia mesmo, ele vai estudar mais tarde. O primeiro homem na lua não lhe deixou muita memória. No entanto, a mídia soviética chegou até a elogiar o triunfo americano no final, enquanto seu país tinha alcançado as vitórias por etapas – primeiro satélite artificial, primeiro homem, depois a primeira mulher em órbita, primeira saída no espaço, primeira sonda automática na Lua…

Após se formar astrofísico e se estabelecer nas Ilhas Canárias, perto de um telescópio óptico que ainda é o maior do mundo, Garik Israelian observa em 1997 enormes protuberâncias em Rigel, na constelação de Orion, uma das estrelas mais quentes do céu. E isso o inspirou a escrever um roteiro para um filme de ficção científica, outra grande paixão dele. “E se tais cataclismos ocorressem no nosso sol? Como reagiria a humanidade sabendo que tem 15 dias para se preparar para o pior?”

O encontro, vinte anos depois

O diretor do instituto onde Garik trabalha conhece Brian May. Estudante de astrofísica na altura em que o Queen se tornou famoso, o guitarrista inglês nunca perdeu o interesse pela disciplina (acabará obtendo seu doutorado em 2007), e vem regularmente às Ilhas Canárias.

“Enviei-lhe as dez páginas da minha sinopse e, duas semanas depois, recebi uma chamada dizendo: ‘Brian May está ao telefone, quer falar contigo’”. Vinte anos depois da carta dos fãs que nunca foi entregue, foi um choque. Estrelas brilham nos olhos do professor Israelian quando ele recorda esta lembrança.

O filme nunca saiu do papel, embora os dois homens que se tornaram amigos tenham tentado muito vender a ideia durante dois anos. Por outro lado, nasceu a ideia de Starmus (para “stars and music”, estrelas e música). Objetivo: inspirar o espectador, fazer com que ele queira se interessar pela ciência, e talvez acender nos mais jovens a centelha inicial de “um fogo que queimará para o resto de suas vidas”.

Caderninhos de endereços

Ao reunir seus respectivos cadernos de endereços, os dois sócios conseguiram montar um impressionante painel de palestrantes na primeira edição, realizada em 2011, em Tenerife e La Palma. A receita não mudou desde então: ganhadores do Prêmio Nobel, astronautas e músicos, para uma alternância de palestras públicas e concertos.

São muitos os nomes, uma olhada no programaLink externo da edição de 2019 prova isso. Basta dizer que Stephen Hawking era um frequentador assíduo, que quase todos os astronautas vivos do programa Apollo estiveram lá, com Alexei Leonov, o primeiro homem a ter caminhado no espaço, além de vários vencedores do Prêmio Nobel.

Quanto à música, além do sempre extravagante Brian May, Zurique receberá um herói dos teclados (Rick Wakeman) e um outro da guitarra (Steve Vai), além de Hans Zimmer, compositor vencedor do Oscar e praticamente compositor particular do diretor Christopher Nolan (da trilogia Batman, Inception, Interstellar).

O Festival Starmus acontece entre os dias 24 e 29 de junho em Zurique.

Adaptação: Fernando Hirschy

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