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Pioneiro Bertrand Piccard apresenta avião solar

O "pássaro solar" de Piccard tem uma envergadura de 63 metros. Keystone

Oitocentos convidados, entre eles o príncipe Albert II, de Mônaco, e o ministro suíço do Meio Ambiente, Moritz Leuenberger, festejam o novo sucesso de Bertrand Piccard: a apresentação do maior avião solar do mundo.

O Solar Impulse, apresentado nesta sexta-feira (26/6) próximo a Zurique, pretende romper as atuais fronteiras da engenharia e dar a volta ao mundo só com energia solar – uma aventura que, salvo engano, pode dar certo.

São Pedro foi generoso: apesar das previsões de tempo instável, o sol brilhou sobre Dübendorf, perto de Zurique, nesta sexta-feira. Qualquer outra coisa seria injusta. Quando o sol atingiu o zênite, Bertrand Piccard e André Borschberg tiraram pela primeira vez o véu que cobria o avião solar HB-SIA.

Seis anos de trabalho e 46 milhões de euros foram investidos no projeto até agora. As experiências de vôo feitas com este protótipo devem possibilitar daqui a três anos uma volta ao mundo exclusivamente com energia solar.

Não é o primeiro avião solar

O Solar Impulse não é o primeiro avião solar do mundo, mas certamente o projeto mais ambicioso. Em 1980, primeiros vôos tripulados foram bem-sucedidos nos EUA; em 1981, o Canal da Mancha foi sobrevoado com energia solar; e, em 2005, ocorreu o primeiro vôo noturno – ainda não tripulado – com energia solar armazenada em baterias.

O HB-SIA de Piccard, fabricado pela firma Décision S.A, em Eclubens (oeste da Suíça), deve unificar todos esses desempenhos e, já no próximo ano, decolar com um piloto a bordo e, com baterias carregadas de energia solar, permanecer pelo menos 36 horas no ar – portanto, também à noite.

Com isso, o HB-SIA terá cumprido seu objetivo de comprovar a navegabilidade e o funcionamento dos sistemas de propulsão e comando de uma aeronave tão maluca.

O avião é mais do que inusitado: suas asas têm uma envergadura de 63 metros (a mesma de um Airbus A340), mas ele pesa apenas 1600 quilos, dos quais um quarto só das baterias de lítio polímero. De resto, foram usados novos materiais superleves, alguns deles nunca antes testados.

Ele vai voar?

Agora é preciso comprovar que o HB-SAI de fato é capaz de voar, que as asas cobertas de células solares resistem às vibrações e às forças dos ventos durante o vôo.

Como o avião gigante só poderá atingir velocidades entre 35 e 70 km/h, também a habilidade do piloto será submetida a uma dura prova. “Depois do treino no simulador, temos de aprender passo a passo a voar esse aparelho”, disse Bertrand Piccard na apresentação.

O coordenador dos vôos de teste será o astronauta suíço Claude Nicollier . Os primeiros vôos experimentais serão realizados ainda este ano em Dübendorf e, mais tarde, em Payerne, no cantão de Vaud.

HB-SIB com cápsula de pressão

Se o HB-SIA cumprir o Piccard e sua equipe de 70 engenheiros espera, em 2011 será construído o HB-SIB, que então de fato tentará dar a volta ao mundo. Não em 80 dias e sim em cinco etapas de cerca de cinco dias cada, “o máximo que se pode exigir de um piloto”.

A rota seguirá a linha do Equador e, ao contrário do HB-SAI, o HB-SIB será equipado com uma cápsula de pressão. Isso é importante para que o avião não só armazene energia solar durante o dia, como também ganhe bastante altitude. E assim armazene energia cinética a ser usada ao planar à noite.

Impróprio para transporte de passageiros

Piccard e sua equipe não acreditam que a energia solar possa vir a ser usada para o transporte aéreo de passageiros.

Um pequeno cálculo diz tudo: com os 200 metros quadrados de células fotovoltaicas sobre as asas e uma eficiência de 12% de todo o sistema, os motores do Solar Impulse atingem uma potência média de apenas de oito cavalos ou seis quilowatts.

Mesmo com uma eficiência de 100% seriam no máximo 64 PS. Com isso é impossível fazer um jumbo decolar.

Sinal para a energia solar

Mas esse também não é o objetivo de Bertrand Piccard e de sua equipe. Segundo a descrição do projeto, o Solar Impulse pretende ser, em primeira lugar, um símbolo e um “embaixador” do uso de energia renovável.

Piccard está convicto que seu projeto será também uma vitrine para as tecnologias do futuro, sem as quais os problemas da humanidade, como a crescente escassez de recursos até a pobreza e as doenças, não podem ser resolvidos.

“Se um avião pode voar dia e noite apenas com energia solar e sem combustível, ninguém mais pode afirmar que tais soluções não são possíveis também para carros, aparelhos de ar condicionados ou computadores “, disse.

Ulrich Goetz, swissinfo.ch

Envergadura: 63,40 m
Comprimento: 21,85 m
Altura: 6,40 m
Peso: 1600 kg
Motores: Quatro motores elétricos de 10 PS
Número de células solares: 11.628 (10.748 sobre as asas, 880 sobre o estabilizador horizontal), 200 m2 no total
Velocidade máxima: 70 km/h
Velocidade mínima: 35 km/h
Altitude máxima de vôo: 8500 m (27.900 pés)
Orçamento total do projeto: cerca de 107 milhões de dólares financiados por patrocinadores

O psiquiatra, piloto eaventureiro suíço Bertrand Piccard ficou famoso em 1999 quando, junto com Brian Jones, foi o primeiro homem a dar a volta ao mundo em balão, sem escala, em 19 dias, 21 horas e 47 minutos. Ele tem aventura no sangue.

Seu avô Auguste, nascido em Basileia, conquistou fama mundial como homem que atingiu a maior altitude na estratosfera e que pesquisou as profundezas do mar.

O pai de Bertrand, Jacques tornou-se famoso em 23 de janeiro de 1960, quando, a bordo de seu submarino “Trieste”, atingiu junto com o colega norte-americano Don Walsh o fundo da fossa de Mariannes (ponto mais profundo dos Oceanos), a 10.916 m, no Oceano Pacífico, na costa do Japão. Jacques Piccard morreu em 2008, aos 86 anos.

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