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Uma firma suíça especial, com trabalhadores especiais

Homem trabalhando em fábrica
Polyval foi fundada em 1971 e hoje tem sete usinas no cantão do Vaud (oeste da Suíça). swissinfo.ch

Para a maioria das empresas é um desafio manter vivo o interesse de seus empregados no trabalho e, ao mesmo tempo, garantir a qualidade de seus serviços, preços competitivos e prazos de entrega.

Para a empresa da Fundação Polyval, sediada no cantão de Vaud, lidar com esses desafios é particularmente difícil. Desde sua fundação, a firma emprega exclusivamente pessoas com deficiências físicas, problemas psiquiátricos ou retardamento mental.

Quem passeia pelo grande terreno onde está instalada a firma, em Lausanne-Vernand, tem a impressão de que se trata de uma firma perfeitamente normal: alguns trabalhadores supervisionam atentamente o funcionamento de máquinas, outros montam componentes ou embalam produtos. E por volta do meio-dia, as oficinas se esvaziam uma depois da outra, e os trabalhadores vão para a cantina durante sua pausa para o almoço.

Acontece que a firma Polyval, é uma fundação sem fins lucrativos que emprega apenas pessoas com deficiência física ou mental, ou problemas psiquiátricos ou sensoriais; pessoas que de outra forma não encontrariam emprego no mercado de trabalho normal.

“Trata-se de beneficiários totais ou parciais do seguro social por invalidez IV que gostariam de se integrar no mundo ativo e, por extensão, na sociedade. Ainda hoje, o trabalho na Suíça tem um papel muito importante. Somente a chance de encontrar colegas no caminho para o trabalho ou na oficina e fazer algo produtivo já é um grande incentivo”, diz Hervé Corger, diretor substituto da Polyval.

“Desde o início nossa ideia era dar a essas pessoas trabalho de verdade, ou seja, trabalho produtivo e não uma atividade de fachada. Nós damos trabalho útil às pessoas para que mais tarde elas tenham chances no mercado de trabalho. E eu penso que a consciência de estar fazendo algo de valor é para muitos de nossos empregados até mais importante”, argumenta Corger.

Pessoas trabalhando em uma fábrica
Esses funcionários na usina de Lausanne-Vernand empacotam medicamentos. swissinfo.ch

Indústria fornecedora

Quando se observa o desenvolvimento da firma em seu quase meio-século de existência fica claro que esta foi uma ideia que trouxe frutos. Hoje a Polyval tem mais de setenta oficinas no cantão de Waadt com cerca de 450 empregados e 70 estagiários. Todos são beneficiários da assistência de inegração no mercado de trabalho do seguro social por invalidez IV. Outras 100 pessoas apoiam o trabalho como assistentes sociais ou responsáveis pela administração. 

A firma de caráter social-comercial tem hoje uma grande rede de parceiros regionais e mais de mil clientes: de pequenas e médias empresas até grandes multinacionais.

Ao invés de realizar a manufatura, a Polyval faz principalmente a montagem e finalização de produtos para seus clientes: trabalhos mecânicos, montagem de aparelhos, serigrafia ou cartonagem. Desde já há alguns anos, a fundação estendeu sua atividade ao setor de serviços: E-commerce, processamento digital de dados, embalagem de produtos e envasamento de medicamentos.

“Somos uma indústria fornecedora que atua em vários setores e isso nos permite oferecer um amplo espectro de serviços. Um de nossos maiores desafios é poder oferecer a nossos funcionários atividades variadas que levem em conta suas diversas deficiências, requerimentos ergonômicos e competências”, explica Corger.

Lavanderia
Outro setor onde a Polyval atua: lavanderia. swissinfo.ch

Alta taxa de absenteísmo

Outros desafios envolvem a adaptação da produção ao ritmo de trabalho dos empregados e uma maior taxa de absenteísmo, ou ausências, do que em outras empresas.

“Logicamente temos que enfrentar problemas quanto à constância e o tempo que o funcionário permanece no trabalho. No caso de deficiências físicas ou mentais, nós podemos ajustar o posto de trabalho, ou seja, o funcionário avança mais lentamente com o trabalho, mas permanece suficientemente estável. Com pessoas com problemas psiquiátricos isso normalmente é mais difícil; um dia um funcionário se sente bem, no outro, por algum motivo ele não tem condições de fazer seu trabalho”, diz Corger.

Uma dificuldade adicional se agravou na presente conjuntura econômica: “também nossos clientes requerem com crescente frequência que serviços sejam efetuados da maneira prescrita e dentro do prazo prescrito. Suas exigências são tão estritas para nós quanto para outras empresas”, conta o diretor substituto da Polyval.

“Isto é compreensível: um cliente que terceirizou um trabalho conosco também tem que respeitar prazos para poder entregar seu produto a seus clientes. Atrás de cada cliente se encontra quase sempre um outro cliente”, afirma Corger.

Como muitas outras empresas, a Polyval também passou por dificuldades depois que o banco central suíço liberalizou o câmbio do Euro em 2015. Muitos clientes pediram imediatamente reduções de preços, o que forçou a firma social a reduzir marcadamente suas margens de lucro. Também a Fundação, cujo orçamento é coberto em cerca de 30% pelo governo cantonal, está sujeita às leis do mercado.

Devido aos subsídios e ao emprego de deficientes, frequentemente paira no ar a suspeita de dumping de preços no mercado regional. “Tem-se que levar em conta que em comparação com outras firmas, temos uma infraestrutura muito mais complexa além precisarmos de numerosos assistentes sociais” diz Corger ao defender sua empresa.

Nós oferecemos nossos serviços a preços de mercado; às vezes ganhamos mas também perdemos concorrências. Eu acredito que hoje somos respeitados em primeiro lugar por nossa competência em diversos campos e pelo fato de sermos um parceiro de negócios local e confiável”.

Atmosfera descontraída

O que motiva beneficiários de seguridade social IV a trabalharem? “Muitos gostariam de ter um pouco mais de dinheiro à disposição, por que os benefícios da seguridade social IV não são tão elevados como muitos acreditam. Outras desejam apenas estarem ativos e não apenas sentados em casa sem fazer nada. Pessoas com deficiências sofrem frequentemente com a solidão. Às vezes temos que forçar funcionários a tirarem suas férias. Durante as férias eles saem de suas rotinas diárias e a solidão volta a atacar”, diz Corger.

Nas oficinas da Polyval existem funcionários que trabalham com concentração total, especialmente operadores de máquinas e instalações de todos os tipos. Outros funcionários trabalham em grupos em uma atmosfera descontraída e bem humorada.

Existem problemas no trabalho conjunto de pessoas com diferentes formas de deficiências? “Não, é semelhante a outras firmas onde há pessoas que se entendem melhor, e outras que têm mais dificuldades no convívio. Funcionários com uma deficiência sensorial trabalham normalmente juntos; eles usam a linguagem de gestos dos surdos-mudos e isto facilita. Mas com os outros, é uma questão de personalidade, como por toda parte”, diz Hervé Corger.

Adaptação: D.v.Sperling

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