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A segunda geração dos Sousa que procura fazer ressurgir a empresa

Homem sentado em escritório
Filipe Sousa no escritório, seguindo os passos do pai. swissinfo.ch

Filipe Sousa, filho do fundador da empresa Sousa Vins, ocupou diversos postos na empresa. Após anos em que o negócio floresceu, em 2014 estalaram os primeiros grandes problemas na empresa, que culminaram no afastamento do seu pai da direção. 

Filipe acabou por assumir a gestão e procura conseguir estabilizar a Sousa Vins, para que ainda tenha futuro. Em Neuchâtel, a swissinfo.ch encontrou uma empresa que procura recuperar dos difíceis anos recentes, mas que tem na experiência acumulada a chave para o futuro.

Quando os produtos portugueses eram desconhecidos

Em 1964, José Sousa chegava na Suíça. Deixava para trás os tempos difíceis, a repressão salazarista e a perspectiva de ir para a guerra no ultramar. O horário noturno do seu emprego permitiu-lhe arrendar uma garagem e, durante o dia, vender os produtos aos portugueses, que começavam a ser em número crescente. O avô de Filipe Sousa começou por trazer produtos de Portugal, principalmente garrafões de vinho, para consumo particular. O seu pai deu o passo seguinte: importação de alguns produtos para comercializá-los. “Foi assim que fomos crescendo, até ao ponto em que a camisa rebentou”, apesar de só ao fim de, aproximadamente, 40 anos ter acontecido.

A Sousa Vins iniciou a sua atividade em 1972 e, até meados de 2014, foi o líder na distribuição de produtos portugueses na Suíça, “hoje em dia deve haver cerca de 40 empresas do mesmo ramo”, que surgiram no seguimento da hecatombe da empresa. Filipe Sousa conta-nos com orgulho que todas as principais marcas de cerveja, café, vinhos, sumos, entre outros produtos de referência, “passavam por nós, antigamente. As grandes marcas entravam em contato conosco”, porque na sua opinião, eles foram um dos principais responsáveis pelo produto português ser conhecido no país helvético. Nos anos 90 surgiu um distribuidor espanhol, que importava e vendia produtos portugueses, “mas a concorrência era boa, também é importante lembrar que não estamos sozinhos”, salienta Filipe.

Um drama em dois atos

O nosso entrevistado salienta que até meados de 2011, a empresa tinha um volume de negócios anual em torno dos 30 milhões de francos suíços, “só que uma grande superfície abriu falência em 2012, e essa foi a primeira bofetada na Sousa Vins”, deixando-lhes uma dívida de 900 mil francos.

O segundo grande abalo chegou pouco tempo depois: uma das principais marcas de cerveja portuguesas foi adquirida por um grupo internacional e a Sousa Vins perdeu a exclusividade de venda da marca na Suíça. O contrato de exclusividade que tinham foi terminado unilateralmente e, de repente, tinham investido em dois camiões para fazerem a distribuição e tinham cerca de dois milhões e quinhentos mil francos em armazenamento que não iriam ser recuperados com facilidade. “Perdemos a distribuição nas grandes superfícies e ficámos apenas com restaurantes, cafés e pequenas lojas”, o que significou um decréscimo de 10 milhões anuais no volume de negócios, cerca de 30%, e, agregado a isso, “os fornecedores em Portugal começaram a entrar em pânico e a pedirem os pagamentos”. No meio deste turbilhão, das 60 pessoas que trabalhavam na empresa, restaram 12, e o pai de Filipe afastou-se da gestão devido a complicações de saúde. Contudo, Filipe Sousa também destaca, ” durante muitos anos foi tudo maravilhoso”.

O ressurgimento da empresa

Com as quebras que sofreram e a perda de confiança dos fornecedores em Portugal, a Sousa Vins teve de se reestruturar, “vendemos o prédio, reduzimos as despesas, negociámos pagamentos aos fornecedores. Agora, temos de ganhar novamente a confiança dos fornecedores porque se vendíamos 500 mil francos de uma marca e agora são 100 mil, o fornecedor não fica contente e procura outros parceiros”.

A empresa tem cerca de mil produtos portugueses referenciados no seu catálogo. Infelizmente, com o decréscimo das vendas, também deixou de ter os produtos disponíveis com tanta frequência como anteriormente. No entanto, os clientes continuam a acreditar nas competências e qualidade do serviço prestado, por isso, frequentemente procuram-nos para se abastecerem de produtos.

Depósito de mercadorias
Depósito onde são guardadas as mercadorias das lojas. swissinfo.ch

Quando questionado relativamente à sua clientela, Filipe Sousa assume que cerca de 80% são portugueses, apesar de haver restaurantes e pequenos supermercados suíços que apreciam os vinhos portugueses, vinho do porto, entre outros produtos. Outrora, cerca de 50% das vendas eram dirigidas à área do retalho, tendo retraído nos últimos anos, para cerca de 20%, “o resto vendemos tudo para grossistas”, conclui Filipe. O nosso entrevistado identificou ainda uma estratégia das grandes superfícies helvéticas, “como sabem que o português é bon vivant, acabam por colocar em destaque produtos portugueses a preços mais acessíveis para que depois possam vender outros produtos, onde conseguem obter maiores margens de lucro”.

Devido a estes momentos atribulados, tiveram de retirar todos os apoios que concediam a equipas de Neuchâtel, tais como: Neuchâtel XAMAX, Union Neuchâtel. “Dávamos sempre à comunidade mas tivemos de parar, eram montantes elevados para esta fase. Tivemos de nos focar naquilo que era primordial: dar a conhecer as marcas, tentar vender os produtos e mostrar que em Portugal há produtos de qualidade”.

Novas parcerias em Portugal

Para entrar nesta nova fase na vida da Sousa Vins, Filipe procura estabelecer novas parcerias em Portugal, “estamos a tentar introduzir produtos diferentes daqueles que já existem. Como, por exemplo, produtos caseiros, enchidos, chouriços, compotas, entre outros, que podem ter aceitação e conseguimos ter melhores margens de lucro”, partilha com a swissinfo.ch. Contudo, essa incursão requer alguma persistência para que os produtos possam convencer os clientes e começarem a marcar presença em diversas superfícies comerciais. Dessa forma pode ser aberta a porta a lojas gourmet, que também pertencem a grandes grupos de venda a retalho, particularmente de Zurique e de Genebra, por serem cidades com elevado poder de compra médio.

E o crescimento da empresa?

Filipe Sousa é peremptório quando o questionamos sobre o crescimento da empresa, “sou sincero, nesta fase, o que tenho de fazer é agarrar novamente a confiança dos fornecedores e encontrar novos”. Atualmente, apenas conseguem ter os produtos a pronto-pagamento, o que os obriga a ter necessidade de muita liquidez. Também gostaria de voltar a ter disponível a maioria do catálogo de produtos, “esse é o meu objetivo, pelo menos chegar a esse ponto onde estávamos, antes de tudo isto acontecer”. Filipe lamenta que não haja disponibilidade para voltarem a ter os produtos a crédito, pagando conforme a quantidade vendida, porque sente que teriam condições para “apanhar novamente o mercado, porque as pessoas ligam, só que faltam produtos e a concorrência tem-nos disponíveis. São 45 anos a trabalhar, há uma relação muito grande entre nós e os clientes”, sintetiza.

Apesar de tudo, ainda se pensa no futuro

A sinceramente com que diz que procura estabilizar o negócio, contrasta com a vontade de abraçar a nova ideia que tem para implementar: abrir um cash&carry de produtos portugueses. Como forma de “desenvolver um pouco aqui na zona de Neuchâtel e dar a conhecer os produtos portugueses”, resgatando uma ideia anteriormente ensaiada. Filipe diz-nos que o projeto tem bastante potencial, “porque é um espaço médio e não há nenhum armazém de venda ao público, exclusivamente de produtos portugueses”, na região de Neuchâtel. O seu objetivo é ainda abrirem no ano de 2018 para que consigam contornar as dificuldades e manter a Sousa Vins como um dos principais importadores de produtos portugueses na Suíça.

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