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Produtor português preside o júri do Festival de Locarno

"É importante poder se orgulhar dos filmes que serão premiados", afirma Paulo Branco. © Festival del film Locarno

Após as experiências de jurado em Berlim e Veneza, o produtor Paulo Branco preside o júri da competição internacional deste ano no Festival Internacional de Cinema de Locarno.

Com seus quatro colegas, ele deve selecionar entre vinte filmes o que irá receber no sábado à noite o Leopardo de ouro. E o português leva muito a sério seu papel.

Uma grande responsabilidade pesa sobre seus ombros. Os quatro membros do júri da competição internacional e seu presidente devem decidir qual dos filmes merece mais do que os outros receber o troféu e 90 mil francos de prêmio.

Uma tarefa nada simples frente à boa seleção em 2011. Apesar de adoecer logo ao chegar à Locarno, Paulo Branco afirma não querer poupar esforços para fazer a melhor escolha.

swissinfo.ch: Aos seus olhos, o que deve um júri como o do Festival de Locarno recompensar? 

Paulo Branco: Um grande filme, um bom cineasta ou um cineasta que promete. Locarno já permitiu o surgimento de grandes cineastas. Alguns deles não eram conhecidos no momento em que foram premiados. Já outros sim. Penso que há uma grande responsabilidade nas escolhas do júri, ainda mais que a competição é muito boa este ano.

swissinfo.ch: Como, concretamente, é ou será escolhido o Leopardo de ouro? Em que bases? 

P.B.: Você sabe, não existem regras. É como para o Prêmio Médicis (um prêmio literário francês), por exemplo: a ideia é permitir ao filme ter uma visibilidade internacional e de ajudá-lo, além disso. E que seu cineasta possa obter um reconhecimento, não apenas em relação ao próprio filme, mas que lhe permitirá também, se for um jovem, de continuar. E se ele já tem uma carreira, de obter um reconhecimento único. 

swissinfo.ch: Como o senhor identifica um grande filme? 

P.B.: Frente a uma obra de arte, como é que você sabe que se trata de uma grande obra? A grande obra é aquele que traz alguma coisa de diferente, que surpreende. É aquele que leva as pessoas a terras que não lhe pareciam ser possíveis e que se transformam em beleza. Eu penso na beleza no sentido geral, não figurativo.

Nós procuramos identificar alguma coisa que continuará conosco, que iremos nos lembrar ainda em seis ou oito anos, que nos traga algum elemento adicional, assim como para o público.

swissinfo.ch: Os membros do júri veem ao mesmo tempo os filmes? Os senhores discutem bastante entre si? Como funciona esse trabalho? 

P.B.: No nosso júri vimos praticamente todos os filmes juntos. Apenas um foi visto separadamente. Nós nos encontramos praticamente o tempo todo e conversamos entre nós. Temos duas ou três reuniões informais antes da definitiva, que ocorre na sexta-feira.

swissinfo.ch: Em Locarno, assim como nos outros festivais, a escolha do júri parece muito diversa da feita pelo público. Por quê? 

P.B.: Será que o van Gogh era conhecido na sua época? Será que vocês mesmos, na Suíça, reconheceram Robert Walser (escritor suíço) quando era vivo? Em Portugal, o Fernando Pessoa foi descoberto pelo público? Por isso é que considero esse desafio interessante, mas que me interessa. Estar presente e saber que, possivelmente, em alguns anos, um grande cineasta poderá dizer: “Foi graças à Locarno que sou quem sou.”

swissinfo.ch: O júri pode se enganar?

P.B.: Sim, evidentemente, sempre. André Gide, um dos grandes críticos na época, com poder de decisão na editora Gallimard, recusou o primeiro volume de Marcel Proust (escritor). É evidente que possamos nos enganar. Mas é lá que está a beleza. Existem por vezes filmes que nos parecem importantes e, com o tempo, compreendemos termos nos enganado. Mas a vida é assim mesmo.

swissinfo.ch: Qual a diferença que o senhor faz entre o Leopardo de ouro e o Prêmio especial do júri? 

P.B.: O Leopardo de ouro é para o filme que consideramos o melhor em todos os seus aspectos. O Prêmio especial do júri vai ao filme que pensamos ser também importantes, mas menos que o primeiro. Existe nisso uma espécie de escalonamento.

O que é também importante para nós – e é uma decisão tomada por mim – é que iremos dar os prêmios de atores aos filmes que consideramos bons. Não iremos premiar um bom ator em um filme ruim.

swissinfo.ch: Por que essa decisão? 

P.B.: Em primeiro lugar, eu não acredito que em um filme ruim os atores possam ser tão bons assim. Pois nesse caso, o olhar do diretor não é adequado para nós. E mesmo um grande ator não terá uma boa atuação em um papel desses.

Por outro lado, um ator está a serviço de um filme e não o contrário. É importante para nós de se orgulhar dos filmes que serão premiados.

swissinfo.ch: Como o senhor define seu papel de presidente do júri? 

P.B.: Meu papel é de tentar juntar os diferentes pontos de vista de cada um dos jurados, de me apoiar neles, de tentar de convencê-los e que eles me convençam. Se eu aceitei o convite, foi porque penso ter todo um trajeto no cinema, e não falo apenas do percurso profissional, o que me permite ter um olhar. Esse é um olhar com um mínimo de justeza, espero, mesmo se todo olhar sobre o cinema seja subjetivo.

Estar em um júri é uma grande responsabilidade. Por vezes, a composição de certos júris faz com que este se torne mais um jogo do que uma responsabilidade. Mas festivais como o de Locarno têm cada vez mais importância para abrir portas durante um período em que a circulação dos filmes é tão difícil, sobretudo para o cinema independente. É por isso que eu espero não me enganar. E se me engano, foi de boa fé e fazendo um trabalho verdadeiro. Eu levo muito a sério esse papel.

Presidido pelo produtor português Paulo Branco, o júri internacional é composto em 2011 pela diretora suíça Bettina Oberli, a atriz alemã Sandra Hüller, o diretor italiano Luca Guadagnino e o ator e diretor francês Louis Garrel.

Além do Leopardo de ouro, o júri atribui também quatro outros prêmios: o Prêmio especial do júri, a melhor direção e para os melhores ator e atriz.

Produtor português, Paulo Branco nasceu em 1950 em Lisboa. Ele começou sua carreira no cinema por volta dos anos 1970 em Paris.

Paulo Branco produziu mais de duzentos filmes, alguns de grande renome no cinema europeu. Seu trabalho já foi premiado com diversos títulos e retrospectivas.

Dentre outros, Branco já produziu filmes de cineastas como Manoel de Oliveira, Raúl Ruiz, Wim Wenders, Alain Tanner, César Monteiro, Chantal Akerman, Christophe Honoré, Andrzej Zulawski, André Techiné, Sharunas Bartas ou Jacques Doillon.

Adaptação: Alexander Thoele

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