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Programa nuclear do Irã é discutido em Genebra

Um manifestante diante da sede da ONU em Genebra. Reuters

O programa nuclear iraniano é o centro das atenções durante dois dias em Genebra. As discussões devem ser tensas com os cinco membros do Conselho de Segurança da Onu e a Alemanha.

Em entrevista à swissinfo.ch, o cientista político Mohammad-Reza Djalili, especialista do Oriente Médio e Ásia Central, fala do que está em jogo nas negociações.

Pela terceira vez em três anos, Teerã vem a Genebra falar de seu programa nuclear. O Irã, e seu chefe das negociações Aeed Jalili reencontra nesta segunda-feira (06/12) e amanhã o grupo “5+1” (cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido + Alemanha).

Enquanto o Irão é considerado pela comunidade internacional como suspeito de desenvolver a bomba atômica, por trás de um programa nuclear civil, as discussões devem ser tensas. Essa tensão aumentou ainda mais domingo (05/12) quando Teerã anunciou controlar a totalidade do ciclo de produção de combustível nuclear. Nesse clima, a retomada das negociações entre o Irã e os “seis” deixa os especialistas perplexos. São esperados poucos resultados ao final desse encontro de dois dias, como sublinha Mohammad-Reza Djalili.

swissinfo.ch: O senhor pode explicar-nos o contexto em que ocorre esse encontro ?

Mohammad-Reza Djalili:Os iranianos vêm a Genebra para mostrar que não abandonam a via diplomática. Mas, fundamentalmente, a posição deles não mudou. As últimas declarações do presidente Mahmoud Ahmadinejad e de outras autoridades iranianas indicam que o Irã é fiel a seus antigos objetivos e que, no plano nuclear, o país não quer ceder em nada.

Isso significa discussões bastante sombrias, porque até agora, não há flexibilidade do lado iraniano. Evidentemente, uma surpresa é possível, mas estou muito cético quanto a uma mudança repentina da posição iraniana.

swissinfo.ch: O que se pode esperar dessas discussões?

M. D.:
Ao meu ver, não vai acontecer muita coisa. Já houve um encontro em Genebra, há pouco mais de um ano. Foram feitas promessas, mas elas não foram cumpridas. Hoje, o Irã está numa posição um pouco mais frágil por várias razões. Primeiro, porque há um certo consenso entre os “5+1” e as sanções têm um impacto muito negativo sobre a economia iraniana. Enfim, o Irão tem problemas técnicos em seu programa de enriquecimento.

Será que esses três favores vão influenciar a posição iraniana? É difícil dizer, mas acho que esses fatores são secundários. O problema fundamental para o Irã é que ceder na questão nuclear e chegar a um compromisso é um sinal de fraqueza para o governo. Eu não vejo nenhum elemento indicando que ele aceitaria essa situação.

swissinfo.ch: Qual é o papel da Suíça no programa nuclear iraninao?

M. D.:A Suíça, mas também Genebra, e sobretudo a ONU em Genebra, são evidentemente dispostos a criar as condições para que haja negociações e se encontre uma solução para a questão nuclear. É um papel importante, mas é o mínimo que eles podem fazer, sem mesmo ter certeza que essas negociações terão algum resultado.

Entretanto, acho que as negociações são preferíveis a um confronto. Mesmo se, do lado iraniano, as negociações tenham como objetivo temporalizar. Essa vontade de ganhar tempo parece também convir à administração norte-americana, que tem muitos problemas atualmente. Então não vejo porque se evitaria uma reunião, mesmo se for preciso fazer outra dentro de seis meses ou um ano. É uma tendência que existe há oito anos: ganhar tempo..

swissinfo.ch : O que o senhor acha do fato que certas potências presentes em Genebra possuam armas nucleares, mas lutam para que outros países como o Irã não tenham?

M. D.:
Para evitar argumentar os riscos ligados à arma nuclear, partimos do pressuposto que só algumas potência têm acesso, isso pode evitar sua utilização. Parece que essa lógica funciona desde a assinatura do tratado de não proliferação nuclear; desde então, a arma nuclear não foi usada. Mas, se um país Oriente Médio se dotar da arma nuclear e que os outros sejam obrigados a fazer a mesma coisa, entra-se numa escalada incontrolável e que pode ter consequências muito negativas para a comunidade internacional.

Além disso, o Irã afirma que seu objetivo é o nuclear civil. Ele recusa-se a reconhecer que programa poderia ter uma dimensão militar. Se ficamos no âmbito do nuclear civil, todos os Estados têm direito. Mas eles devem aceitar, nesse caso, um controle muito minucioso da Agência de Viena, o que parece não ser o caso do programa iraniano. Isso cria dúvidas na comunidade internacional acerca dos objetivos reais desse programa.

No entanto, é certo que o tratado de não proliferação nuclear foi assinado em condições particulares e que é, de fato desigual. Contudo, é o único tratado que temos neste momento para tentar limitar a proliferação. Se um país como o Irã, que assinou esse tratado, não o respeita, isso será catastrófico para o sistema de controle do nuclear, porque as condições internacionais atuais não permitem negociar um novo tratado.

swissinfo.ch: Qual o conselho que o senhor daria aos participantes dessa reunião de Genebra?

M. D.:De realmente iniciar a negociações. Por enquanto, não estamos nas negociações; estamos apenas no nível de discussões. Para negociar, é preciso que fixar um contexto e que certos fatores sejam reconhecidos por ambas as partes. Ainda não chegamos a essa etapa estritamente necessária.

2005
8/08: Alguns dias depois da posse do presidente Mahmoud Ahmadinejad, o Irã retoma atividades nucleares em sua usina de conversão de urânio de Ispahan, suspensas desde 2004.

2006
10/01: O Irã abre às inspeções de várias centrais de pesquisa nuclear.
5/02: O Irã deixa de aplicar o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação.
11/04: O Irã anuncia ter feito seu primeiro enriquecimento de urânio (3,5%), depois 4,8%, em maio.
31/07: O Conselho de Segurança da Onu vota a resolução 1696, exigindo que o Irã cesse suas operações de enriquecimento, sob pena de sanções.
23/12: Sanções econômicas da Onu (reforçadas e março de 2007 e em março de 2008).

2007
9/04: O Irã anuncia ter passado ao enriquecimento industrial.

2008
26/07: Ahmadinejad declara que o Irã possui 5.000 a 6.000 centrifugadoras.

2009
9/04:O Irã inaugura em Ispahan a primeira usina de fabricação de combustível nuclear e anuncia ter instalado 7.000 centrifugadoras em Natanz.
5/06:O Irã acumulou 1339 kg de urânia fracamente radioativo UF6, estima a AIEA (aproximadamente 2.065 kg atualmente)-
25-28/09: Revelação de uma usina secreta de enriquecimento em Fordoo, perto de Qom, provoca muitas reações.
21/10: A AIEA propõe a Teerã que entregue grande parte de seu urânio fracamente radioativo à Rússia, encarregada de o enriquecer e depois transformá-lo na França em combustível para a o reator de pesquisa de Teerã. A proposta é rejeitada em 18 de novembro.

2010
9/02: O Irã começa a enriquecer urânio a 20% em Natanz.
18/02: A AIEA inquieta-se de informações segundo as quais Teerã poderia estar fabricando uma arma atômica.
6/05: O Irã convida para um jantar em Nova York os 15 membros do Conselho de Segurança da Onu.
17/05: O Irã, a Turquia e o Brasil adotam uma proposta de trocar, em território turco, combustível nuclear iraniano enriquecido a 20%. O Irã diz, no entanto, que continuará a enriquecer urânio a 20%.
05/12: Teerã anuncia controlar a totalidade do ciclo de produção do combustível nuclear.

Mohammad-Reza Djalili Nasceu em 1940 em Teerã e tem
dupla nacionalidade, iraniana e suíça. Ele vive há muitos anos na Suíça.

Cientista político especialista do Oriente Médio e da Ásia Central, ele é professor honorário no Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, em Genebra.

Ele não tem qualquer laço com Saeed Jalili, o negociador enviado pelo Irã a Genebra.

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