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Prostituição infantil atrai suíços ao Quênia

No Quênia muitas crianças se prostituem para ter algo que comer. imagepoint

Os turistas suíços estão na quarta posição da clientela da prostituição infantil no Quênia. Um estudo do UNICEF mostra que esse fenômeno está tomando proporções alarmantes nas cidades costeiras do país africano.

Cerca de um terço das meninas quenianas com idades entre 12 e 18 anos já tiveram relações sexuais em troca de dinheiro ou presentes.

Segundo a pesquisa realizada pelo UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância – cujos resultados foram publicados na quarta-feira (19 de dezembro), os próprios quenianos constituem 38% do total de clientes.

Os turistas italianos estão em segunda posição com 18%, depois vêm os alemães (14%) e os suíços (12%). Os ugandenses, tanzanianos, ingleses e sauditas seguem em ordem nesta listagem.

Bernard Boëton, responsável pelo setor de direitos infantis na ONG Terre des Hommes, constata que apesar das campanhas organizadas por várias instituições suíças e européias contra a exploração de crianças nas regiões turísticas do mundo, o fenômeno não diminui.

O único progresso se situa em nível jurídico. “O resultado dessas campanhas, tanto na Suíça como em outros países europeus, é que atualmente já é possível julgar pedófilos que atuam no exterior”, explica Boëton.

Não criminalizar as crianças

Por sua parte, as autoridades quenianas já estão obrigando os turistas estrangeiros a indicar o local de residência no país de origem, o que permite um melhor controle do deslocamento. Também o setor hoteleiro foi encarregado de denunciar comportamentos suspeitos.

“Os turistas e quenianos que abusam de crianças devem ser detidos, julgados pela justiça e condenados”, declarou o representante do UNICEF no Quênia, Heimo Laakkonen. Ele insistiu no fato de que as vítimas não devem ser criminalizadas.

“Esse tipo de estudo é útil para avaliar a amplitude do problema, mas a polícia queniana precisa agora fazer inquéritos sobre casos concretos. É necessário ter alguns exemplos. Apenas uma testemunha já seria suficiente para obter um processo”, avalia Bernard Boëton.

Causa principal: pobreza

Como ele explica, os dois maiores problemas continuam sem solução. “Em primeiro lugar, muitos representantes da polícia e da justiça quenianas ainda não sabem que turistas podem ser processados. Em segundo lugar, o governo também costuma fazer vista grossa pelo fato do turismo representar uma importante fonte de divisas para o país”.

Interrogados sobre sua atividade, mais da metade dos menores de idade dão como justificativa a pobreza das famílias. De fato, a prostituição é muito lucrativa em relação aos salários locais.

Por uma relação sexual com uma menina com menos de 16 anos, o turista costuma pagar não mais do que 20 euros. Porém as tarifas podem chegar, em alguns casos, até a 60 euros. Em comparação: um trabalhador queniano ganha, em média, quatro euros por dia.

Por um turismo responsável

“Essa situação encoraja as crianças a se prostituir para os turistas”, deplora o representante do UNICEF, “mas não ajuda a economia local a se desenvolver”.

Nos quatro distritos onde a organização realizou sua pesquisa – Mombasa, Kilifi, Malindi e Kwale – 15 mil meninas com idades dentre 12 e 18 anos tiveram relações sexuais ocasionais em troca de pagamento. Elas representam 30% dos jovens nessa faixa etária nesses distritos.

Ao mesmo tempo, entre dois e três mil jovens se prostituem durante o ano todo. A maior parte começou aos 12 ou 13 anos para ganhar dinheiro ou presentes.

“Essa realidade é chocante”, comentou o vice-presidente queniano Moody Awori. Ele denunciou a realidade como “um vício que continua a se desenvolver de uma forma horrível ao longo da nossa costa”.

Para o político, seu país deve engajar-se em promover “um turismo responsável”. A pesquisa do UNICEF mostra que, atualmente, o comércio do sexo tem um nível elevado de tolerância, sobretudo nas praias quenianas.

swissinfo com agências

População do Quênia: 35 milhões de habitantes.
42,6% da população têm menos de 15 anos.
Expectativa de vida média: 49 anos
Cerca de 1,2 milhões de quenianos são soropositivos (HIV).
50% da população vive vive abaixo do índice de extrema pobreza (menos de US$ 1 por dia).
A taxa de desemprego é de 40%.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) é uma agência das Nações Unidas que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades básicas e contribuir para o seu pleno desenvolvimento.

Ela foi fundada em Dezembro de 1946 com o objetivo de ajudar as crianças que viviam na europa e que sofreram com a 2.ª Guerra Mundial.

Em paralelo a UNICEF apóia projetos concretos desenvolvidos por organizações não-governamentais ou governamentais que oferecem soluções locais ao problema.

Ela atua em 160 países do mundo através de projetos de saúde, planejamento familiar, higiene, alimentação e educação.

Internacionalmente a organização dedica-se também a lutar contra o fenômeno das crianças-soldados e prostituição infantil, além da proteção de refugiados.

A UNICEF está sediada em Nova Iorque e conta com pouco mais de sete mil colaboradores.

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