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Quatro meses andando pela Via Alpina

Vincent Tornay fotografado por ele próprio.

Ao sair em 12 de maio de Trieste, o Vincent Tornay chegou 13 de setembro em Mônaco depois de ter percorrido mais de 2.500 quilômetros à pé através de oito países alpinos.

O aventureiro suíço é o primeiro a fazer todo o trajeto do caminho batizado com o nome de “Via Alpina”. Seu principal objetivo era realizar um filme e um livro, para dar uma nova imagem ao turismo de montanha. Entrevista swissinfo.

Depois de ter percorrido a Cordilheira dos Andes, agora a aventura se esconde nos Alpes?

Vincent Tornay: Eu sempre sonhei em fazer uma viagem à pé. Sou fascinado pelas histórias dos vendedores ambulantes do século XIX, que caminhavam de Turin até Lyon atravessando os Alpes. Outra razão é que eu estava com muita vontade de sair um pouco do escritório, de sair do mundo normal por um longo período. Viajar no próprio país, sem precisar ir até o final do mundo, é o que torna a idéia mais interessante ainda.

Eu já pratiquei bastante o montanhismo, inclusive nas altas montanhas. E como meus estudos de geografia me levaram ao trabalho sobre o desenvolvimento das regiões de montanha e o turismo, pude então unir as minhas duas paixões.

Então o projeto “Via Alpina” foi perfeito para conjugar seus interesses com as pesquisas?

Sim, pois esse itinerário destaca o valor dos parques nacionais e uma comunidade com cultura, história, idioma e cozinha distintas. Ao mesmo tempo, essa região também tem uma diversidade cultural impressionante. Temos o Tirol italiano, onde se fala alemão. No maciço da Argentera se fala o occitano entre os italianos e os franceses. Lá as fronteiras já não fazem mais sentido.

Também existe uma grande diversidade de paisagens, ao ponto de fazer com que eu me sentisse tão distante de tudo. E afinal, eu fiquei deslumbrado pelo caráter selvagem dos Alpes, dos quais apenas 30% são habitados. No momento em que o turista sai das áreas habitadas, não há mais ninguém por perto. É como se estivéssemos retornando ao tempo dos nossos ancestrais.

Mas isso ainda toma bastante tempo. Eu diria, entre dez e quinze anos para que a Via Alpina seja realmente conhecida. Por exemplo, cada região fez sua própria marcação (no Tessim não há nada) e os caminhantes podem até se perder. Ou seja: existem progressos a se fazer.

Geralmente esporte, turismo e ecologia não dão uma boa mistura no cantão do Valais…

Eu não sou um ecologista radical. Eu não gosto muito dessa fórmula de defender o meio-ambiente. Prefiro falar em valorização do meio-ambiente.

Esse é o ponto central da filosofia “Via Alpina”, baseada também na economia (o fator mais importante para fazer sobreviver os vales dessa região) e no aspecto social. Trata-se de criar uma ligação entre os habitantes e os turistas, assim como entre os vales, com o objetivo de criar circuitos em comum e valorizar a região.

Hoje em dia, as pessoas das cidades não vão às montanhas procurar outras cidades, mesmo que elas sejam vilarejos. Graças ao turismo para pedestres, a Via Alpina evita as grandes estações e passa por vales menos conhecidos, com o objetivo de trazer vida para os vales montanhosos que foram esvaziados pelo êxodo humano em direção às cidades.

Durante essas 17 semanas de caminhada contínua, quais foram os momentos mais duros?

Fisicamente não tive nenhum problema. Em alguns dias eu caminhava três horas, nos outros onze. De qualquer maneira, eu caminhava todos os dias. Às vezes eu parava num vilarejo (normalmente eu me hospedava com os habitantes locais), mas nunca desci para a planície, mesmo no cantão do Valais, onde eu conheço gente demais.

Eu sofri muito mais de forma moral. Estou habituado a percorrer trilhas por todos os lados, mas nunca imaginei que estaria tão perto do lugar onde nasci e tanto tempo nas mesmas montanhas.

Talvez outra passagem dura tenha sido na Eslovênia. Como eu estava saindo do litoral, eu passei os seis primeiros dias na floresta, sem horizonte. Lá existem ursos. Eu não vi nenhum, mas tenho certeza que eles estavam me vendo. Na minha barraca, sozinho na floresta, eu não estava sempre seguro quando escutava alguns ruídos.

As duas últimas semanas no sul da França também foram bem difíceis. Eu esperava encontrar (a 50 quilômetros distantes da praia) um terreno sem edificações plano e acabei me encontrando em colinhas medonhas e sobre um céu tempestuoso.

E agora você irá explorar suas experiências na forma de um filme?

Sim. A idéia da minha viagem era de mudar a imagem do turismo, sobretudo entre os jovens. Atualmente estamos vivendo uma fase de transição. A grande moda dos esportes de inverno passou. As estações de esqui construídas a uma altura mediana devem agora valorizar seus recursos naturais de outra forma.

O que eu pretendo com o meu filme é apresentá-lo nas escolas e nas secretarias de turismo, para falar sobre essa forma diferente de fazer turismo. Eu também vou escrever no ano que vem um livro, pois tenho vontade de descrever as pessoas que encontrei durante essa caminhada.

Você considera que essa viagem foi uma grande mudança na sua vida?

Acho que não, mas talvez sim. Afinal, quando você caminha, você também adquire um pouco de sabedoria. De um lado, eu realizei meu sonho de vida nômade. Do outro foi uma viagem no tempo, pois ela foi realizada sem o estresse, sem a necessidade de ter que ver tudo no mínimo espaço de tempo.

Você sobe uma colina, o caminho é longo e tortuoso, é necessário ser paciente, se esforçar e quando se chega ao alto, você saboreia a recompensa. É como na vida!

swissinfo, Isabelle Eichenberger

O projeto lançado em 2002 pela associação francesa A Grande Travessia dos Alpes, envolve oito países – França, Itália, Mônaco, Suíça, Liechtenstein, Alemanha, Áustria e Eslovênia. O território tem mais de 200 mil quilômetros quadrados.

Esse é o primeiro itinerário para pedestres ligando Trieste, no Mar Adriático, até Mônaco, no Mar Mediterrâneo, a ser reconhecido como uma contribuição à Convenção Alpina. Seu principal objetivo é assegurar o desenvolvimento durável da região dos Alpes.

De 14 de maio a 13 de setembro de 2007, Vincent Tornay fez o percurso de 2.500 quilômetros, atravessando 30 regiões, 200 comunas e 4 diferentes idiomas. No total, ele teve 161 etapas, das quais 44 foram nas áreas fronteiriças.

O aventureiro suíço tem 29 anos e é originário de Martigny, no cantão do Valais (sudoeste da Suíça). Atualmente ele está terminando sua tese de doutorado em geografia na Universidade de Genebra.

Especializado no desenvolvimento das regiões de montanha, seus estudos os levaram para a Cordilheira dos Andes e, posteriormente, aos Alpes.

Junto aos estudos, ele faz uma formação profissional como guia de montanha no Valais e trabalha como monitor de alpinismo e esqui.

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