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Que futuro para o livro?

Vista parcial do Salão 2010 swissinfo.ch

Toneladas de livros abarrotam o atual Salão do Livro, em Genebra. Livros de papel, obviamente. Mas o livro físico, palpável, começa a se adaptar à era da Internet. E já se pode questionar se ele será suplantado pelo livro virtual.

Por ocasião dessa feira, a 24a. do gênero, que termina dia 2 de naio, domingo, procuramos também satisfazer a uma outra curiosidade: que obras mais lê atualmente o público suíço de língua francesa – e por extensão o público da França e da Europa? E, ainda, quais são as preferências dos leitores?

Quem visita o Salão Internacional do Livro e da Imprensa – voltado principalmente para a produção francesa – mal consegue imaginar que a montanha de livros dessa feira anual poderia ser armazenada num ‘tablete’ e-livro, do tipo iPad ou do novo Readerda Sony. (Este último parece mais apropriado, tendo em conta apenas a função para a qual é destinado, a leitura. Claro, o iPad tem mil e uma aplicações).

Acertos à vista

A tecnologia para essa proeza, está há muito tempo disponível. Depois de alguns fracassos, os fabricantes do ‘tablete’ até o aperfeiçoaram, conseguindo oferecer mais conforto para a leitura e a manipulação do aparelho.

O preocupante é que, nesse setor, a Suíça de língua francesa e mesmo a França – para não se falar do mundo de língua oficial portuguesa – estão bastante atrasados em relação a países como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, quanto à digitalização de livros novos ou de obras ainda obrigadas a respeitarem os direitos autorais.

Podemos dar , porém, um desconto: este atraso visa proteger os autores e garantir margem de lucros razoáves aos diferentes segmentos envolvidos na comercialização do livro.

No Salão, em Genebra, representantes do segundo maior atacadista suíço de livros, OLF – que é também n° 1 na distribuição de livros em inglês – garantem que a ferramenta necessária para carregar publicações recentes está disponível. Mas antes de colocá-la em funcionamento é preciso o sinal verde dos editores (Dos grandes grupos – Hachette, Editis, Gallimard – apenas este último já assinou um acordo). Falta também acertar muitos detalhes com as livrarias, pois será através delas que o interessado poderá copiar um livro em seu computador.

Que preço para o livro eletrônico?

Outro pormenor a resolver refere-se à porcentagem de desconto praticada na venda do livro eletrônico. Adiantem-se cifras de um abatimento de 10 a 30%. Mais de um especialista em Genebra acha, no entanto, que o desconto não deva exceder 20%.

Talvez o difícil é convencer o internauta a pagar o preço fixado, pois, geralmente, para ele tudo que está na Internet é gratuito. Para muitos visitantes, porém, “é um horror” ler um livro numa tela. Principalmente os mais idosos não dispensam o prazer de tocar o papel, de folhear as páginas. Só faltam dizer, vade retro

Mas, uma vez solucionada as questões técnicas e jurídicas, que livros os frequentadores do Salão e o público em geral prefeririam carregar em seus PC ou outros suportes.

O policial escandinavo sempre apreciado

Fenômeno generalizado na Europa ocidental, a produção policial escandinava continua muito solicitada. Seria, então, uma das preferidas. Se quarenta anos atrás, mal se conhecia o sueco Henning Mankell e seu comissário Wallander, o interesse pelo gênero, com molho escandinavo, continua muito grande nos últimos anos, principalmente depois do sucesso estrondoso de Millenium, em três volumes, que rendeu milhões.

A partir de o Millenium, na opinião de especialistas, os leitores quiseram descobrir outros talentos nórdicos. Na Suécia apareceram nomes como Camilla Läckberg e Äke Edwardson. Na Noruega, Jo Nesbö. Na Islândia, Arnaldur Indridason. Na Dinamarca, Dan Turèll e, na Finlândia, Leena Lehtolainen., entre vários outros.

Um dos méritos destacados nos policiais suecos (Mankel, Larsson, Edwardson…) é, por exemplo, o fato de “revelarem aspectos ocultos da Suécia”. O país das famosas loiras esculturais não seria tão idílico quanto se pensa. Os autores mostram que sociedade sueca enfrenta problemas graves, como a discriminação e o racismo, que também atingem outras nações européias.

Valloton, uma exposição rara

Outra grande atração do momento são histórias de vampiros. Nessa vaga vem surfando Stephenie Meyer, autora da série Twilight. A escritora estadunidense é um fenômeno editorial, produzindo livros que agradam a jovens e menos jovens.

Na mesma onda figuram P.C. Cast e Kristin Cast (mãe e filha) com os romances da série The House of Night. O sucesso é grande, mas inferior à de Stephenie Meyer.

(Quanto aos livros franceses ou traduzidos em francês muito solicitados, consulte a página ao lado.)

O Salão do Livro, mesmo na era digital, dá a impressão de poder continuar por muitos anos. O livro de papel certamente sobreviverá ao lado do livro eletrônico. Em termos de conservação para o futuro, o papel ganha de longe, pelo menos no momento.

Mas o Salão não passa de uma estrutura a qual se agregam muitos outros eventos. Neste ano, o visitante tem, por exemplo, a oportunidade única de apreciar mais de 40 quadros do pintor suíço, naturalizado francês, Félix Valloton (1865-1925). Uma exposição que “apresenta uma visão pessoal que Valloton tem da natureza”: natureza recomposta, natureza morta e natureza humana.

O pintor foi membro do Grupo Nabis que procurou sacudir a poeira do passado, usar cores vivas dentro de uma lógica decorativa e simbólica. Algumas telas são obras-primas, mas, em geral, pertencem a coleções particulares. A oportunidade é, realmente, única de admirá-las.

J.Gabriel Barbosa, swissinfo.ch

O 24° Salão Internacional do Livro e da Imprensa realiza-se de 28 de abril a 02 de maio 2010.
Apresentado como o “evento cultural mais importante da Suíça”, essa feira atrai anualmente cerca de 100 mil visitantes.

Ela conta sempre com um convidado de honra (este ano, a Suécia), um convidado regional (este ano, a vizinha Savóia). O Brasil foi convidado de honra em 2002 e Portugal, um ano antes.

Esta feira anual aglutina vários outros eventos, como o Salão Africano do Livro, que está em sua sétima edição. Foi neste salão que encontramos Jean Kanyarwunga, promovendo seu Dictionnaire Biographique des Africains. Suíço, originário da República Democrática do Congo, Kanyarwunga nos contou uma história curiosa, segundo a qual o Brasil foi descoberto por africanos no século XIII, quando de uma viagem marítima para descobrir a América, chefiada pelo rei malinês Aboubakari II, irmão de um imperador do Mali. Aboubakari e sua equipagem aportaram em Pernambuco, que chamaram Boura Bouka, palavra que significa “a outra margem”. Ao BRASIL deram o nome de Beribéri, vocábulo que hoje, diga-se de passagem, apenas identifica uma doença. Tudo está no dicionário mencionado, brevemente disponível, garante o autor.

Falando ainda de livros, mas desta vez, de best-sellers, sempre em relação com o Salão, entre as obras MAIS VENDIDAS, em francês encontram-se:
Catherine Pancol Les écureuils de Central Park sont tristes le lundi
Guillaume Musso La fille papier
Jean-Christophe Rufin Katiba
Amélie Nothomb e Yasmina Khadra, embos em plena atividade – sendo o último o autor do pungente livro L’attentat – continuam igualmente fazendo sucesso.

Voltando 50-60 atrás, Françoise Sagan de Bonjour tristesse e principalmente Albert Camus de L’étranger e La peste vendem muito bem. Camus em particular, pois comemoram-se, neste ano, o cinquentenário de sua morte. L’étranger é seu livro mais solicitado.

Entre os TRADUZIDOS mais procurados figuram :
Alice no país das maravilhas, de Lewis Caroll, impulsionado pelo novo filme homônimo, em três dimensões, de Tim Burton ; Kathrine Kressmann Taylor de Inconnu à cette adresse (Address Unkown) ; Cormac McCarthy com La route (The Road), recompensado com o prêmio Pulitzer. Nota-se ainda um interesse marcante pelo escritor eclético Stefan Zweig (mais conhecidos dos brasileiros, tendo falecido em Petrópolis, em 1942, e principalmente por ter escrito Brasil, terra de futuro, depois de viajar pelo país e constatar suas potenciaidades de desenvolvimento).

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