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“Sem uma rede você fica rapidamente perdido”

Rudolf Wyder chefia a OSE desde 1987. Courtesy of ASO

O interesse pelos suíços do estrangeiro como potencial eleitoral explodiu nos últimos anos. Esse foi um fator que deu amplitude política para sua função, considera Rudolf Wyder. Ao se despedir do que considera como "o trabalho da vida", o diretor da Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE) faz um balanço.

“Como no começo, eu ainda dirijo hoje a mesma pequena organização não governamental encarregada de defender os interesses dos expatriados. As atividades são bastante diversas. Fazemos mil coisas de uma vez só, como em um supermercado”, declara o diretor da OSE.

Hoje ele tem 65 anos e sua missão se transformou fundamentalmente ao passar dos anos: desde 1992, quando os suíços do estrangeiro obtiveram o direito de votar e eleger por correspondência, eles passaram também à mira dos partidos políticos. Portanto não se trata simplesmente mais de responder aos anseios e necessidades dos expatriados, mas também de administrar seu potencial eleitoral. “Foi assim que o lobby se tornou a minha principal atividade. E necessário ter uma rede ampla de relacionamentos políticos, pois senão você se perde rapidamente.”

De onde vem a expressão “Quinta Suíça” para denominar os suíços do estrangeiro?

Vem do tempo onde o reto-romano se tornou a quarta língua nacional. Nesse ponto nós falamos que era necessário fazer atenção, pois existem ainda aqueles que ainda são suíços, apesar de viverem além das nossas fronteiras. Seriam então os membros da “Quinta Suíça”.

Quantos suíços vivem hoje no exterior?

716.000.

Quantos têm a dupla-nacionalidade?

Aproximadamente 69% (reposta correta: 72,5%).

Onde vive a maioria dos suíços do exterior?

Claramente na França.

Em que país não existe nenhum cidadão suíço?

Eu creio em Nevis, uma ilha das pequenas Antilhas, assim como nas ilhas de Nauru e Tuvalu, no Pacífico. Atualmente não há mais suíços no Iraque e no Afeganistão.

Quantos suíços estão inscritos nos registros eleitorais?

Pelo menos 149.000.

Quantas associações de suíços do estrangeiro existem?

Temos contatos com mais de 700.

Qual é a menor associação?

Não sei (swissinfo também desconhece).

Quantos expatriados você conhece?

Com os anos já encontrei milhares deles.

Quantos países onde vivem cidadãos suíços você já visitou?

Aproximadamente trinta.

Como você descreveria o típico suíço do estrangeiro?

Patriota e aberto ao mundo.

Legitimidade da OSE

A criação do grupo parlamentar “Suíços do estrangeiro” mostra bem esse novo interesse do mundo político em relação aos expatriados, acrescenta Rudolf Wyder. Dele participam atualmente 112 membros, muitos dos quais de grande relevância. Hoje em dia não há nenhuma sessão parlamentar sem uma moção ou questão relativa à chamada Quinta Suíça. “Há vinte e cinco anos a situação era diferente: você tinha uma vez por ano algo que envolvia a OSE.”

Além disso, o Conselho dos Suíços do Estrangeiro, o chamado “Parlamento da Quinta Suíça”, tem um papel bastante importante. Ele é composto por 120 delegados de associações de suíços do estrangeiro e vinte suíços residentes no próprio país. “Apesar de alguns questionarem hoje em dia sua relevância, o Conselho representa sem dúvidas uma autoridade moral. Ele não tem competências legislativas, mas reflete a importância das questões envolvendo os expatriados”, ressalta Rufolf Wyder.

Acrescenta-se também o fato de a comunicação entre a Suíça e a sua diáspora ter evoluído. Especialmente, graças à internet e à plataforma SwissCommunity, as ligações são ainda mais fortes atualmente.

Crias da globalização

Durante os últimos anos a mobilidade progrediu, o número de estadias mais curtas ou sucessivas em outros países aumentou. Um dos programas que permite essa mobilidade é o Erasmus, da União Europeia. Ele permite que estudantes realizem estágios profissionais temporários no exterior. 

Os suíços não tem consciência que não é tão evidente poder viajar para todos os lugares. Os acordos setoriais e a livre circulação de pessoas permitem aos suíços, mesmo sem ser o país membro da União Europeia, de beneficiar quase do mesmo status que outros europeus. “Mas não podemos nos esquecer de que existe a reciprocidade. Senão outros Estados podem nos recusar o que reivindicamos para nós mesmos”, declara o político, que se vê como um “advogado” da causa europeia.

A mobilidade se tornou uma evidência também por razões pessoais. “Interessante é constatar que a Quinta Suíça é, sobretudo, feminina (57%), provavelmente pelo fato das mulheres acompanharem seus parceiros estrangeiros. Isso deveria dar de pensar aos homens”, brinca o diretor da OSE.

Modelo

Antes a Suíça era considerada como um aluno-modelo em vários setores. Hoje em dia ela ainda se vê nesse papel. Porém sua imagem sofreu alguns arranhões. Por exemplo, através do caso dos bens não procurados de vítimas do holocausto dos anos 1990, os ataques contra o sigilo bancários ou o papel fundamental que exerce como plataforma mundial de comercialização de matérias-primas.

Quais são os efeitos dessas controversas sobre os expatriados? As reações são contraditórias, avalia Rudolf Wyder. “Para uns, a imagem da Suíça sofreu bastante: vemos nossos passaportes não tão rápidos se este nos traz desconforto. Outros estimam que ainda haja muitas vantagens de ser suíço. O fato que o país sofra algumas acusações deve-se ao papel das mídias e também os atuais embates políticos. Todavia está claro que a imagem idílica da Suíça sofreu modificações.”

Atualmente, muitos suíços do estrangeiro conhecem problemas em relação ao sigilo bancário e o conflito fiscal, pois os bancos estão fechando as portas para os clientes suíços. “Isso começou nos Estados Unidos, mas nesse meio tempo recebemos de todas as regiões do mundo informações de que expatriados precisam fechar suas contas ou têm dificuldades para encontrar outro banco. Espero que o mundo financeiro helvético se adapte o mais rápido possível aos padrões internacionais”, explica Wyder. “O fato das pessoas serem punidas pelo simples fato de viver em outro país é um retrocesso incrível e uma contradição à globalização e à mobilidade.”

A partir de 1° de janeiro de 2014, a OSE será dirigida por Ariane Rustichelli e Sarah Mastantuoni.

O atual diretor, Rudolf Wyder, encarregado desde 1987, se aposenta em 31 de dezembro de 2013.

Ariane Rustichelli é atualmente a chefe de comunicação e de marketing. Sarah Mastantuoni dirige o serviço jurídico.

Rudolf Wyder recebeu a incumbência de organizar como freelance a festa de 100 anos da OSE em 2016.

Número dobrou

Durante os últimos trinta anos, o número de expatriados mais do que dobrou, chegando a 716 mil cidadãos suíços. No mesmo período, o número de consulados foi dividido por dois. Por um lado muitos serviços estão hoje disponíveis via internet. Mas para encomendar um passaporte, ou lhes prolongar, as pessoas devem percorrer grandes distâncias.

“Esse é um dos grandes temas de descontentamento”, reforça o chefe da OSE. “Nesse caso ultrapassamos os objetivos fixados, pois os consulados devem também cobrir grandes distâncias para visitar um suíço hospitalizado ou detido em uma prisão. Não estou seguro que o Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE, na sigla em francês) tenha noção real dos custos. Considero problemático desenvolver a diplomacia à custa do setor consular. A rede foi excessivamente reduzida. Devemos dar um passo atrás.”

Voto eletrônico

Outro tema de insatisfação é a incerteza em relação ao voto eletrônico no contexto do escândalo de espionagem da NSA. Apesar do caso dos serviços secretos americanos, a Chancelaria federal estima que o voto através da internet seja seguro. Rudolf Wyder compartilha a mesma opinião. “Considero que é imperativo se adaptar aos meios de comunicação da nossa época. O caso da NSA mostra, de fato, que alguns sistemas são atacados. Porém fraudes no caso de uma votação e a espionagem são duas coisas bem diferentes. Para aqueles que sempre se opuseram ao voto eletrônico, o caso é bastante oportuno.”

O diretor da OSE saúda, todavia, a intensificação da discussão sobre a segurança. “Já agora dispomos de uma estratégia bastante exigente. A Chancelaria federal está muito preocupada com essa questão”, diz Rudolf Wyder. Ele espera que, durante as eleições federais de 2015, uma grande maioria de suíços do estrangeiro possa votar eletronicamente. “Nada se opõe a isso.”

Autonomia para escolas

O Parlamento suíço está dominado por um grande consenso de todos os partidos na questão das escolas suíças no exterior. Elas sempre sofreram problemas financeiros, “mas são um instrumento da política externa suíça”, afirma Wyder, ele próprio membro do Partido Liberal-Radical. Em 12 de dezembro o Conselho dos Estados (Senado) aprovou a Lei de formação educacional dos suíços do estrangeiro. Se a proposta for aprovada na outra câmara, 17 escolas suíças no exterior podem ganhar mais autonomia e segurança de planejamento. Além disso, a percentagem mínima de alunos suíços – fixada entre 20 e 30 por cento – seria retirada.

“Os parlamentares reconhecem a sua importância: as escolas permitem aos jovens descobrirem a Suíça, elas são um adendo ao turismo e também há a questão do recrutamento de futuros líderes”, considera Wyder, que no final do ano se aposenta.

Para ele essa será uma partida “fácil”, apesar dos vinte e seis anos chefiando a instituição. A mudança de geração será algo positivo para ela. “Mas será necessário repintar o escritório, pois no início da minha gestão ainda fumava charuto e cachimbo.”

Adaptação: Alexander Thoele

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