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Avião solar suíço chega ao final do percurso

Si2, um avião para o futuro? Keystone

O avião Solar Impulse 2 pousou às 04h05 locais de terça-feira em Abu Dabi (21h05 de segunda-feira, hora de Brasília), concluindo a última etapa de sua inédita viagem de volta ao mundo, de mais de 42.000 km, usando o sol como única fonte de energia.

A aeronave tinha decolado no domingo do Cairo, no Egito, e no último trecho de seu voo histórico foi pilotada, durante 49 horas, pelo suíço Bertrand Piccard, reportou um jornalista da AFP no local.

“O futuro é limpo. O futuro são vocês. O futuro é agora, vamos além”, disse Piccard, cujo avô foi o primeiro homem a chegar à estratosfera e o pai, o primeiro a atingir o ponto mais profundo dos oceanos.

“Lancei o projeto @solarimpulse em 2003 para transmitir a mensagem de que as tecnologias limpas podem conseguir o impossível”, declarou mais cedo no Twitter.

O outro piloto, o também suíço André Borschberg, destacou no Twitter que o Solar Impulse 2 “é ao mesmo tempo o primeiro avião com resistência ilimitada e a única aeronave experimental autorizada a sobrevoar as cidades”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou sua “profunda admiração” por esta iniciativa. “É um dia histórico não só para vocês, mas também para a humanidade”, acrescentou Ban em uma conversa com Piccard transmitida ao vivo.

Recordes e não recorde

Essa façanha aérea representa o último dos vários recordes da aviação quebrados pelo projeto Solar Impulse. Além da volta, ele fez o primeiro voo noturno, o primeiro voo intercontinental, a primeira travessia do oceano e a maior distância e duração de um voo solar. Também foi o voo mais longo de um só piloto em qualquer aeronave: o suíço André Borschberg esteve no ar por mais de 117 horas. Já na última etapa, Bertrand Piccard, iniciador do projeto e aventureiro suíço, assumiu a cabine de comando.

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Para os leitores que ainda não conheciam os detalhes da aventura, aqui estão alguns detalhes interessantes.

O que é o Solar Impulse?

O Solar Impulse é uma aeronave movida completamente a energia solar. Desenvolvida em 2009, ela entrou para a história como a primeira aeronave solar a fazer um voo noturno em 2010. Também foi a primeira a voar através de todo o continente dos Estados Unidos em 2013. Depois os engenheiros retrabalharam o projeto e desenvolveram na base em Payerne um novo protótipo.

A versão atual da aeronave, apresentada em 2014 e denominada Si2, é maior e tem mais potência do que sua predecessora. Em março de 2015, ela iniciou uma volta ao mundo em diversas etapas. O percurso somou 40 mil quilômetros com paradas em 17 destinos. Todavia o mau tempo atrasou o voo em várias ocasiões. Depois o superaquecimento das baterias obrigou o Solar Impulse a fazer uma parada em julho de 2015. A aeronave passou o inverno em um hangar no Havaí até poder decolar em abril de 2016.

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Qual o tamanho do avião e quantos passageiros pode carregar?

Com uma envergadura de 72 metros, o Si2 tem uma envergadura um pouco maior do que o Boeing 747. Mas em vez de transportar 400 passageiros, ele só tem espaço para um único piloto em sua cabine de 3,8 metros cúbicos e pesa 2.300 quilos, tanto quanto uma pick-up com tração nas quatro rodas.

Quem são os pilotos?

Dois pilotos se revezam no comando da aeronave, assim como ocorreu com o protótipo. O idealizador Bertrand Piccard, que vem de uma família de exploradores e cientistas suíços, ganhou a fama ao fazer o primeiro voo de balão de volta ao mundo. Já André Borschberg é engenheiro, ex-piloto da Força Aérea Suíça e graduado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). O piloto de testes, Markus Scherdel, ajuda também a garantir a navegabilidade do Si2.

Os pilotos do Si2, Bertrand Piccard (esq.) e André Borschberg (centro) com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a 21ª Conferência das Partes (COP-21), realizada em Paris. Solar Impulse

Como funciona?

As asas do Si2 estão cobertas por 17.248 células solares. Elas alimentam as baterias de lítio polímero e ajudam o avião a gerar e armazenar energia suficiente para alimentar os motores em voos por períodos mais longos. Materiais extremamente leves também contribuem para a eficiência energética da aeronave. No entanto, ele só pode voar em condições meteorológicas ideais, sendo muito sensível a ventos fortes. Os meteorologistas ajudar a equipe do Solar Impulse a encontrar as melhores condições. A decolagem pode ser adiada por vários dias se há chuva, como foi o caso na Índia em meados de março de 2015.

O Si2 pode realmente voar à noite?

Graças às baterias, sim. Durante o dia, ele sobe a uma altitude máxima de cruzeiro de 8.500 metros para capturar o maior número de raios de sol. Para economizar energia, o Si2 desce a 1.500 metros à noite e permanece nessa altura até o dia nascer, a uma velocidade máxima de 90 km/h. O voo de Abu Dhabi para Muscat, por exemplo, levou 13 horas – algo um avião normal poderia fazer em cerca de 90 minutos.

Qual a distância que o Si2 pode percorrer?

Em teoria, e sob condições meteorológicas ideais, o Si2 poderia permanecer em voo sem limite de tempo. O mais longo voo feito pela aeronave foi do Japão ao Havaí, cobrindo 8.924 quilômetros por um período de quatro dias, 21 horas e 52 minutos – um recorde mundial para um avião solar tripulado por um piloto.

Uma vez que a temperatura pode variar de – 40 °C a 40 °C, os pilotos vestem uniformes com diversas camadas. Eles também carregam reservas de água para uma semana e comida especialmente preparada, além de oxigênio para uso em altitudes mais elevadas. Em caso de emergência, os pilotos podem utilizar os paraquedas e depois esperar o resgate em um bote salva-vidas.

Como os pilotos dormem ou vão ao banheiro?

Um sistema de auto piloto e o assento especial possibilitam as duas atividades. O piloto pode reclinar e se movimentar para manter a circulação sanguínea. Se houver necessidade, ele pode converter o assento em um vaso para urina e dejeções. Com exceção de sonecas rápidas de 20 minutos, o piloto não pode dormir por mais que duas ou três horas durante o período de 24 horas. Piccard, psiquiatra de formação, utiliza técnicas de auto hipnotismo para entrar no ritmo. Borschberg medita ou faz ioga. Uma equipe de psiquiatras e até um guru de ioga auxiliam os dois pilotos durante a sua volta ao mundo.

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Quantas pessoas estão envolvidas no projeto?

Mais de 100 pessoas fazem parte da equipe do Solar Impulse, incluindo um grande número de engenheiros. O pessoal do centro de controle da missão, localizado em Mônaco, está em constante contato com o piloto e o avião. Os dados, incluindo centenas de parâmetros técnicos, são transmitidos via satélite. Para cada destino, a equipe de terra prepara com antecedência a chegada e também a próxima decolagem.

Quem paga pelo projeto e quanto custa?

Essa “ideia nascida na Suíça” tem um orçamento de 170 milhões de francos (US$ 177 milhões). Dentre os vários parceiros do projeto Solar Impulse, o governo suíço permitiu a utilização de duas bases aéreas. O centro de controle é financiado pela fundação ambiental do príncipe Alberto II de Mônaco. Além disso, inúmeras empresas e instituições contribuíram com sua expertise e materiais de alta tecnologia. Os nomes de todos os patrocinadores estão inscritos no corpo da aeronave.

Qual o objetivo final do projeto?

De fato, essa tecnologia dificilmente irá substituir a aviação comercial. Não é a intenção do projeto.

“O Solar Impulse não foi construído para transportar passageiros, mas para transmitir uma mensagem. Nós queremos demonstrar a importância do espírito pioneiro e incentivar as pessoas a questionar as ditas verdades absolutas. O mundo precisa encontrar novas formas de melhorar a qualidade da vida humana. Tecnologias limpas e fontes renováveis de energia são parte da solução do problema”, diz Piccard.

A volta ao mundo incluiu muitos destinos onde a equipe do Solar Impulse apresentou a aeronave e promoveu a sua mensagem de incentivo às fontes renováveis de energia.

Você tem perguntas em relação ao Solar Impulse ou fontes renováveis de energia na Suíça? Entre em contato com o autor do artigo através do endereço Twitter: @SMisickaLink externo.


Adaptação: Alexander Thoele

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