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René Burri, um olhar suíço que viajou o mundo

René Burri é um dos mais conhecidos artistas suíços no exterior. Keystone

Pela primeira vez, o conhecido fotógrafo suíço da agência Magnum apresenta sua série de fotografias "No hall de entrada para o Ocidente".

A exposição organizada em Berlim pode ser visitada até 19 de agosto. Destaquesa: Berlim de 1961, a cidade ocupada, dividida pela guerra fria e a iminência da construção do Muro.

A sua “fome pelo desconhecido” e a neutralidade do passaporte suíço lhe possibilitou fotografar muitas situações que a outras nacionalidades causaria empecilhos. Entre elas a Berlim de 1961, ocupada pelos aliados, dividida pela guerra fria, na iminência da construção do Muro.

Pela primeira vez o fotógrafo suíço apresenta sua série de fotografias “No hall de entrada para o Ocidente” (Im Vorzimmer des Westens), exposição que permanecerá até 19 de agosto em Berlim, no Memorial Campo de Emergência para Refugiados Marienfeld (Erinnerungsstätte Notaufnahmelager Marienfelde), mesmo local onde foram fotografadas.

Afluxo de refugiados

“No verão de 1961 eu havia me credenciado como fotógrafo em Berlim, pois havia um grande fluxo de refugiados vindos de Berlim Oriental. Naquela época era comum ter que entrar com pedidos de permissão para se fotografar os distintos setores da cidade. Por ser suíço eu tinha menos problemas para conseguir as autorizações nos diversos setores da cidade do que se fosse, por exemplo, um fotógrafo francês ou americano”, declara o fotógrafo.

“Em julho de 1961, eu recebi a autorização para fotografar o Campo de Emergência para Refugiados em Marienfeld, Berlim Ocidental. Era de conhecimento público que, neste local, as pessoas tinham medo de ser fotografadas, pois poderia ser perigoso para elas ou suas famílias, caso o governo de Berlim Oriental descobrisse que elas haviam emigrado. Mesmo assim eu pude me movimentar livremente no Campo e, por causa da pequena câmera Leica, a minha presença não era muito evidente”.

Dois mil fugitivos por dia

De acordo com Bettina Effner, historiadora do Memorial, nesta época o fluxo de pessoas era tão grande que o Campo chegava a registrar duas mil pessoas por dia. Famílias inteiras com crianças, idosos ou pessoas sozinhas que deixaram tudo para trás, saindo do setor controlado pelos russos somente com alguns poucos pertences que podiam levar no metrô de forma a não chamar a atenção.

No Campo havia avisos para as pessoas terem cuidado com possíveis espiões infiltrados, com a correspondência para os familiares do Leste e o perigo de seqüestro fora do Campo, que era protegido por cerca de arame farpado. Entre 1949 e 1990 aproximadamente quatro milhões de alemães orientais migraram para a Alemanha Ocidental. 1,35 milhões de fugitivos passaram por Marienfeld, Berlim Ocidental.

As fotografias de Burri no Campo de Refugiados descrevem a atmosfera da época. A sua discrição fotográfica permitiu registrar momentos autênticos onde mostra cenas típicas do local. O tema dominante é a espera. Em Marienfeld as pessoas esperavam para a entrada, o registro, a triagem, o interrogatório e investigação, as decisões do aparato burocrático e a liberação para viajar para a Alemanha Ocidental.

O Muro

Apesar de estar freqüentemente fazendo reportagens em Berlim durante a época da divisão da Alemanha René Burri perdeu, por pouco, o início da construção do Muro.

“Houve um desencontro. Na época eu estava realizando uma reportagem para os americanos, em virtude disso nós sobrevoamos a fronteira de helicóptero, havia rumores. Mas, como não acontecia nada eu fui embora no dia 10 ou 11 de agosto. Eu não agüentava ficar na Alemanha por mais que uma ou duas semanas, o ambiente era muito deprimente. Então, em 13 de agosto, quando eu estava no sul da Suíça, fiquei sabendo do que aconteceu em Berlim. Voltei imediatamente, mas já era muito tarde para a reportagem”, explica o fotógrafo.

Trajetória pessoal e ingresso na Magnum

René Burri nasceu em Zurique, 1933, filho de mãe alemã e pai suíço. Sua primeira fotografia de pessoas famosas foi realizada, a incentivo de seu pai, quando tinha apenas 13 anos, durante a visita de Winston Churchill a Zurique.

Ele estudou fotografia em uma universidade de Zurique por na época não haver curso de cinema, que era o seu desejo. Entre 1954 – 55 trabalhou como assistente de cinegrafista no filme documental da Walt Disney na Suíça chamado “Switzerland”.

O seu trabalho como autor tomou mais impulso quando em 1956 realizou uma reportagem fotográfica a respeito de uma escola de crianças surdas-mudas que foi comercializada pela legendária agência de fotografias francesa Magnum, que é uma cooperativa de fotógrafos engajados em reportagem fotográfica de longo prazo. De correspondente da Magnum passou a ser membro permanente da agência em 1959.

Carreira internacional

Como fotógrafo da Magnum Burri passou a trabalhar fora da Suíça e publicou seus trabalhos em revistas internacionais como “Epoca”, “Life”, “LooK”, “Paris-Match”, “GEO”, “Stern” e “du”.

Em 1960 realizou uma exposição a respeito da Alemanha dividida. Por causa da nacionalidade suíça Burri pôde transitar entre a Alemanha Oriental e Ocidental, mostrando a divisão através de uma perspectiva neutra. Em 1962 publicou as fotografias em forma de livro (Die Deutschen”), que foi reeditado e atualizado várias vezes, até mesmo nos anos 90, após a queda do Muro de Berlim.

Nos anos 50 e 60 realizou reportagens na América Latina, entre elas um ensaio fotográfico sobre os gaúchos, um retrato histórico de Che Guevara com seu charuto no cargo de Ministro da Indústria, a arquitetura de Brasília e seu aspecto humano.

No decorrer de sua trajetória como fotógrafo documentou conflitos no Oriente Médio, África e viajou pelos Estados Unidos. Burri também fotografou personalidades como o arquiteto Le Corbusieur, o escultor Alberto Giacometti e o pintor Pablo Picasso.

swissinfo, Gleice Mere, Berlim

– Apesar de já haver documentado diversas guerras René Burri, por princípios éticos, não realiza fotos de cadáveres
– Ao longo de sua vida como fotógrafo, ele acumulou 16 passaportes lotados de carimbos e cinco quilos de passagens aéreas.
– A oportunidade de realizar a foto de Che Guevara aconteceu de última hora e se deve à neutralidade do passaporte suíço. René Burri pôde, a pedido de uma repórter da revista americana “Look”, sem problemas burocráticos, na véspera do Reveillon, viajar para Moscou, de onde voou para Cuba.

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