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Vilarejos de montanha procuram um futuro viável

Vilarejo de Ilanz, no cantão dos Grisões. RDB

"Um crescente ornamentado no coração do continente" é como uma brochura publicada pela Convenção Alpina de oito nações descreve os Alpes. De fato, trata-se de uma bela região, visitada por muitos turistas. Porém quem quer viver por lá?

Na Suíça, por exemplo, apenas um em sete habitantes vive nos Alpes, mesmo se aproximadamente dois terços do território do país são considerados alpino. Essa proporção era de um para cinco.

Um tópico discutido em uma recente conferência era de como melhorar as oportunidades de emprego na região alpina. O principal tema da Semana dos Alpes, realizado no pequeno vilarejo italófono de Poschiavo no sudeste do cantão dos Grisões, foi “Alpes renováveis”. O evento reuniu especialistas de todas as nações alpinas.

“As pessoas que vivem nas áreas rurais dos Alpes gostam de estar próximas da natureza, natureza intocada e uma qualidade de vida elevada”, afirma Guido Plassmann, diretor da Rede Alpina de Áreas Protegidas (ALPARC).

“Mas: está próximo de uma cidade é certamente um fator importante. Trinta e cinco minutos, talvez uma hora, no máximo”, acrescenta. “Para alguns não há problema de percorrer longo trajeto para ir ao trabalho, mas também isso se deve por todas as coisas que se podem fazer nas cidades.”

Como manter as populações nas áreas montanhas oferecendo-lhes oportunidades econômicas sem destruir o meio-ambiente é a “questão de 64 mil dólares”, admite.

Conexões globais 

Não é surpresa que um dos principais fatores na economia alpina tenha sido por muito tempo o turismo – e continua a sê-lo – mas atualmente existem alternativas.

Paradoxalmente, pode parecer, a globalização e a internet estão abrindo muitas possibilidades. Uma importante fonte de empregos são as pequenas e médias empresas.

Enquanto a indústria nos maiores vilarejos alpinos não é algo recente, as tradicionais empresas estão desaparecendo ou sendo reestruturadas. E aquelas que permanecem ou estão chegando: a globalização oferece novas chances e desafios, como Heike Mayer, professora de economia geográfica na Universidade de Berna, explica.

“As pequenas e médias empresas precisam ser inovadoras e usar a tecnologia. Por isso elas precisam estar em contato com novas ideias”, diz. “Aquelas que estão operando em mercados globais estão conectadas com outras regiões do mundo através dos fornecedores, consumidores e das relações com as universidades, talvez. Estar conectado é uma parte importante.”

Inovadora 

Uma pessoa que lhes ajuda a permanecer conectado ao acesso ao know-how externo é Melanie John, da OpenAlps, um projeto internacional dirigido pela Câmara de Comércio e Indústria de Schwarzwald-Baar-Heuberg, do sul da Alemanha.

“A ideia é ser capaz de transmitir mais rapidamente inovação correta às pessoas corretas”, diz. 

E enquanto muitas das empresas já são inovadoras, em um mundo globalizado as pressões aumentam e nenhum negócio pode se dar ao luxo de estagnar, alerta a especialista. “Não é que nosso projeto vá ter um efeito extremamente forte e que, sem ele, todas essas empresas estariam indo embora. Mas nós queremos apoiar a economia na sua base, para preservar empregos e criar novos.”

O tipo de empresas apoiadas é o mais variado e depende da região, incluindo fabricantes de equipamentos médicos, comerciantes de veículos ou também manufaturas de ferramentas. 

O que esperar do futuro? 

As regiões de montanhas precisam oferecer às próximas gerações razões para ficar.

Moritz Schwarz é um jovem escolar originário de Innsbruck e bastante interessado em política. Ele vê na educação a melhor esperança para manter os jovens nos Alpes: uma população bem educada por ser empregada por novas empresas que chegam à região com projetos sustentáveis.

Ele e sua colega mais jovem, Isabella Hilber, 16 anos, participaram do Parlamento Jovem na Convenção Alpina, que reúne jovens dos oito nações alpinas. Os dois são apaixonados sobre a questão do futuro da região.

Mas embora o parlamento dos jovens tenha sido uma ideia original dos professores na sua escola, Hilber admite que a maior parte dos seus colegas de classe não estava particularmente interessada no tema. Apesar da sua paixão pelas montanhas, ela pode bem imaginar mudar-se algum dia para Viena ou mesmo a Alemanha para fazer estudos.

No entanto, aqueles que abandonam sua região natal para estudar ou trabalhar também podem cumprir com a sua parte, considera Silva Semadeni, membro do Parlamento helvético. Ela cresceu no vilarejo de Poschiavo, próximo à fronteira com a Itália, mas hoje vive em Chur, a capital do cantão dos Grisões.

“É verdade que aqui não há trabalho para todo mundo e que, por essa razão, muitos partem. Mas existem muitas formas de como as pessoas que se mudaram para áreas urbanas podem ajudar a promover os interesses das regiões de montanha”, declara.

Uma questão de perspectiva 

Mas realmente importa hoje em dia se os jovens ficam ou não nas montanhas?

Em curto prazo faz certamente uma diferença, como explica Franz-Ferdinand Türtscher, presidente do conselho da pequena comuna (prefeitura) de Sonntag, no estado austríaco de Vorarlberg. “Se as pessoas partem, não fica mais ninguém para manter a vida social e política do vilarejo. E isso desencadeia um circulo vicioso.”

Os clubes de vilarejos são muito importantes: é uma razão pela qual os trabalhadores pendulares gostam de retornar para casa todo final de tarde do que viver no local onde trabalham, como acrescenta Türtscher. A comuna tem 750 habitantes – e cinquenta deles fazem parte, por exemplo, da orquestra. A qualidade é elevada, o que torna o grupo atraente para novos membros.

“Nós ainda temos alguns jovens dispostos a assumir postos nos clubes, sociedades ou representações políticas, mas não posso prever o que vai acontecer em dez ou quinze anos”, diz. “Eu escuto algumas pessoas, particularmente jovens com mais educação, afirmando que não conseguem encontrar lá o seu espaço.”

Guido Plassmann é mais otimista em relação ao tema. “Jovens muitas vezes vão, pois querem viver em uma cidade e ver algo de novo. Mas eles retornam muitas vezes”. Mas se questionado se realmente importa se as pessoas vivem ou não nas montanhas, Plassmann fala de sua visão em longo termo.

“Isso tem a ver com a nossa imagem dos Alpes. Penso que a nossa geração dificilmente pode imaginar os Alpes se tornarem selvagens, voltarem a ser cobertos de florestas. Se as futuras gerações podem imaginar um cenário semelhante, é uma questão diferente”, diz.

“Não é uma questão de ser positivo ou negativo. É claro que o positivo para nós é o meio que é parte da nossa cultura e, obviamente, o que queremos manter. Mas isso é estar olhando da nossa perspectiva, como seres humanos. A perspectiva da natureza pode ser diferente.”

O principal tema da Semana dos Alpes, realizado no pequeno vilarejo italófono de Poschiavo no sudeste do cantão dos Grisões de 5 a 8 de setembro, foi “Alpes renováveis”. O evento reuniu especialistas de todas as nações alpinas.

Os Alpes são um dos grandes sistemas de cordilheiras da Europa, estendendo-se da Áustria e Eslovênia, a leste, através do norte da Itália, Suíça (Alpes suíços), Liechtenstein e sul da Alemanha, até ao sudeste da França e Mónaco, a oeste.

A palavra “Alpes” vem do latim Alpes, que por sua vez pode estar relacionado com os termos latinos albus (“branco”) ou altus (“alto”) ou, mais provavelmente, com alguma palavra celta ou lígure.

O ponto culminante dos Alpes é o Monte Branco, com 4810,45 m de altitude, situado na fronteira franco-italiana ou muito perto dela, uma vez que a delimitação fronteiriça no maciço nunca foi consensual.

Existe uma organização especial para a proteção dos Alpes chamada Convenção Alpina. (Wikipédia em português)

Adaptação: Alexander Thoele

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