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Saas-Fee, onde qualquer um pode ser aventureiro

Alpinistas equipados chegam ao cume do Allalin e enfrentam o vento gelado. swissinfo.ch

Estar uma vez sobre uma verdadeira montanha. O Allalinhorn é um dos picos mais fáceis de subir em Saas-Fee. Em bom tempo, alpinistas de todas as idades peregrinam para essa conhecida região turística na Suíça.

O passeio dura apenas quatro horas, mas exige bastante das condições físicas do participante. O prêmio é a fantástica vista dos Alpes e a sensação que a aventura está ao alcance de todos.

O nome da montanha soa mágico e ameaçador. Por isso é difícil acreditar que ela realmente seja fácil de escalar como prometem os responsáveis da Saas-Fee Turismo. “O pico do Allalin, 4.027 metros acima do nível do mar, pode ser alcançado facilmente com ajuda de guias e exige apenas 500 metros de caminhada”, escrevem nos folhetos.

O conforto é tanto que se pode até lembrar dos documentários de TV sobre as conquistas no Himalaia, que mostram sherpas carregando barracas e até mesmo alpinistas feridos nas costas. Será que um deles levaria o turista ao pico, caso as pernas falhem? Obviamente a resposta é negativa. Estamos na Suíça e não num país asiático. Ao invés de empregar membros dessa etnia nepalesa, Saas-Fee investe na tecnologia. Este é o elemento que transforma até o mais preguiçoso dos turistas num destemido aventureiro.

Saas-Fee é uma comuna localizada no cantão do Valais, região sudoeste da Suíça, com pouco mais de 1.600 habitantes. Cercada por uma cadeia de montanhas alpinas, sendo que treze delas com mais de quatro mil metros de altura, ela é um dos mais conhecidos destinos turísticos do país, sobretudo para os amantes de esportes radicais.

São mais de 145 quilômetros de pistas de esqui, sendo que uma parte considerável permanece aberta até no verão por se situar a mais de 3.500 metros de altura. Para os montanhistas, a região também oferece centenas de quilômetros de trilhas nas florestas e montanhas, que podem ser classificadas entre fáceis e até passeios de longa duração, onde o participante dorme em cabanas de montanhas e escala vários picos ao mesmo tempo, utilizando cordas e mosquetões.

Aventura para todos os gostos

A escalada ao Allalin começa pontualmente às oito horas da manhã, depois que o turista foi servido nos hotéis de Saas-Fee com café-da-manhã reforçado à base de granola (müsli), leite, pão e queijo, ingredientes básicos da dieta suíça. Os participantes são pessoas de todas as idades, de adolescentes até aposentados, mas cuja disposição física e equipamento de montanha sofisticado mostram que pertencem ao grupo da terceira-idade que não passa as tarde frente à televisão.

O material necessário para uma escalada nos Alpes pode ser alugado em qualquer loja de material esportivo na cidade: botas de montanha impermeáveis, um par de crampons (uma espécie de sapatilha de ferro com pontas agudas), o piolet (picareta de escalada), bastões de caminhada, óculos escuros contra a neve ofuscante, cintos com mosquetões e roupas quentes.

Quando a meteorologia prevê bom tempo e sol, dezenas de esquiadores e montanhistas costumam fazer fila no teleférico da empresa Ferrovia de Montanha de Saas-Fee. A estação inicial ainda está a 1.800 metros acima do nível do mar, que é onde se situa a cidade. Ao embarcar, as pessoas são levadas pelos cabos de aço do teleférico em cabines, capazes de transportar até 33 turistas, até a segunda estação “Morenia”, a 2.550 metros de altura.

O cenário é deslumbrante. Quanto mais alto se sobe na montanha, mais rasteira vai ficando sua vegetação. Com muita sorte é possível avistar alguns animais, como cabras selvagens ou marmotas de montanhas. Alguns não escondem o medo de ver que apenas o cabo segura a cabine a uma altura de 40 metros do solo.

Começa a esfriar

Da segunda estação, os grupos de alpinistas parte para “Felskinn”, a terceira estação, a três mil metros de altura. Nela se percebe que o ponteiro do termômetro caiu vários graus e que a neve cobre grande parte das pedras, apesar de estarmos no meio do verão.

A viagem continua através do metrô que, como diz o nome, é realmente uma linha de trem escavada nas estranhas do Allalin, levando os passageiros até a impressionante altura de 3.500 metros. “Vocês estão entrando no metrô mais elevado do mundo. Gastamos 32 milhões de francos para construí-lo. Para fazer o túnel fomos obrigados a desmontar uma gigantesca máquina perfuradora no vale e transportar as peças até a terceira estação. Despois de remontada ela perfurou a montanha como uma toupeira até à base do Allalin”, conta Bernhard Pfammatter, gerente-geral da Ferrovia de Montanha de Saas-Fee.

Entrar nos pequenos vagões é uma experiência interessante. Ao contrário dos metrôs de cidade, as linhas do Allalin foram construídas numa inclinação vertiginosa. Ao fechar as portas, poderosos cabos de aço puxam a composição montanha acima. Em pouco menos de quinze minutos, o passageiro chega à estação final, também chamada de Allain, 3.500 metros de altura acima do nível do mar. Lá ele encontra cabines para trocar de roupa na frente das pistas de esqui e das trilhas para montanha, além mais elevado restaurante-giratório do mundo.

Escalada

Ao chegar à base, os participantes da escalada são orientados pelos guias a fixar corretamente os crampons nas botas e ajustar o cinto de segurança na cintura. Ele explica que os escaladores sobem a montanha em grupo de três ou quatro e que todos são fixados através da corda para evitar acidentes. O maior risco é cair numa fenda da geleira ou da pedra, que está escondida pela neve.

A caminhada inicia. O ar rarefeito começa a se fazer sentir nos pulmões. Cada passo dado na neve equivale a uma corrida. “O segredo de subir uma montanha é dar passos curtos, mas contínuos, sem conversar, apenas se concentrando no companheiro da frente e na trilha”, explica Beat Supersaxo, guia de montanha há mais de trinta anos.

Beat e quatro turistas sobem a montanha junto com uma dezena de outros grupos. Num dia de sol, até uma centena de pessoas pode tentar escalar o Allalin. Por vezes, quando alguém precisa fazer uma pausa para respirar, outros grupos ultrapassam e podem até congestionar a estreita trilha.

No total, o percurso exige não mais do que duas horas. Após algumas pausas para admirar o deslumbrante visual dos Alpes suíços e os profundos vales, os turistas chegam exaustos no cume do Allalin. Assim como na conquista do Everest, o sentimento geral é de júbilo. Velhos, jovens e crianças, todos têm a sensação de ter entrado no exclusivo grupo dos alpinistas.

No topo do Allalin, uma cruz com Jesus crucificado foi fixada numa base de concreto. Os montanhistas fazem fila para subir nela e se deixar fotografar. “Essa tradição das cruzes é muito antiga. Na parte católica da Suíça e na Itália, por exemplo, quase todas as montanhas têm uma cruz ou uma imagem de Maria nos seus cumes. Muitos alpinistas se sentem bem ao ver essas imagens”, conta Beat.

A descida e pratos típicos

Depois de um merecido descanso no topo do Allalin para admirar a maravilhosa paisagem, os turistas começam a descer a montanha. Para os que acreditam ser a descida mais fácil que a subida, o alerta é logo dado pelo guia. “Geralmente a descida é mais perigosa, pois os músculos estão cansados e o risco de queda é maior. Por isso, façam atenção”, explica Beat.

A grande surpresa do dia é descobrir que alguns dos participantes da escalada são também esquiadores. Eles descem a montanha lampeiros em cima do seu snowboard ou esquis. A inclinação de quase noventa graus exige coragem para deslizar sobre neve fresca pela encosta íngreme do Allalin.

Duas horas de marcha e então os montanhistas chegam à estação Allalin, onde está o restaurante-giratório. Exaustos, a maior parte procura suas mesas para comer um prato típico suíço, como o “Rösti (batatas picadas e assadas) com carne picada e molho de creme”. O prato é deliciado ao mesmo tempo em que o restaurante gira e exibe através dos grandes vidros o exuberante espetáculo dos Alpes suíços, incluindo também o pico do Allalin”.

A exposição inspiradora

Para completar o dia, os responsáveis pelo passeio à montanha sugerem aos participantes uma visita à exposição sobre o aventureiro Mike Horn, instalada na estação “Morenia”.

O sul-africano, que vive na Suíça junto com sua esposa e duas filhas, já bateu recordes impressionantes. O mais conhecido deles foi uma viagem de dois anos (2002 a 2004) percorrendo o círculo completo dos limites do Pólo Norte, sem cachorros ou meios de transporte.

A exposição em Saas-Fee é dedicada a sua última aventura: alcançar o ponto mais extremo do planeta no Pólo Norte em pleno inverno, à pé e acompanhado apenas por um outro aventureiro, o noruegês Børge Ousland.

Mike Horn conseguiu realizar a proeza. Ele retornou com saúde na primavera de 2006 para a Suíça e aceitou a proposta de Saas-Fee de organizar uma exposição sobre seu trabalho. Ela exibe não apenas fotos, mas também todo o material utilizado pelo aventureiro como as roupas especiais contra o frio de até 40 graus negativos, barracas, comidas especialmente preparadas e mesmo uma espécide de caiaque utilizado para empurrar o material através do deserto branco.

Para os turistas, assistir o documentário em filme sobre a travessia do Pólo Norte pela dupla serviu de refresco. “Comparado com o risco de cruzar o Pólo Norte no meio da escuridão em pleno inverno, acho que a escalada ao Allalin é como um passeio no parque”, conta resignado, mas satisfeito, Rudolf Burger, jornalista e aventureiro de fim-de-semana.

swissinfo, Alexander Thoele

Montanhas de Saas-Fee:
Ulrichshorn – 3925 m
Strahlhorn – 4190 m
Fletschhorn – 3996 m
Weissmies – 4023 m
Lagginhorn – 4010 m
Allalinhorn – 4027 m
Latelhorn – 3198 m
Dom – 4545 m
Nadelhorn – 4327 m
Rimpfischhorn – 4198 m
Alphubel – 4206 m
Täschhorn – 4490 m
Balfrin – 3795 m
Hohberghorn – 4219 m
Südlenz – 4294 m
Portjengrat – 3653 m
Sonnighorn – 3487 m
Dürrenhorn – 4034 m
Feekopf – 3888 m
Stecknadelhorn – 4242 m

Saas-Fee é uma comuna no cantão do Valais, no sudoeste da Suíça. Com 1.600 habitantes, ela está localizada num vale a 1.800 metros acima do nível do mar.

Saas-Fee é cercada por uma dezena de montanhas com mais de quatro mil metros de altura. Numa delas está localizada a cabana alpina mais visitada do país, a chamada “Britannia-Hüte”, aberta em 1912 por membros do Clube Alpino Britânico.

Próximo à Saas-Fee está a maior montanha dos Alpes localizada em território suíço: Dom (4.545 metros acima do nível do mar).

Durante o inverno, a comuna oferece 100 quilômetros de pistas de esqui em diferentes graus de dificuldade. Através dos teleféricos e do trem subterrâneo que leva os turistas até a estação do Allalin (3.500 metros) é possível praticar o esporte até mesmo nos meses mais quentes de verão. Durante o inverno, Saas-Fee oferece caminhadas nas montanhas e outros esportes de ação.

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