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Sindicato imita patrões e demite empregados

Criada há um ano e meio, Unia tinha suscitado esperanças no meio sindical. Keystone

A central sindical Unia luta para defender empregos ... alhures. Mas o principal sindicato suíço se diz forçado a demitir seus própios colaboradores.

A decisão é criticada na imprensa suíça enquanto o patronato acusa Unia de colocar em perigo a paz social apoiando greves que lutam contra as reestruturações.

“Pela primeira vez, o termo fusão engloba um valor positivo”, declaravam os dirigentes sindicais há um ano e meio, saudando a fundação de Unia a partir de cinco sindicatos de trabalhadores.

Geralmente a palavra “fusão” é um sinal de alarme para qualquer sindicato, haja visto que significa quase sempre reestruturação e desemprego.

Ao tornar-se a maior central sindical do país, Unia também não escapou dessa lógica. O orçamento deste ano, que os delegados sindicais aprovaram dias atrás, prevê demissões.

Sinergias sindicais

Para reduzir um défice que chegou a 8 milhões de francos suíços, o gigante sindical decidiu cortar sessenta postos de trabalho, incluindo 27 demissões.

A medida é sem precedentes no meio sindical suíço e suscitou críticas da imprensa e entre os trabalhadores.

“Desde o início, dissemos que a união entre vários sindicatos provocaria certas sinergias e nunca demos garantias de manter todos os postos de trabalho”, explica Renzo anbrosetti, co-presidente da Unia.

A direção do sindicato parte do princípio que não tinha outra escolha porque os custos com pessoal representam dois terços do orçamento.

“Sem demissões seríamos obrigados a aculumar défices e dilapidar o capital e as cotizações pagas por nossos membros. Nossa obrigação é de gerir esta organização e utilizar os recursos de maneira correta”, acrescenta Renzo Ambrosetti.

Outras 27 demissões

Recentemente Unia teve de enfrentar a demissão de outra 27 empregados da construtora Hoch- und Tiefbaugenossenschaft, em Berna. A empresa faliu e a Unia detinha metade do capital.

“Quando a esse caso, é bom precisar que praticamente todos os demitidos já encontraram outro emprego, sublinha Renzo Ambrosetti. Além disso, os demitidos beneficiaram-se de um plano social e outras vantagens que deveriam ser aplicadas por todas as empresas em circunstâncias similiares.”

Mas fica a pergunta se o sindicato pode continuar a lutar contra a supressão de empregos de maneira credível, se ele próprio aplica tais métodos?

“Não queremos fustigar o sindicato por causas dessas demissões mas também não louvamos essa decisão” afirma Rudolf Stämpfli, presidente da União Patronal Suíça.

“Mas Unia deve apredenter que reestruturações de empresas podem provocar demissões, acrescenta. Trata-se de um processo normal, mesmo se não é uma coisa boa. Uma reestruturação visa aumentar a eficiência e isso pode implicar supressão de cargos.”

Ataques do patronato

Do lado do patronato, não são as demissões no sindicato que provocam o descontemento mas a estratégia mais agressiva aplicada pela Unia para lutar contra as reestruturações e as decisões patronais.

O principal alvo das críticas é a ameaça de greve para obter melhores salários e condições de trabalho na construção civil e na metalurgia, sobretudo na crise da Swissmetal, uma siderúrgica na cidadezinha de Reconvillier, perto de Berna.

Segundo Rudolf Stämpfli, nesse conflito Unia apoiou ações ilegais e mostrou que não é um parceiro confiável.

“Há alguns meses, Unia assinou uma convenção coletiva com Swissmen, organização patronal da indústria de máquinas ao qual pertence Swissmetal. Os dirigentes sindicais deveriam ter recorrido aos dispositivos previstos na convenção coletiva para chegar a uma solução mas preferiram apoiar a greve”, afirma o presidente da União Patronal Suíça.

A paz social em perigo?

“Se o sindicato não respeita as convenções coletivas que assina, as empresas também podem colocá-las em questão. É um jogo perigoso que ameaça a paz social”, acrescenta Rudolf Stämpfli.

Essas críticas são claramente rechaçadas pelos dirigentes da União, como explica Renzo Ambrosetti:

“nosso sindicato já assinou 500 convenções coletivas de trabalho e, até agora, tem sido um parceiro correto e confiável quando encontra patrões responsáveis. Não era o caso, por exemplo, da direção de Swissmetal, que praticou uma política inaceitável. Mas é um caso raríssimo.”.

swissinfo, Armando Mombelli

Na Suíça, cerca de 25% dos trabalhadores são sindicalizados (30% na França, 29% na Grã-Bretanha, 25% na Alemanha, 12% nos Estados Unidos).
A greve é um instrumento raramente utilizado pelos sindicatos suíços. Vigora na Suíça há mais de 70 anos o princípio chamado de “paz do trabalho”, em que os sindicatos renunciaram à greve em troca de melhores salários.
A Suíça está entre os países industrializados que perdeu menos jornadas de trabalho devido a greves na última década: somente 1,5 dia por mil trabalhadores; foram 12 dias na Alemanha e 54 nos Estados Unidos.

Fundado em 1° de janeiro de 2005 com a fusão de cinco sindicatos, Unia tornou-se o maior sindicato da Suíça com mais de 200 mil membros e mil funcionários.

Esse sindicato já assinou 500 convenções coletivas de trabalho nos setores de serviços, construção, artesanato e indústria.

O orçamento de 2006, aprovado pelos delegados sindicais dia 25 de março (160 milhões) prevê um défice de 8 milhões.

Para reduzi-lo, a assembléia geral aprovou a supressão de 60 postos de trabalho, incluindo 27 demissões.

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