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Site conta a história da migração suíça ao Brasil

Imagem histórica tirada do site "Suíços no Brasil." cortesia

Iniciativa do Consulado da Suíça em São Paulo e da Presença Suíça, órgão oficial de divulgação da imagem do país no exterior, um website (www.suicosdobrasil.com.br) revela novas facetas da imigração helvética no Brasil.

Entrevistas em vídeo, biografias, imagens e textos formam esse espaço virtual. swissinfo.ch entrevistou Célia Gambini, a curadora do site e também da exposição “Suíços no Brasil”.

Documentos históricos sobre a imigração suíça podem ser encontrados em várias instituições ou até nos baús familiares de recordações. Porém o desafio é levar essas informações ao público interessado.

A solução foi encontrada não poderia ser mais prática: um website oferecendo entrevistas filmadas com suíços que construíram uma vida no Brasil.

swissinfo.ch: Como surgiu a ideia de fazer o site “Suíços do Brasil”?

Célia Gambini: Surgiu de uma iniciativa do Consulado da Suíça em São Paulo de trabalhar em parceria com o Instituto Martius-Staden.

Originalmente a gente tinha a intenção de reunir material de referência sobre a história da imigração suíça no Brasil. Há muitas publicações sobre o tema, mas elas são esparsas. Então você encontra uma pesquisa sobre a imigração na região Sul, uma outra sobre a Bahia ou outra sobre uma colônia específica. Mas a gente queria um material que reunisse de uma maneira mais geral essas informações sobre a imigração.

Como o Instituto Martius-Staden tem um acervo em língua alemã, no qual se inclui também um grande número de documentos sobre a imigração suíça no Brasil, iniciamos lá a nossa pesquisa.

swissinfo.ch: Como foi o trabalho? Quantas pessoas atuaram no acervo?

C.G.: Não era um projeto muito grande, pois foi feito em parceria. O instituto colocou a infraestrutura deles à disposição do consulado. Nós contratamos uma pesquisadora, que ficou trabalhando sob orientação do nosso departamento de cultura. Foram seis pessoas inicialmente.

swissinfo.ch: Quanto tempo vocês levaram para reunir todo esse material no site, inclusive fotos, textos e entrevistas em vídeo?

C.G.: Até estar no ponto atual foi um caminho longo. A primeira etapa foram seis meses. Inicialmente a ideia era, de fato, criar um website com esse material. Mas nesse ínterim, a Presença Suíça (órgão oficial de promoção da imagem do país no exterior) lançou o projeto “Laços suíços na América do Sul” e o Brasil foi convidado a participar do projeto.

Esse material inicial que seria transformado em um website, acabou sendo usado para uma exposição. Ela foi inaugurada no ano passado, durante a festa de 1° de agosto na Colônia Helvétia, em Indaiatuba, no interior de São Paulo. Essa exposição seguiu itinerante pelo Brasil. Ela já passou pelo Memorial do Imigrante em São Paulo, pela Escola Suíço-Brasileira em São Paulo e agora está sendo exibida em Nova Friburgo, também um polo importante da imigração helvética.

swissinfo.ch: Onde vocês conseguiram essas impressionantes imagens históricas de imigrantes suíços? Foi graças ao Instituto Martius-Staden?

C.G.: Nem todas. Uma parte sim, mas como decidimos trabalhar com biografias, ao invés de fazer só uma exposição para falar da imigração de forma geral, achamos importante falar de personalidades suíças no Brasil e na colaboração que deram para a formação da nossa sociedade. Demos então outro recorte para essa pesquisa, selecionamos alguns nomes de áreas diversas – incluindo personalidades históricas – e chegamos até os contemporâneos.

A partir dessa seleção, também foi necessária outra pesquisa iconográfica. Algumas fotos vieram desse acervo, mas outras de contato direto com as famílias desses suíços ou instituições brasileiras que também têm um acervo. Uma delas é a dos músicos suíços Ernst Widmer e Walter Smetak, que trabalharam na Universidade Federal da Bahia. Ela tem um conservatório que guarda o material desses músicos. A família Smetak, que está na Bahia, também faz esse trabalho. Tudo depende da pessoa selecionada.

swissinfo.ch: Além dos personagens históricos, vocês também encontraram imigrantes suíços vivos, alguns deles até bastante jovens. Foi fácil descobrir essas pessoas? Quantos são?

C.G.: O Consulado e outras representações diplomáticas da Suíça se esforçam para se aproximar da colônia suíça. Muitas pessoas já eram contatos nossos, sobretudo, através de outros projetos e parcerias. Alguns foram indicações da embaixada.

Não existe uma estatística de suíços vivos no Brasil. Não sabemos exatamente quantos são. Temos os dados estatísticos das pessoas que estão registradas nos consulados. Atualmente são por volta de 15 mil suíços registrados nas representações diplomáticas.

Achávamos importante não apenas resgatar a história, mas trazê-la para a atualidade e mostrar como esses vínculos estão vivos, como as pessoas continuam trabalhando entre a Suíça e o Brasil, qual é a cooperação que ocorre entre os países. Por isso é que foi um grande esforço para entrevistar e contar a história de pessoas contemporâneas.

swissinfo.ch: No site foram colocadas entrevistas em vídeos com alguns suíços. Vocês queriam ter o seu depoimento registrado?

C.G.: Exatamente. A gente queria colher o depoimento dessas pessoas, pois todas têm histórias muito interessantes, sejam pessoais ou profissionais. Uma equipe de filmagem foi organizada para colher esse material. Para facilitar o trabalho, fomos às suas casas. As pessoas ficam mais à vontade quando estão no seu próprio ambiente.

swissinfo.ch: E desses depoimentos, qual em sua opinião foi o mais emocionante?

C.G.: É difícil falar de um que tenha sido mais emocionante, pois cada pessoa tem realmente uma história muito particular. A Blanche Raval, por exemplo, é uma senhora bastante idosa, que veio para o Brasil acompanhando a família Pascolato. A história de vida dela é impressionante. Ela saiu da Suíça para trabalhar como governanta dessa família, aí veio a guerra e eles tiveram de sair da Itália, passaram pela Suíça e tiveram como destino final o Brasil. Ela acompanhou a família e até hoje está aqui. É um depoimento muito bonito.

Mas também tem a Heidi Calouri, que trabalha na periferia de São Paulo, em uma região conhecida por ter índices de violência muito alto, o Jardim Ângela. Ela está há anos por lá e cria seus filhos na periferia mesmo. Ela conta que a experiência que teve no Brasil foi muito importante para sua vida, além de ressaltar que seu trabalho social teve bons resultados.

Existe também a fotógrafa Claudia Andujar, reconhecida internacionalmente. Ela nasceu na Suíça e depois passou por diversos países por causa da guerra. Hoje ela diz que a família dela são os ianomâmis. Você pode ver que o envolvimento afetivo dessas pessoas com o Brasil foi muito grande.

swissinfo.ch: Qual é o impacto que o website e a exposição sobre os suíços do Brasil estão tendo?

C.G.: O que a gente tem notado é que as pessoas ficam surpresas. Em primeiro lugar, ao descobrir que alguns nomes que elas estão acostumadas a ouvir na história brasileira têm origem suíça. Um exemplo é Adolfo Lutz, um cientista muito importante com o instituto próprio em São Paulo. Você tem o Emílio Goeldi com o seu museu em Belém do Pará, uma instituição de referência para a zoologia e questões do meio ambiente. Ele também era suíço.

O impacto é quando as pessoas percebem a influência suíça na nossa história. E também é a primeira vez que existe um material reunido sobre o tema em uma exposição. Isso é algo inédito! E onde tem polos migratórios suíços como a Colônia Helvetia e Nova Friburgo, isso desperta a atenção dos descendentes, que realmente têm um vínculo forte com a Suíça e se identificam com essas histórias.

Por vezes eles chegam a trazer novos depoimentos. Eu passei a receber bastante material de pessoas que escreveram livros ou fizeram uma pesquisa sobre o tema da imigração suíça. Por isso não queremos que o projeto se esgote por aqui. Essa é a importância de se criar um website, onde podemos estar atualizando, inserindo conteúdos novos, pois sabemos que ainda há muitas histórias a serem acrescentadas.

swissinfo.ch: Então a ideia é que o website se torne um espaço permanente, mantido pelo Consulado?

C.G.: A ideia é que ele receba mais conteúdo como outras biografias. Hoje essa é a maneira mais acessível das pessoas encontrarem essas informações. Além disso, também publicamos uma brochura como complemento ao website e à exposição. Essa brochura contém todo o conteúdo da exposição, não é vendida e teve uma tiragem limitada. Ela está sendo distribuinda gratuitamente às escolas e outras instituições interessadas. Não se trata de um catálogo, mas sim de um material que pode ser lido independentemente da exposição.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Os suíços foram os primeiros imigrantes europeus a se estabelecerem no Brasil, depois dos portugueses.

Os primeiros imigrantes suíços chegaram ao Brasil entre 1819-1820, oriundos do cantão de Friburgo. Dom João VI batizou o lugar de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Eram ao todo 261 famílias, totalizando 1.682 imigrantes.

Os colonos suíços foram atraídos para as serras do Rio de Janeiro pelo rei Dom João VI, com o intuito de povoar a região fluminense e europeizar a região das serras.

Hoje seus descendentes são encontrados aos milhares por toda a serra fluminense, miscigenados com portugueses, negros, italianos, etc.

Um outro fluxo de suíços foi encaminhado para o Sul do Brasil durante todo o século XIX, com destaque para o grupo de imigrantes chegados a Colônia Dona Francisca (hoje Joinville), em Santa Catarina.

Não se sabe ao certo quantos suíços imigraram para o Brasil, pois muitos deles eram contados como sendo alemães, porém, a presença dos imigrantes suíços no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Espírito Santo e no Sul do Brasil é notável. (Wikipédia em português)

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