Uma equipe internacional, incluindo pesquisadores suíços, produziu uma nova estimativa do volume de gelo de todas as geleiras da Terra, com exceção das calotas glaciais da Groenlândia e da Antártida. Eles descobriram que as reservas de gelo das montanhas da Alta Ásia foram superestimadas e provavelmente encolherão muito mais rápido do que o previsto.
"Este estudo é excepcional porque, pela primeira vez, grupos de pesquisa de várias universidades determinaram a espessura de todos os glaciares do mundo usando diferentes modelos de cálculo", diz Matthias Huss, do Departamento de Geociências da Universidade de Friburgo, na Suíça.
Para antecipar a evolução das geleiras e das reservas de água doce que dependem delas, para não mencionar o nível do mar, os pesquisadores precisam de dados recentes sobre o atual volume global de gelo.
Sob a liderança do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, de Neve e Paisagem (WSL) e da ETH Zurich, uma equipe internacional de glaciologistas combinou cinco modelos para fornecer uma nova estimativa da distribuição da espessura do gelo e, com base nisso, o volume de gelo de cerca de 215.000 glaciares em todo o mundo.
Eles descobriram que as geleiras do mundo abrigam cerca de 158.000 quilômetros cúbicos de gelo - com exceção das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida. Esse valor recalculado do volume global de gelo das geleiras é significativamente menor do que as estimativas feitas há alguns anos, de acordo com a ETH Zurich.
Um quarto a menos de gelo
O Alasca, que com 75.000 quilômetros cúbicos possui o maior volume de gelo fora do Ártico, é responsável por quase metade do gelo glacial do mundo.
De acordo com os novos cálculos, no entanto, as geleiras das montanhas altas da Ásia - que incluem o planalto tibetano e as montanhas da Ásia Central - contêm 27% menos gelo do que se supunha, cerca de 7.000 quilômetros cúbicos.
A principal razão para essa discrepância é que os cálculos são baseados em dados de satélite mais detalhados. Graças à maior resolução, por exemplo, é possível determinar com mais precisão se a geleira é uma só ou duas geleiras contíguas menores. Isso, por sua vez, desempenha um papel na modelagem e na obtenção de conclusões sobre a espessura do gelo.
Os cientistas já haviam pensado que a superfície do gelo nessa região seria reduzida pela metade na década de 2070, mas isso pode acontecer já na década de 2060, com sérias consequências para o abastecimento de água. As geleiras que cobrem a Ásia alta alimentam grandes rios como o Indo, Tarim e afluentes do Mar de Aral. Centenas de milhões de pessoas dependem desses fluxos.
Na década de 2090, os pesquisadores preveem reduções de até 24% em relação aos fluxos atuais nos fluxos de rios alimentados por geleiras durante o verão, dependendo do modelo aplicado.
Os pesquisadores também deduziram de seus cálculos que os glaciares, ou melhor, a água derretida, poderiam elevar o nível do mar em até 30 centímetros se eles derretessem completamente. De 1990 a 2010, o nível do mar já subiu cerca de 1,5 centímetros.
swissinfo.ch/fh