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Resultado não trava partida de portugueses rumo à Suíça

Muitos portugueses trabalham em hospitais e asilos na Suíça. Keystone

A Confederação Helvética continua entre os destinos preferidos dos cidadãos lusos que pensam emigrar, apesar de os suíços terem votado a favor da reintrodução de quotas de imigração, na consulta popular de 9 de Fevereiro. Os portugueses que entrevistámos conhecem o resultado do referendo, mas ignoram o que isso significa.

Desinformado, mas sem procurar esclarecimentos junto da Embaixada da Suíça em Lisboa, Fábio Ferreira, de 21 anos, é um dos trabalhadores lusos que continua a preparar-se para trocar Portugal pela Suíça. Espera partir, juntamente com a namorada, em Junho. O cantão dos Grisões, que votou pelo fim da imigração em massa, deve ser o seu destino.

Será o regresso ao país onde viveu até aos cinco anos, uma vez que os pais estiveram mais de uma dezena de anos emigrados na Suíça. Um colega do pai está a tentar arranjar-lhe emprego na área da metalomecânica, como fresador CNC.

Fábio encontra-se a frequentar, em Portugal, a formação necessária para trabalhar nessa área, ao mesmo tempo que estuda alemão, o idioma falado no cantão para onde quer ir. “É difícil, porque é uma língua com a qual, normalmente, não temos contacto, mas com aplicação tudo se consegue. Acho bastante interessante e estou motivado para aprender”, afirma.

O jovem, que tem como habilitações literárias o 12º ano, não tem o perfil da maioria dos emigrantes. Fábio não decidiu partir por falta de trabalho. Pelo contrário, demitiu-se “para fazer estes cursos e poder emigrar para a Suíça”. A namorada também “está empregada”, enquanto estuda alemão.

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Futuros emigrantes desconhecem as implicações do resultado

“Sempre tive esse bichinho de ir para lá. Está na hora”, diz, entusiasmado, o filho de antigos emigrantes. O timing parece ter sido escolhido ao acaso, sem qualquer relação com o referendo de 9 de Fevereiro, em que os suíços disseram “sim” à reintrodução de quotas.

Fábio sabe qual foi o resultado da consulta popular, mas está mal informado sobre as consequências: “Pelo que sei, é só para quem está lá no fundo de desemprego, reformados, para não activos”. Isto foi o que lhe disse o colega do pai. Com os vários amigos que emigraram para a Suíça “nos últimos dois, três anos”, nem falou sobre o assunto.

Com os pais, que preferiam que ele ficasse “à beira deles”, tem conversado sobre o país de destino. Os progenitores dizem-lhe que “é muito bonito, que vale a pena conhecer, mas que também tem as suas coisas menos boas como em todo o lado”. Quais? “Há certos suíços, que são um pouco racistas com os emigrantes, mas também deve haver aqueles que aceitam. É como aqui em Portugal. É como em todo o mundo”, conclui.

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E o reagrupamento familiar estará em causa?

Fernanda Vieira também está a estudar alemão, juntamente com as filhas, tendo por objectivo emigrar para a Confederação Helvética, mas a sua situação é bem diferente da de Fábio. O seu marido já trabalha há cinco anos na Suíça, onde tem um contrato de trabalho por tempo indefinido.

Da última vez que ela e as filhas o visitaram, Fernanda aproveitou para pedir uma autorização de residência: “Tenho o permis B, que me aguenta lá durante cinco anos, mas para não estar a pagar a Krankenkasse [caixa de previdência de saúde] suspendi-o”. Agora, após o resultado do referendo, invadem-na as dúvidas: “Estou apreensiva! Não sei se ao dar conhecimento da minha ida, se a actualizarão ou se ma tirarão. As minhas filhas ainda não têm essa autorização”.

A swissinfo.ch contactou a Embaixada da Suíça em Portugal para tentar esclarecer se uma pessoa na situação de Fernanda poderá ter problemas para se juntar ao marido. Sem comentar este caso, em particular, foi-nos dito que nada impedirá o reagrupamento familiar num contexto semelhante.

Mas para que isso possa acontecer, a família de Fernanda terá de possuir uma habitação adequada, que respeite as “normas suíças”. O estúdio onde vive actualmente o marido não serve: “Nós passamos sempre férias lá. As miúdas dormiam numa cama insuflável. Fomos avisados que se fôssemos para lá permanentemente, não poderíamos continuar a viver ali”.

Uma casa maior implica uma renda mais alta, que a família terá dificuldades para pagar, caso a cidadã, natural de Vieira do Minho, não encontre trabalho na Suíça. Actualmente, a professora de Português e História também não tem emprego no seu país. Está a fazer uma pós-graduação, ao mesmo tempo que estuda alemão. Está consciente de que “se não levar alguns conhecimentos da língua”, apenas lhe restarão “as limpezas”, trabalho que experimentou durante um mês que passou na Suíça no verão passado.

Uma das empresas de recrutamento de enfermeiros para a Suíça, que tem sido um dos principais destinos destes profissionais portugueses nos últimos anos, apressou-se a tranquilizar os candidatos a emigrantes, depois do referendo de dia 9.

Na sua página do Facebook, a Leonor Vieira Recrutamento lembra que a Confederação Helvética não forma enfermeiros suíços em número suficiente, pelo que precisa sempre de recrutar estrangeiros.

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