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Portugal é homenageado nas Festas de Genebra

A voz de Tereza Pereira nas Festas de Genebra Lourdes Sola /swissinfo.ch

Todo ano, em agosto, Genebra faz uma grande festa, com a presença de dezenas de milhares de pessoas. Este ano, na cidade à beira do lago Léman, o tempero lusitano, pois Portugal é o convidado de honra.

Como não poderia deixar de ser, os visitantes são brindados com todas as delícias da gastronomia portuguesa: pastéis de nata, mil folhas, diferentes tipos de bacalhau e chouriças. Na maioria dos estandes, os clientes são atendidos por jovens portugueses que falam francês, inglês e que tentam uma nova vida na Suíça.

Estima-se que 250 mil portugueses vivam na Confederação Helvética, terceiro maior grupo de imigrantes. Esse contingente pesou na decisão do comitê de organização, formado por 12 representantes de diferentes áreas do evento. De acordo com os organizadores, a festa foi uma maneira de mostrar melhor uma cultura tão presente na cidade.

Atualmente, a crise econômica que mantém alta a taxa de desemprego em Portugal motiva uma outra onda emigratória: jovens que até mudam de profissão para tentar um futuro melhor. Maguy Ferreira, por exemplo, é cabeleireira e chegou há quatro meses. Trabalha agora numa distribuidora de bebidas e organizava o atendimento aos clientes sedentos por uma cerveja ou um licor portugueses.

“Estou aqui há 30 anos e as pessoas que chegam agora têm escolaridade e uma formação profissional”, diz João Roque, funcionário da TAP e um dos articuladores da participação portuguesa na festa de Genebra. De acordo com Roque, não fosse a crise econômica, a participação lusitana seria mais exuberante. “Estamos na festa graças ao empenho dos comerciantes que montaram seus estandes”, diz. Segundo ele, o governo português autorizou a presença do país no evento, mas não ofereceu subsídio algum aos participantes.

Segunda imigração

A dona de uma padaria de Genebra, Beatriz Ferreira, é uma imigrante reincidente. Ela já tinha morado na Suíça há nove anos. Passou algum tempo em Portugal, mas há quatro anos decidiu mudar-se com a família para Genebra.

Claro que a crise portuguesa pesou na decisão. “A vida é muito diferente e tem de se trabalhar duro, mas gosto muito daqui”, conta. Ela, o marido e dois filhos comandam a padaria, instalada numa boa região da cidade com todas as delícias portuguesas : pastéis de nata, mil folhas, bolos e pães especiais. “Quando se muda para cá tem de pensar que a vida se resume ao trabalho do dia a dia”, explica Beatriz.

Canto

Quem não tem um ponto comercial, também participa da festa. Tereza Pereira, por exemplo, homenageou seu país com a música. “Moro aqui há dez anos e nosso grupo canta nas missas em português, mas resolvemos colaborar com a festa portuguesa”, diz. “É uma pena que nosso país atravesse agora uma crise”, conta Tereza, que tem família em Portugal, mas sente-se dividida. “Gosto muito daqui e não sei se voltaria a viver lá, mas nunca esqueço de meu país e acho importante mantermos nossa cultura bem viva”, explicou.

Enquanto se apresentava, era acompanhada pela colônia portuguesa que conhecia as músicas dos compositores como Rui Veloso, Zeca Afonso, entre outros, que dificilmente tocam nas rádios suíças.

Lourdes Sola /swissinfo.ch

Mar português

A crise portuguesa mudou os rumos da vida de Lidia Silva, de 21 anos. Morava no Porto, fez um curso profissionalizante para cuidar de crianças e idosos. Lá trabalhava num restaurante onde não era registrada. Em Genebra há dois anos, Lidia foi contratada e até já encontrou um pequeno estúdio para morar. “Tento me adaptar: tenho de melhorar o francês e acostumar a viver longe da família”, conta. Durante a festa de Genebra ela atendia as mesas de pessoas saudosas das delícias portuguesas e servia chouriços grelhados, entrecosto, feijoadas e bifanas – sanduíche feito com carne de porco.

Além da falta da família, Lidia deixou em Portugal uma outra saudade. “Tenho saudades do mar, meu grande amigo”, conta. “Saia da escola e ia até o mar para olhar e pensar um pouco nas coisas todas da vida. Isso sim me faz falta”.

O tempo ajudou o chefe de cozinha José Carvalho, de 64 anos, a superar essa  saudade. Representante da antiga geração de imigrantes, Carvalho mora em Genebra há 34 anos. Criou os filhos, tem um neto e não deixa a saudade chegar: vai de três a quatro vezes por ano a Portugal. Ele é de Santa Dirce, no Porto. Seu prato preferido é o bacalhau ao forno, desfiado e com azeite, além do cozido à portuguesa. “Reza a história que esta é a nona crise que Portugal atravessa e tenho certeza que há de se recuperar”, diz. “Passo uns tempos lá e outros cá e está muito bom”, diz.  Depois de tantos anos longe de seu país, Carvalho pretende aproveitar tudo o que construiu e viver assim – entre o lago e o mar.

Este anos, os organizadores esperam um total de 2 milhões de visitantes.

No ano passado, passaram pela festa de Genebra cerca de 1,8 milhão de pessoas.

Sempre há um grande número de visitantes de países árabes na Festa de Genebra.

Este ano são mais de 150 concertos gratuitos, em três palcos.

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