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Deficiente brasileiro ganha vida nas ruas suíças

Helton de Oliveira fazendo embaixadinhas em Berna. swissinfo.ch

Ele está sempre nas ruas, faça sol ou faça chuva. Os pedestres interrompem a caminhada para ver o show: embaixadinhas com muletas. Vestido com a camisa da seleção brasileira, ele lembra que muitas crianças não tiveram a sorte de um Ronaldinho.

Mas Helton de Oliveira não quer a compaixão de ninguém. Ele vê seu trabalho como uma arte. Depois de 11 anos na Europa, o informático de profissão planeja o retorno ao Brasil.

Os termômetros em Berna já estavam marcando temperaturas negativas nessa tarde de 10 de dezembro. As lojas, decoradas com motivos natalinos, estavam cheias de clientes. Centenas de pessoas caminhavam embaixo das marquises na rua “Aarbergergasse”, uma das principais da capital suíça, em direção ao trabalho ou simplesmente por lazer. Porém um jovem postado na esquina chamava a atenção de muitos: deficiente físico, ele fazia intermináveis embaixadinhas com as suas muletas. A cada pausa, aplausos uníssonos.

Helton Pedro Severino de Oliveira tem 34 anos, mas aparenta ter menos. Originário de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, ele já está há onze anos na Europa. Mas isso não significa que tenha perdido completamente o contato com a terra natal. “Sempre volto ao Brasil, geralmente no final do ano. Tenho uma família grande por lá: mais de quarenta pessoas”, conta.

Desde que partiu, o brasileiro exerce o que considera um trabalho em várias metrópoles europeias. “A cada ano que volto, escolho um país diferente para ficar. O importante é não ficar muito batido para as pessoas”. Porém a ideia de se tornar artista de rua veio de amigos. “O que me atraiu para cá foram outras pessoas que já faziam esse tipo de coisa. São deficientes como eu, gente que já conhecia de lugares como clubes esportivos para deficientes no Brasil”, revela Helton, confessando ter tido paralisia infantil com apenas dois meses. Ele também não esconde que o problema veio das carências do sistema brasileiro de saúde. “Eu morava em uma fazenda de difícil acesso e naquela época a vacinação não era tão divulgada como hoje”.

Atuação na Copa

Muitos passantes reconhecem a sua origem, sobretudo pelo hábito de utilizar camisas da seleção brasileira. Durante a Copa do Mundo até se apresentou na Alemanha vestido de jogador. Na sua frente, um troféu lembrando a lendária taça Jules Rimet, onde as pessoas colocavam o dinheiro (clicar no link à direita). A reação do público é geralmente positiva. “As pessoas são muito simpáticas. Elas valorizam o meu trabalho. Eu nunca sofri de racismo também”, conta Helton. De todas as cidades suíças, a sua preferida é Genebra. Razão: o grande número de turistas e, possivelmente, a maior generosidade dos habitantes da cidade de Calvino, o fundador do Protestantismo.

Talvez por isso é que, financeiramente, seu trabalho nas ruas traga frutos. Em poucos minutos acompanhando as suas embaixadinhas, várias pessoas apareceram e colocaram moedas e notas na latinha à sua frente. Perguntado se ganha o suficiente para viver, ele desconversa. “Depende muito. Tem dia que não ganho nada e outros em que vale a pena ter feito a viagem. Até hoje deu para suprir minhas necessidades”, explica Helton, revelando depois tirar entre 80 e 90 francos por dia, o que corresponde a aproximadamente 140 e 154 reais. O dinheiro é economizado com grande esforço, já que evita gastos não necessários ou até mesmo o lazer.

Porém, até pessoas como ele não levam tudo para casa. O Estado cobra a sua parte. “Para você trabalhar nas ruas é preciso passar pelas autoridades. Tenho que pegar todo dia uma autorização nas cidades onde estou e pagar por elas. É um trabalho normal. Tenho de pagar para poder exercer minha profissão”, explica. Em Berna são 10 francos por dia (18 reais). Isso obriga Helton a acordar ainda de madrugada para ir aos diferentes órgãos das cidades escolhidas. “Dependendo da cidade, vou à Polícia do Comércio ou Polícia de Estrangeiros. Faço fila, pago as taxas e depois começo a atuar.”

A concorrência é grande nas ruas. Durante o período de festas, centenas de músicos, grande parte deles ciganos de países como Hungria ou Eslováquia, mas também artistas circenses e mesmo pedintes, estes são fortemente dissuadidos pela polícia. As regras são duras para todos. “Eu só posso ficar algumas horas no mesmo ponto. Depois tenho de mudar para outro lugar”, revela o brasileiro, acrescentando também que essa medida existe para evitar que o lojista escute a mesma música o tempo todo. “Sobretudo no caso dos ciganos”, brinca.

Volta definitiva ao Brasil

Por enquanto a concorrência para Helton ainda é reduzida. Segundo seus cálculos, em toda Europa existem apenas mais três deficientes que ganham a vida fazendo embaixadinha nas ruas. E todos eles se conhecem. “Somos amigos. Um é mineiro como eu, o que me trouxe para cá, o outro vem de São Paulo e um do Rio de Janeiro”. O fato de todos serem brasileiros tem, em sua opinião, alguma coisa a ver com a habilidade desse povo com a bola. “O fato é que não encontrei ainda nenhum europeu”.

O trabalho é duro. Helton faz poucas pausas e está sempre de pé, apesar de ter uma perna mais curta do que a outra. Sua energia vem, possivelmente, dos seus planos. Depois de 11 anos no exterior e a separação da sua ex-esposa brasileira, ele agora planeja retornar definitivamente ao Brasil. Técnico em informática de profissão, o brasileiro sempre procurou se atualizar através de cursos à distância ou leitura de livros. “Nessa área você não pode ficar parado”, reforça.

Durante os últimos anos ele percebeu que a economia brasileira estava melhorando. Se tudo der certo, e com o pé de meia feito nos vários anos de embaixadinhas, Helton quer procurar um emprego em sua terra. Seu maior sonho é estar, enfim, perto das pessoas que tanto gosta, mas dessa vez com otimismo. “O Brasil não é o país do futuro?”.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

A Poliomielite é uma doença em erradicação pela vacinação dirigida pela OMS.

É causada por um vírus, que provoca paralisia por vezes mortal.

É mais comum em crianças (“paralisia infantil”), mas também ocorre em adultos. Como a transmissão do poliovírus “selvagem” pode se dar de pessoa a pessoa através de contato fecal-oral, o que é crítico em condições sanitárias e de higiene inadequadas.

Crianças de pouca idade, ainda sem hábitos de higiene desenvolvidos, estão particularmente sob risco.

O poliovírus também pode ser disseminado por contaminação fecal de água e alimentos.

Todos os doentes, assintomáticos ou sintomáticos, expulsam grande quantidade de vírus infecciosos nas fezes, até cerca de três semanas depois da infecção do indivíduo.

Os seres humanos são os únicos atingidos e os únicos reservatórios, daí a vacinação universal para erradicar a doença. (texto: Wikipédia em português)

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