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Suíços podem fazer serviço civil no exterior

David Bösch

Quinze mil jovens suíços em idade de prestar o serviço militar escolheram no ano passado o serviço civil como alternativa. Desses, 162 foram ao exterior, uma opção pouco conhecida e bastante exigente. Saiba então quais são as condições.

Serviço civil no exterior? Os exemplos não faltam: técnico de laboratório no Instituto Suíços dos Trópicos ou como motorista de caminhão para a ONG “Médicos sem Fronteiras” na África, professor de matemática no Brasil, instrutor de desinfecção de água potável ou especialista na construção de poços artesianos em algum país em desenvolvimento.

Essas e outras possibilidades na área de cooperação para o desenvolvimento ou ajuda humanitária são oferecidas por um órgão especializado, localizado em Thun (cantão de Berna) para jovens em idade de prestar o serviço militar e que se interessam pela possibilidade de atuar no exterior. Porém as exigências são muitas.

Uma delas obriga o candidato a ter uma formação profissional concluída ou, pelo menos, dois anos de estudos. O interessado também necessita ter conhecimentos do idioma oficial do país de interesse e também já ter tido experiências no exterior.

“Experiência no exterior não significa ter passado férias no Brasil, mas sim conhecer a língua e também o contexto local”, explica Samuel Werenfels, chefe do Departamento de Serviço Civil (ZIVI, na sigla em alemão). “Se o jovem não conhece os riscos que estão ligados ao trabalho e se não conhece a realidade que o espera, então não autorizamos a prestação de serviço civil no exterior.”

Procura elevada 

“Em si estamos em um dilema”, ressalta o jurista. “Os jovens gostariam muito de ir ao exterior, já que a procura é muito grande. Porém essas ações no exterior têm muitas exigências, que a grande parte dos candidatos não consegue preencher.”

Werenfels foi responsável pelo projeto de criação do Serviço Civil. Em 1996 ele recebeu pessoalmente a primeira solicitação. Já nessa época as ações no exterior eram possíveis, mesmo se o número de locais capazes de acolher esses jovens fosse bastante reduzido. Agora a cada ano existem mais instituições e empresas. Porém mesmo se o número de pessoas que prestou o seu serviço no exterior praticamente dobrou nos últimos quatro anos, eles correspondem apenas a um por cento do total (15 mil).

Uma razão para o número reduzido é, além dos critérios severos de seleção, é o desconhecimento geral da possibilidade de prestar o serviço civil no exterior. “Nós somos deliberadamente discretos e não fazemos propaganda disso. Pois desde que foi abolido o teste de consciência para justificar a prestação do serviço civil, os números não param de aumentar”, explica Werenfels.

Thomas Anderegg lamenta essa relutância. Também o procedimento para a ação no exterior é complicada. O funcionário administrativo de 22 anos, e atualmente inscrito na escola de oficiais do Exército suíço, já havia assinado uma petição no Parlamento, na qual pede um aumento da oferta de serviço civil no setor da cooperação para o desenvolvimento.

“Essa possibilidade deveria ser melhor informada no momento do alistamento e o acesso facilitado”, considera Anderegg. “É melhor enviar pessoas do que dinheiro a esses países. Isso também seria bom para a imagem da Suíça.”

A Agência de Cooperação e Desenvolvimento (DEZA) confirma a preferência dos jovens pelo serviço civil no exterior. “São pessoas que se interessam por outras culturas e países, e se dispõem a trabalhar em um contexto particularmente difícil”, afirma o serviço de comunicação.

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“Nosso trabalho foi bem sucedido”

Este conteúdo foi publicado em O Centro de Formação Profissional de Liweitari, Benin, uma instituição ligada à Igreja, foram mecânicos e operários civis através do sistema suíço dual. Atualmente David Bösch trabalha como supervisor elétrico para uma empresa suíça em Beira, Moçambique. “Sem o serviço civil prestado por mim eu não teria vindo trabalhar na África (fotos: David Bösch, texto:…

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Especialistas procurados 

Para que uma instituição ou empresa possam oferecer postos de trabalho para o serviço civil no exterior, elas precisam ser reconhecidas pelas autoridades suíças. Também a sede precisa estar localizada na Suíça. Assim. muitas das vagas abertas são em ONGs como Helvetas, Caritas ou Terra dos Homens ou nos escritórios da DEZA ou das ONGs que trabalham juntamente com esse órgão.

“Nosso lema é: nós enviamos especialistas, não apenas braços e pernas. Já há bastante gente que pode trabalhar diretamente nesses países, mas o que falta, geralmente, são os conhecimentos”, detalha Samuel Werenfels.

Para muitos está claro que o país escolhido para cumprir o serviço civil também pode ser problemático. Se este for qualificado de “crítico” pelas autoridades, os jovens são obrigados a fazer o curso “como lidar sem violência com conflitos” e também um curso de segurança. “Nós consultamos sistematicamente os conselhos do Ministério suíço das Relações Exteriores e, em caso de dúvida, também ligamos diretamente para a embaixada. Se um país for considerado extremamente perigoso, então não oferecemos nenhuma vaga nele”, ressalta Werenfels.

Desde 1996 o suíço apto a prestar o serviço militar, mas que é objetor de consciência, pode fazer o serviço civil alternativo. Ele dura 1,5 vezes a mais do que o serviço militar e totaliza 390 dias.

Até 2009 os candidatos ao serviço civil precisavam passar por um teste de objetor de consciência. Desde então o candidato só precisa fazer uma declaração de que não desejar prestar o serviço militar.

A disposição de prestar um serviço que dura 50% a mais já é o suficiente para provar sua capacitação ao serviço civil.

Como o número de candidatos do serviço civil aumentou drasticamente, o governo suíço tornou as condições mais rigorosas.

Serviço civil em transformação 

Como a situação de segurança nos diferentes países se tornou mais complicada, os responsáveis pelo serviço civil querem reavaliar o papel e o valor do serviço civil no exterior. “Também as tarefas de manutenção da paz não teriam de ser assumidas? Na questão da compreensão mútua, como os outros países o fazem? Seria possível imaginar funções como observação de eleições para participantes com maior idade? Ou talvez cooperação com os grupos de especialistas do Ministério das Relações Exteriores? Quais são os limites? Todas essas questões estão abertas”, explica Werenfels.

“Nós ainda estamos no início desse processo de avaliação e ainda precisamos fazer uma análise dos riscos. Além disso, temos de determinar os verdadeiros objetivos do serviço civil. Existem diversas opções relacionadas às ações no exterior, mas agora precisamos descobrir se elas fazem sentido, se devemos ir nessa direção ou se, através disso, lançaremos novos problemas.”

Em 2012 foram realizados 162 ações civis no exterior (2011: 171, 2010: 131, 2009: 97, 2008: 73). O número corresponde a 1% do serviço civil.

O serviço civil no exterior ocorre nas áreas de cooperação para o desenvolvimento ou ajuda humanitária. Em geral, essas ações ocorre nos principais países de trabalho da Agência de Cooperação e Desenvolvimento (DEZA).

No total, 15 mil jovens em idade de prestar o serviço militar escolheram a opção do serviço civil (2011: 14’349).

No total eles serviram 1,2 milhões de dias (2011: 1,1 milhões).

O serviço civil foi realizado em 3.527 empresas/instituições (2011: 3078). 

Adaptação: Alexander Thoele

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