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Gaúcho do FC Zurique vai ver a Copa nas férias

Pedro Henrique (de branco) em plena ação no campeonato suíço, contra o FC Sion. Keystone

O meio-campista Pedro Henrique Konzen chegou ao FC Zurique com 21 anos e, apesar do sobrenome, não falava alemão. Também teve um pouco de dificuldade com o frio suíço, diferente do Rio Grande do Sul. Hoje, com 23 anos, está adaptado e tem mais dois anos de contrato. Durante a Copa ele estará entre amigos e parentes no Brasil.

O jogador do FC Zurique, um dos dois clubes da primeira divisão na maior cidade suíça, chega para a entrevista ainda com roupa do treino que acabara de terminar, num final de manhã ensolarada e agradável da primavera que se anuncia. A ficha de Pedro Henrique no site do clube diz que ele é natural de Santa Cruz do Sul, mas ele precisa que é do interior do São Francisco. De fato, ele foi criado na fazenda dos avós, que falavam alemão.

“Com as gerações isso foi se perdendo e eu nunca me interessei”, conta, lembrando que os que falavam alemão tinham sotaque e os outros garotos zombavam deles na escola. Com o sobrenome Konzen, tem uma aparência germânica, mas que “não tem jeito, o sangue é brasileiro”. Aprendeu alemão em Zurique e hoje se vira muito bem.

Um grande salto

Ele saiu do interior de Santa Cruz, das fazendas das colônias, com 15 anos e nunca mais voltou. “Eu sinto muita falta porque cresci num ambiente diferente, muito livre. Então tem muita diferença entre Zurique e o interior de Santa Cruz.” Mesmo depois de ter morado e jogado em Caxias do Sul e no Grêmio de Porto Alegre, quando chegou em Zurique “foi um baque”.

Quando viu que os carros paravam para o pedestre atravessar na faixa, Pedro Henrique achou que era tudo ensaiado, que não era possível que o povo todo fizesse assim. Para sair de vez quando da rotina treino, jogo, casa e descanso, Pedro Henrique e a esposa veem shows de música brasileira ou vão a restaurantes e até a uma churrascaria perto de Zurique. “Não é a mesma coisa da carne gaúcha, mas dá para o gasto”, afirma Pedro, como também é chamado pelos colegas de clube.

Ele não se esquece que o gaúcho é meio orgulhoso e diz que o Rio Grande é o único lugar do Brasil que é diferente. Tem lugares organizados e com grande qualidade de vida, “mas aqui acho que é exemplo para o Rio Grande do Sul e o Brasil”.

Clubes organizados

O FC Zurique é a primeira experiência na Europa para Pedro Henrique. “Pelo que vejo e pelo que ouço falar é um clube bem organizado e bem estruturado”. Mas depois ele esteve no Grêmio, onde foi campeão brasileiro sub-20, “e o Grêmio é uma máquina no Brasil. Lá eu aprendi o que é ser jogador de futebol”. O Caxias é um clube menor, mas permitiu que ele aparecesse para vir para a Europa. Então, Pedro diz ser muito grato por ter conhecido até agora duas experiências de clubes organizados, tanto no Brasil como na Suíça, mas “quem sabe aí na frente a gente possa voar um pouco mais alto e conhecer outras equipes organizadas na Europa, né?”

Pedro Henrique diz que quando tinha cinco ou seis anos, ligava a televisão e só dava Grêmio, campeão brasileiro, campeão das Libertadores. “Tinha Paulo Nunes e Jardel e todo menino daquela época queria ser igual a eles. Eu mesmo tinha o cabelo igual ao do Paulo Nunes”, lembra o gaúcho. Um repórter certa vez lhe perguntou se ele tinha saído da favela. “Talvez seja mais difícil sair do interior para entrar na cidade”. Ele se sente então um privilegiado de ter saído de onde saiu e de ter chegado aqui, “fora o que ainda pode vir por aí.”

Futebol suíço

No Brasil, por ver mais Espanha, Inglaterra, Itália, Pedro se surpreendeu quando chegou na Suíça se surpreendeu pela combatividade e, aos poucos, viu que o futebol suíço tinha uma certa semelhança com o alemão. “Aqui é bastante tático, coisa que aprendi muito aqui também”. Ele acha que a seleção suíça ganhou muito no aspecto ofensivo e “tem jogadores interessantes na frente”.

Ele lembra que a seleção suíça antes tinha muito rigor tático e defensivo e lembra que foi a única que ganhou da Espanha em 2010, na África do Sul. “Mas agora, com essa ofensividade, eles podem pensar um pouco mais alto e não seria surpresa para mim se eles passarem da primeira fase.”

Torcidas e manifestações

Durante a Copa, Pedro Henrique estará de férias no Brasil, mas diz que ainda não falou com ninguém para arrumar ingresso. Se não der, ele vai ver os jogos num telão, como a maioria dos brasileiros.  Ele diz que vai ter duas seleções: o Brasil que todo mundo acha, e ele também, que vai ser campeão, “mas vai ter que mostrar dentro de campo” e também vai torcer para a Suíça fazer o melhor porque conheço os jogadores e o futebol daqui”. Então ele torce para o Brasil ser campeão e Suíça ir muito longe na Copa do Mundo.

Pedro Henrique sabe que está na melhor fase desde que chegou há dois anos no FC Zurique (ainda tem mais dois anos de contrato). Ele também sonha com a seleção brasileira e lembra que se saiu do interior para estar bem agora no futebol suíço, o que será que vai acontecer ali frente? Ele questiona e responde que “só vai depender de mim”. Mas ele sabe que é muito difícil, “porém não é impossível e se não é impossível a gente vai atrás”.

Pedro acompanhou as manifestações que ocorreram durante a Copa das Confederações e acha que elas também vão ocorrer durante a Copa do Mundo. Ele pensa um pouco e diz que o futebol “sempre foi uma peça neutra de todos os problemas brasileiros. Muitos políticos são culpados porque não respeitaram as pessoas que votaram neles. Organizaram mal tantas coisas que nem o futebol resistiu”. Ele acha que o futebol ainda vai resistir na Copa do Mundo, mas as manifestações devem servir de alerta aos políticos do alto escalão “que estão pisando na bola.”

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