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Azurea: Uma ilha de mecânica de precisão suíça no Porto

No parque industrial da Maia, entre pavilhões que acolhem diversas empresas, a empresa suíça Azurea localiza-se num edifício sóbrio e discreto. As novas instalações têm uma área de quatro mil metros quadrados e foram inauguradas em abril deste ano. O grupo investiu três milhões de euros nesta nova unidade portuguesa, onde emprega 33 trabalhadores.

Dois homens posando para a foto na frente de uma parede de azulejos
Vincent e Daniel nas instalações da Azurea. swissinfo.ch

swissinfo.ch esteve a conversar com o CEO do grupo Azurea Daniel Uhlmann, mesmo antes de apanhar o seu voo de regresso à Suíça, e o COO (“chief operating officer”) Vincent Skrzypczak desta unidade. Podemos mesmo dizer que este foi um dos fatores importantes para escolha do Porto, uma boa ligação aérea “para que possa vir aqui de manhã e à noite estar de regresso na Suíça”, conta-nos o CEO da Azurea. 

O grupo Azurea

A vida desta empresa, especializada em produtos de alta precisão mecânica, iniciou-se há cerca de 100 anos. O grupo é especializado em componentes mecânicos para a alta relojoaria e equipamentos de medição. Tal como frisou Daniel Uhlmann, na maioria dos casos, não sabem qual a aplicação final dos componentes produzidos porque atuam apenas como fornecedores para diversas marcas que fabricam relógios, equipamentos médicos, entre outros.

O grupo Azurea detém três fábricas na Confederação Helvética, nas localidades de Moutier, Bévilard e Belprahon. Juntamente com a unidade de produção portuguesa, a Azurea emprega cerca de 200 trabalhadores. O volume total de negócios do grupo cifra-se nos 30 milhões de francos anualmente e a sua produção global em cerca de 10 milhões de componentes.

A primeira unidade industrial no estrangeiro

Para além das ligações aéreas, Daniel Uhlmann sublinha que “tínhamos falta de trabalhadores especializados em mecânica na Suíça. Por isso, o nosso primeiro objetivo era irmos para um país onde conseguíssemos encontrá-los, que fosse perto da Suíça e politicamente estável”, sintetiza. Na Maia, na região metropolitana da cidade do Porto, encontraram boas vias de comunicação e bons conhecimentos técnicos de mecânica.

Nas unidades de produção suíças, existem diversos lusos a trabalhar. Essa realidade acabou por ser um trunfo que a Azurea teve entre mãos e proporcionou-lhes uma visão mais precisa sobre a realidade portuguesa. Desde o início que se queriam estabelecer na região do Porto, em vez do sul do país, particularmente devido à maior concentração de diversas indústrias no litoral norte português.

Para implementarem a primeira fábrica em solo estrangeiro, escolheram o complexo da Tecmaia, na Maia, e a sua fundação aconteceu em 2012. Inicialmente, investiram cerca de quatro milhões de euros e contavam com sete trabalhadores. Em Portugal, investiram um total de sete milhões de euros desde a fundação da unidade de produção. O montante total investido expressa a confiança que o grupo deposita no retângulo luso para o futuro, “claro, não iríamos ficar seis meses e voltar para a Suíça”, brinca o CEO Daniel Uhlmann. 

Como fator determinante para a escolha de Portugal, Daniel Uhlmann destaca o programa Portugal 2020, co-financiado pela Comissão Europeia, e que se orienta sob quatro domínios temáticos: – Competitividade e Internacionalização; – Inclusão Social e Emprego; – Capital Humano; – Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos. O fundo contabiliza um total de 25 mil milhões de euros que se dividem por 16 Programas Operacionais. 

Perícia nos componentes

Ao caminharmos pelo chão da fábrica, uma sensação de espanto invade-nos quando nos mostram as peças microscópicas que são ali produzidas, que comparamos com as dimensões generosas das máquinas ali presentes. Nas diversas bancadas de trabalho têm de existir sempre microscópios, para que os operadores e o departamento de controlo de qualidade consigam observar as peças produzidas nos tornos mecânicos, fresadoras e máquina de erosão a frio. 

“Não se trata apenas de vender componentes metálicos, nós vendemos soluções para as exigências que os nossos clientes têm de enfrentar”, atira Vincent Skrzypczak. Esse é, na sua opinião, o fator de diferenciação. A empresa produz, entre diversos componentes, peças mecânicas para os relógios manuais, pinhão (veio dentado), rodas, eixos e conjuntos.

A unidade portuguesa tem um papel de suporte da produção global, fazendo componentes para as três fábricas do grupo e, dessa forma, podem dar resposta às solicitações. Nesta fábrica, a capacidade produtiva inicial era de 350 mil peças anuais e, atualmente, ascende a dois milhões de componentes, havendo vontade de chegar às três milhões de peças anualmente. O aumento de produção evidencia o papel importante que está a desempenhar na globalidade do grupo.

Impacto local

Devido à localização privilegiada, costumam requisitar serviços a empresas locais e contabilizam cerca de 70 fornecedores, desde serviços a ferramentas, entre outros, “essa também é a grande vantagem de estarmos aqui”, destaca Daniel Uhlmann. 

Fachada de edifício e rua
Vista lateral do edifício da Azurea no parque industrial Tecmaia. swissinfo.ch

Os primeiros sete trabalhadores tiveram de receber formação na sede na Suíça, para apreenderem as especificidades técnicas dos componentes produzidos e, também, conhecerem as formas de operar as máquinas de torneamento e mineração. Neste momento, a unidade portuguesa congrega um elevado nível de conhecimento que lhes permite formarem os novos trabalhadores sem haver necessidade de irem à Suíça.

A Azurea está, igualmente, em contato com a escola profissional CENFIM, que está presente em diversas cidades portuguesas, para que conheçam os meandros da formação profissional em Portugal. Tal como Vincent Skrzypczak sublinhou, “é muito importantes estarmos perto da formação para encontrar novos profissionais”. Neste momento, têm dois estagiários a trabalhar nas instalações.

Planos de crescimento

Apesar de a capacidade de produção instalada ser elevada, os planos para incrementar a produção estão, de momento, a ser traçados, “ainda temos uma área que está disponível para receber mais maquinaria para que no curto prazo possamos atingir as três milhões de peças anuais e talvez, progredir ainda mais”, partilham. O crescimento é o grande objetivo do grupo Azurea para os anos que se avizinham. O volume de negócios atual da unidade portuguesa situa-se em torno dos dois milhões de euros.

Outro grande objetivo para o grupo é “que a produção passe completamente para Portugal e a Investigação e Desenvolvimento permaneça na Suíça”. Esta estratégia permite-lhes retirar vantagens económicas evidentes, devido aos custos laborais serem mais baixos em Portugal do que na Suíça, conseguindo obter maior competitividade.

Desta forma, na opinião do CEO Daniel Uhlmann, “para além das vantagens económicas, conseguimos fazer uma excelente combinação entre o conhecimento suíço e a perícia técnica portuguesa”, sorri-nos, satisfeito por terem conseguido alcançar sucesso na estratégia montada e pelo futuro de oportunidades que estão a construir.

Relações econômicas entre Suíça e Portugal

Segundo dados do Banco de Portugal, os investimentos suíços no país luso situaram-se, em 2017, em torno dos dois mil milhões de euros. No sentido oposto, os investimentos portugueses na Confederação Helvética foram residuais, na ordem dos 47,2 milhões de euros.

A balança comercial entre os dois países fixou-se em cerca de 1,5 mil milhões de euros, segundo dados da SECO. Em 2017, as exportações portuguesas tiveram um volume de 580 milhões de euros e as importações oriundas do país helvético fixaram-se nos 270 milhões de euros, segundo dados do INE. 

No setor relojoeiro, Portugal subiu diversos lugares nas importações de relógios e acessórios, tendo importado, aproximadamente, 140 milhões de euros nesses produtos, colocando-se como vigésimo mercado a nível mundial, segundo dados da Federação da Industria Relojoeira da Suíça.

Segundo dados da Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal, as exportações portuguesas de relógios e seus componentes, atingiram, em 2015, um volume total de 129,6 milhões de euros, tendo a Suíça absorvido 22% das mesmas, fazendo parte dos três mercados mais importantes para a indústria.

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