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Suíça desencoraja ciganos da Sérvia

Família de ciganos em um campo na Sérvia. Keystone

Rumores sobre a alegada possibilidade para ciganos se estabelecerem legalmente provocaram uma verdadeira invasão na Suíça. No ano passado, o número de solicitantes de asilo político dessa etnia vindos da Sérvia aumentou exponencialmente.

Mas o governo federal já tomou medidas para tentar inverter a tendência.


Em 2010, cerca de 70% dos 910 pedidos de asilo feitos por pessoas de nacionalidade sérvia na Suíça eram de ciganos. Desde 2009, o número desses solicitantes saltou para 58% na Suíça.

O fenômeno se explica, em parte, pela decisão dos países do espaço Schengen de acabar com a exigência de vistos para cidadãos da Sérvia, Montenegro e Macedônia. A medida havia entrado em vigor em dezembro de 2009.

Outra razão é devido a um fator inesperado, como explica Marie Avet, porta-voz do Departamento Federal de Migração (ODM, na sigla em francês): “Constatamos que boatos espalhados pelos traficantes de pessoas circulavam na Sérvia. Eram rumores nos quais a Suíça estaria dando vistos de permanência para ciganos que fizessem o pedido.”

As consequências do fim da exigência de visto junto com as informações incorretas não se deixaram esperar. Somente nos meses de março a abril de 2010, cerca de 300 cidadãos ciganos da Sérvia fizeram um pedido de asilo na Suíça, revelou o ODM, acrescentando que o afluxo era principalmente concentrado nesse período. A maior parte dos candidatos a asilo chega à Suíça passando pelas fronteiras ao nordeste do país.

 

Redução drástica

Porém depois a situação se normalizou, como explica o órgão. Sobretudo devido à redução drástica do montante de ajuda ao retorno dado aos ciganos dispostos a voltar ao seu país. Assim os quatrocentos francos de prêmio passaram a ser de apenas 100 francos, ou seja, uma redução de 75%.

“Isso desencoraja os eventuais turistas da ajuda ao retorno”, admite Marie Avet. A medida foi aprovada igualmente pela vice-presidente da Conferência de Diretores Cantonais de Justiça e Polícia, Karin Keller-Sutter, que declarou nas colunas do jornal semanal NZZ am Sonntag que o afluxo de solicitantes ciganos da Sérvia iria “certamente diminuir”.

 

Miséria e exílio

Durante a guerra dos Bálcãs, a província sérvia da Voïvodine se transformou na terra de acolho de inúmeros refugiados e deslocados internos de toda a ex-Iugoslávia. Dezenas de milhares de ciganos provenientes do Kosovo encontraram por lá refúgio.

Hoje em dia, as condições de vida no local se deterioraram sensivelmente e a qualidade de vida se tornou uma das mais miseráveis da Europa. A esperança de vida dessa população é comparável à de algumas populações na África e na Ásia.

A taxa de desemprego é extremamente elevada e quase nenhum habitante dessas favelas dispõe de um emprego fixo. São essas condições de extrema pobreza que levam os ciganos a abandonar os Bálcãs em direção à Europa ocidental.

“País seguro”

A situação e as perseguições vividas pela etnia provocam denuncias de diversas organizações de ajuda humanitária e ONGs. É o caso da Anistia Internacional Suíça (AI), que qualifica de “miseráveis” as condições de vida dos ciganos.

Magdalena Urrejola, coordenadora de uma campanha contra discriminação, lembra que na Sérvia, especialmente, “as minorias ciganas são regularmente vítimas de ataques racistas e de evacuações forçadas dos acampamentos em que vivem. Suas crianças não têm praticamente acesso à escolaridade e a taxa de desemprego é extremamente elevada entre essa população”, declara.

E mesmo se a ODM afirma examinar individualmente cada pedido, Marie Avet admite que as chances dos solicitantes ciganos da Sérvia de permanecer na Suíça e de obter o asilo “são praticamente inexistentes, já que seus motivos são puramente econômicos”.

De fato, a Suíça considera a Sérvia como um país seguro. “Nossa excelente colaboração com as autoridades sérvias nos facilitaram a devolução dessas pessoas ao seu país”, diz Marie Avet, referindo-se ao acordo de readmissão assinado conjuntamente pela Suíça e a Sérvia em junho de 2009.

Essa prática é criticada pela Anistia Internacional Suíça, como ressalta Magdalena Urrejola: “Nos opomos ao reenvio dessas pessoas, pois as coloca nas mesmas condições de miséria e de discriminação e não ajudam nada para resolver o problema.”

Em 2010, 910 dos 15.567 pedidos de asilo feitos na Suíça vinham de cidadãos sérvios.

Cerca de 70% deles eram ciganos originários do Kosovo, que haviam encontrado refúgio na Sérvia durante a guerra da ex-Iugoslávia.

Os solicitantes sérvios ocupam o terceiro lugar após os nigerianos, eritreus e os cingaleses.

Eles estão à frente, especialmente, dos afegãos, iraquianos e georgianos.

Para dissuadir os potenciais novos operadores, a Confederação decidiu reduzir a ajuda ao regresso dos requerentes de asilo rejeitados atribuído a três quartos.

A quantidade passou de 400 a 100 francos por pessoa. A soma lhes é dada em dinheiro no momento da partida.

Um acordo de readmissão, co-assinado em junho de 2009 pela Suíça e Sérvia facilita o retorno dos requerentes de asilo rejeitados para casa.

Várias organizações de ajuda humanitária, incluindo a EPER (Ajuda da Igreja Protestante Suíça), financiam programas de integração e de escolarização dos ciganos nos Bálcãs.

Adaptaçao: Alexander Thoele

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