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Suíça e Portugal na origem da discussão artística

Andreas Blatter, Magdalena Falska e Kerstin Greve (Luís Guita/swissinfo.ch) swissinfo.ch

Rua da Madalena Project é o novo espaço de exposição de arte contemporânea em Lisboa.

Na baixa da capital portuguesa, agora existe um ponto de encontro onde se dá particular destaque à discussão e análise do cruzamento entre arquitetura e arte.

O conceito visa provocar a discussão entre artistas de Portugal e de outros países. As exposições realizadas até agora colocaram frente-a-frente artistas plásticos da Suiça e de Portugal. Um elemento a que não é estranho o fato de parte dos responsáveis terem raízes nestes países.

Com a coordenação de Andreas Blatter, que se apresenta como “meio-suíço meio-português”, Kerstin Greve, da Suíça, e Magdalena Falska, da Polónia, a faceta experimental do Rua da Madalena Project faculta o confronto entre as concepções da arte contemporânea portuguesa e as ideias com origem em outros países.

Na primeira exposição realizada, no fim de 2010, sob o titulo “ Double exposure”, foi apresentado o trabalho do suíço Manon Bellet e do português Pedro Barateiro.  Para a segunda e mais recente exposição, “Rua da Madalena Project Number 2”, foram convidados os artistas Kilian Ruthemann,  da Suíça, e Alexandre Estrela, de Portugal. 

De Basileia a Lisboa, na rota da arte contemporânea

Conheceram-se e estudaram em Basileia, mas a feliz coincidência de se terem reencontrado em Lisboa, fez nascer a ideia que deu origem ao Rua da Madalena Project.  Entretanto, Kerstin Greve fez de Lisboa a sua cidade, enquanto Andreas Blattler e Magdalena Falska estão cada vez mais divididos entre a capital portuguesa e Basileia.

Andreas Blatter diz que  “esse o conceito de artistas suíços e portugueses vai prosseguir. Kerstin Greve acrescenta que “também queremos abrir este espaço a outros países da Europa. Na terceira exposição podemos vir a mostrar um artista da Polónia. Mas, mostrar sempre um artista daqui, de Portugal, e um artista de fora”.

Quanto às futuras exposições, Andreas Blatter responde que “ a ideia de, no futuro,  é trabalhar com arquitetos. Pretendemos  trabalhar não só com o espaço da galeria, mas também com a própria Rua da Madalena e o bairro. E também de fazer alguma coisa com artistas que não produzem coisas com materiais, mas mais com a internet ou algo do género. Isto, para fazer coisas que trazem algo de novo”.

A intervenção pela afirmação

Kilian Ruthemann desenvolve um trabalho de site especifico  onde,  como escultor,  a questão abordada “não é tanto sobre as características do material, mas como se interage com o material.  Como deixar que os materiais trabalhem,  se revelem,  ao mesmo tempo que as suas qualidades são exploradas.”

Produzindo projetos de baixo custo, Kilian realizou seis peças específicas para  intervir no edifício pombalino da Rua da Madalena.  Recorrendo a objetos e materiais que fazem parte do nosso dia-a-dia, o artista afirma a sua presença. Uma linha de cacos de lâmpadas fluorescentes colados a uma parede, uma pele sintética que, depois de embebida em betume negro, foi lançada ao chão, uma porta pintada de branco cintilante sob um arco, vidro colado a uma parede através de silicone negro, fazem parte dos elementos criados para intervir na cave lisboeta.

A ambiguidade da imagem

O trabalho sobre a utilização da imagem passível de ser analisada como um fenómeno perceptivo, é alvo da criação de Alexandre Estrela.

“Uma das coisas que me interessa é a materialidade da imagem. Por vezes uso filme,  imagem em movimento ou fotografia,  mas interessa-me sobretudo a ambiguidade física da imagem” revela Alexandre Estrela,  que acrescenta: “Uma das coisas que me interessa,  como artista plástico,  é a plasticidade e,  no fundo,  o cruzamento destes vários materiais.  Interessa-me sobretudo transportar a ideia da imagem para um lado mais físico”.

“Inversão Polar” e “Antípodas” são as duas peças que Alexandre Estrela mostrou no Rua da Madalena Project.  As duas peças “andam à roda da ideia de que o Sol,  de 11 em 11 anos, muda a sua polaridade magnética”, esclarece o artista.

Em “Inversão Polar”, com um filme de 16mm em projeção contínua,  é dado a ver,  através do registo de um círculo de luz desenhado pelo sol numa parede,  resultante de um efeito de pin-hole, a polaridade da luz invertida dos raios de sol.

“Antípodas” é a peça onde  Alexandre Estrela desenvolve o seu trabalho sobre a questão percetiva.  As imagens de polinização de árvores em Berlim e da espuma formada numa praia da Bretanha,  constituem aquilo que lemos como neve.  Ao recorrer a dois projetores para dar a sensação de que é um plano que está a rodar,  quando, no fundo, o que está a rodar é a própria imagem, o jogo percetivo fica concluído

” Eu sou meio-suíço meio-português e, por isso, também me interesso por Portugal.  E depois,  é muito interessante,  porque é sempre nestes momentos de crise que existe uma transformação social, política e de trabalho. E, com os artistas, criam-se outras perspetivas”.

“Na arte, mesmo aqui em Lisboa, há muita coisa que está a mudar. Houve muitas pessoas que disseram que um espaço como este fazia falta em Lisboa.  Porque permite a comunicação entre artistas, entre portugueses e suíços;  depois também pode ser,  por exemplo, com artistas polacos”.

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