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Suíça terra de miséria

Família atingida pela morte. Herisau, Arquivos privados

No réveillon de 1815, os suíços desejam uns aos outros feliz e próspero ano novo. Com a queda de Napoleão, restabelece-se a paz e a independência.

Esperam trabalhar e desfrutar da agricultura, indústria e comércio. Mas se iludem.

A série negra de calamidades prossegue. 1816 será um ano terrível, um ano de miséria, de fome e de mortes.

Terminada a guerra, os ingleses vendem na Europa máquinas e produtos baratos. Essa política comercial arruína a indústria helvética. Os salários caem, o desemprego aumenta. A miséria se instala na mesa do operário e do artesão. E falta dinheiro para comprar o pão de cada dia que não demora faltar.

Acresce à crise econômica uma grave crise alimentar. Mesmo a terra pára de produzir. Em 1816. O Sol faz greve por causa de catástrofe ecológica na Ásia. O despertar de Tomboro, vulcão indonésio transtorna o clima na Europa. Chuva e frio prevalecem sobre a luz e o calor. Nos pastos ele montanha, a neve impede a alimentação do gado. Inundações de lagos e riachos destroem as lavouras. A vegetação deixa de crescer. Os camponeses podem passear pelos trigais sela provocar estragos. AS colheitas são poucas e de má qualidade. Surge o medo da fome. Os padres e pastores falam de castigo divino. Nas igrejas e nos templos, os fiéis recitam graves e comoventes Pai-nossos para que o sol brilhe e se afaste o perigo do fim do mundo.

As autoridades gastam fortunas para comprar trigo, arroz e lentilhas no exterior. Publicam receitas de pão de lentilhas e de batata. Distribuem sopas aos indigentes nas cidades e vilarejos. A fome domina principalmente no Leste da Suíça. Essa desgraça rompe destinos e básicos laços sociais. Homens deixam a família e alistam-se conto soldados nos regimentos da França. Mães se jogam nos rios e riachos para não ouvir os gritos de seus filhos famintos. Pais obrigam os filhos a vagabundear e mendigar o sustento.

Os arquivos mostram outras tragédias. Gente contendo carniça ou pastando ao lado de vacas e cavalos. Milhares de mendigos andam por prados e florestas procurando urtigas ou raízes. E a morte não perdoa. Debilitados pelas carências alimentares e sofrimentos físicos, homens e mulheres não resistem à agressão das bactérias e do desespero, adoecem e morrem. Outros tentam ainda em um último gesto de vida: fugir para a Holanda e embarcar para os Estados Unidos.

A esperança se chama Brasil

No início do Século XIX, tanto a Europa quanto os Europeus viam dois pontos de grande futuro no mundo: a república protestante dos Estados Unidos e o reino católico do Brasil.

Com Dom João VI, o Brasil se lança em audaciosa política de desenvolvimento econômico e de transformações sociais. Descrente das minas de ouro e de prata, o novo soberano confia nas promessas da agricultura. Para povoar as terras brasileiras, o monarca quer homens livres e não escravos. Ele sabe que o sistema escravista está condenado a médio e longo prazos.

A Suíça, terra de emigração sonha com a América. Mas o sonho americano divide uma Confederação atormentada pela penúria e a fome. A católica Friburgo toma iniciativa audaciosa em 1817. Ela opta pelo Rio de Janeiro levando a melhor sobre os partidários de um vigésimo terceiro cantão nos Estados Unidos. Em outubro de 1817, o diplomata friburguense, Sébastien-Nicolas Gachet, negocia no Rio uma emigração de suíços para o Brasil. E apresenta projeto grandioso: a instalação de duas mil pessoas por ano. Essa Quinta Suíça se situaria no Sul do País, em terras de clima temperado e próximas do mar, mais precisamente na região de Curitiba. Ela se dedicaria à pecuária e à metalurgia.

O Brasil entra em acordo e adula o diplomata de Friburgo que participa das festas da coroação. O rei torna-se até padrinho da filha de Gachet, Marie-Thérêse. Mas, prudente, o Brasil procede de início a uma experiência.

Em 11 de maio, o diplomata suíço assina no Rio um tratado de colonização. O Brasil aceita financiar a emigração de 100 famílias. Uma das cláusulas do tratado é que todos os emigrantes devam ser católicos romanos. A primeira colônia se situará no distrito de Cantagallo, precisamente nas terras do Morro-queimado, a 847 metros de altitude. Gachet visita o lugar e aprova a escolha. A região lhe parece adaptada à pecuária. Mas como confia ao embaixador da França no Rio de Janeiro, ele espera também cultivar a vinha. Gachet viu então nessas florestas tropicais um paraíso para o leite, o queijo e o vinho. Para atrair os suíços a seu reino, Dom João VI oferece condições vantajosas: isenção de impostos durante 10 anos e generosos subsídios durante dois anos. O artigo XI do tratado acaba sendo a carta de fundação de uma cidade: “A cidade será a capital e o centro de sua administração … Sua Majestade, pela sua benevolência, lhe deu o nome de Nova Friburgo.”

Março de 1808 : a Corte de Portugal instala-se no Rio de Janeiro e abre o Brasil ao mundo.

18 de maio de 1817: Sébastien-Nicolas Gachet. encarregado da missão. pelo Governo friburguense. parte para o Rio de Janeiro a fim de negociar a criação de uma colônia suíça. no Brasil.

2 de maio de 1818: Dom João VI reconhece a neutralidade helvética e nomeia Jean-Baptiste Brémond. Cônsul Geral de Portugal e do Brasil. na Suíça.

16 de maio de 1818 : Dom João VI ratifica o tratado de colonização.

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